O crédito ecológico do Sul
18/10/2004
- Opinión
O que os países desenvolvidos devem pagar em troca dos recursos
ecológicos por eles utilizados transforma os países do Sul de
endividados para credores. Começar a pagar esta dívida é uma
questão de mudar o estilo de vida do Norte.
Amsterdam – No Canadá, dois cientistas desenvolveram o conceito
de "pegadas ecológicas", ou seja, um instrumento de medir a
superfície em equitares que um indivíduo ou país está ocupando
de acordo com seu estilo de vida. Isso inclui o lugar que você
precisa para viver, para a produção do seu alimento, para a
exploração da energia etc. Os pesquisadores concluíram que 1,7
hectare é suficiente para que cada pessoa no planeta viva bem.
No entanto, os países do Norte usam muito mais do que a justa
divisão da Terra. Na Europa, por exemplo, a pegada ecológica de
cada pessoa é de, em média, cinco hectares. Na Bélgica a média
é de 6,7 e nos Estados Unidos chega a 9,7 hectare por pessoa.
Com base nestes números, os expositores do debate sobre a dívida
ecológica, durante o IV Seminário Internacional sobre débito e
lei, chegaram a conclusão de que o que os países desenvolvidos
precisam pagar em troca dos recursos ecológicos mostra que os
países do Sul são credores e não devedores.
O físico indiano Vinod Raina, mostrou ainda os números do
consumo de carbono no mundo. A média necessária per capita é de
1,37 toneladas por ano. Enquanto nos Estados Unidos se consome
5,37 toneladas per capita, na Etiópia este número é de apenas
0,01 ton/capita/ano.
Raina analisou ainda os fluxos da globalização e os custos
ecológicos dos mesmos. De acordo com ele tais fluxos são
humano, capital, material e poluentes, mas que igualdade
justiça e direitos humanos são quase nulos em tais fluxos.
Leida Rijnhout, da Plataforma Flamenguista de Desenvolvimento
Sustentável (VODO) propõe que a Bélgica e os demais países do
norte mudem seus padrões de consumo e produção. "Muitas pessoas
dizem que somos idealistas em pensarmos que podemos mudar o
mundo, mas estou convencida de que idealista é quem acredita
que podemos continuar com o estilo de vida europeu. Nós vamos
precisar de pelo menos três planetas para isso, sem contar com
os conflitos sociais e ecológicos que são causados no Sul".
Rijnhout disse ainda que o conceito de dívidas ecológicas é
recente na Europa (cerca de 10 anos) e o conceito ainda não
está bem definido. No próximo ano, a VODO irá promover um
Tribunal Internacional sobre tais dívidas.
Para Raina, se faz necessário pensar em mecanismos de reparações
para cancelar as dívidas dos países da África, América Latina e
Ásia através do reconhecimento da dívida ecólogica pela ONU ou
Comunidade Européia, além de se criarem leis e políticas
específicas para tal, já que o meio ambiente é a base para o
mundo, também para a economia global.
Seminário
O título do IV Seminário Internacional sobre débito e lei é
"Idéias e possíveis ações para a construção de uma ordem
internacional alternativa". Com a participação de
representantes de movimentos sociais e juristas da América
Latina, Europa, África e Ásia, o evento, que está sendo
organizado pelo CADTM, começou nesta segunda-feira, 18 de
outubro e termina em 20 de outubro Em Amsterdã, Países Baixos. O
Seminário começou com uma análise histórica, feita pelo
professor de Direito Internacional de Mali, Amadou Diarra,
desde Bandoeng até a criação da OMC, mostrando as
transformações nas relações de poder, a arquitetura
institucional internacional e a lei. Em seguida, o cientista
político e presidente do Comitê pela Anulação da Dívida do
Terceiro Mundo Eric Toussaint, tratou dos diferentes modelos de
desenvolvimento promovidos pelo Banco Mundial e a evolução da
CNUCED (Conferência das Nações Unidas sobre o comércio e o
desenvolvimento).
https://www.alainet.org/pt/articulo/110738
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