Mercosul: avançar ou capitular
07/07/2004
- Opinión
As experiências históricas em que aliados brigam e abrem caminho
para o triunfo do inimigo comum são muitas. Basta citar a mais
trágica de todas – como a exacerbação dos conflitos entre a
social democracia e os comunistas na Alemanha, facilitou o
caminho de ascensão de Hitler, que esmagou a ambos, além de tudo
o mais que seu regime de terror arrasou.
O Brasil e a Argentina, dirigidos por FHC e Menem, enfraqueceram
o Mercosul ao limite da sua quase desaparição, ao sabor dos
conflitos setoriais e das diferentes políticas cambiais. Méritos
dos governos de Lula e de Kirchner são a retomada do Mercosul,
sua ampliação e reforçamento.
Porém, os conflitos corporativos não deixam de existir e agora
ameaçam de novo o Mercosul, neste momento no limite de facilitar
o triunfo da Alca. Quem olhe a forma irresponsável com que, de
lado a lado, são administrados – ou não o são – esses conflitos,
fica crendo que existem sabotadores dentro dos dois governos – e
das elites dos dois paises – que na realidade o que privilegiam
é a defesa dos seus lucros corporativos e que na realidade
desejam a Alca e não o Mercosul. Seus interesses reduzem o
Mercosul a uma disputa pequena de mercados setoriais, sem a
visão estratégica do que a integração da América do Sul
significa e do que poderia significar, ao contrário, o triunfo
da Alca.
O tempo corre contra o Mercosul. Quem quer que seja eleito
presidente dos EUA em novembro, retomará a ofensiva pela Alca,
abandonada neste momento porque nenhum deles quer ceder votos
que disputam palmo a palmo, concedendo pedaços do seu mercado
interno. Mas voltarão firmes à carga no começo do ano que vem.
Os destinos do Mercosul dependerão de quanto se tenha avançado
neste ano, para enfrentar essa ofensiva com força e capacidade
de resistência. Os conflitos atuais sabotam o Mercosul e abrem
caminho para a Alca.
A única forma de garantir a consolidação do Mercosul é avançar
rapidamente para a construção do Parlamento do Mercosul e da sua
moeda única, ainda este ano. De outra forma, o Mercosul – e, com
ele, o futuro dos países do continente – ficará ao sabor dos
conflitos corporativos da busca imediata de lucros e dará lugar
ao que parecem desejar os que se comportam assim – não o
Mercosul, mas a Alca. Lula e Kirchner têm que tomar para si as
responsabilidades do Mercosul, dar um basta a esses conflitos e
avançar na construção do Mercosul político, institucional,
financeiro, social, cultural, educacional, esportivo,
informativo. Do contrário, retrocederemos aos tristes tempos de
FHC e Menem, que levaram o Mercosul à beira da desaparição e
prepararam, como quinta colunas, o terreno para a Alca.
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