Ou o guerreiro de civilizações ataca de novo, Ou a culpa é dos mexicanos

"O pecado mora ao lado"

18/03/2003
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Samuel Huntington, o triste autor de "O conflito de civilizações", ataca de novo. Desta vez para diagnosticas os riscos que correm os EUA – chamado por eles de "América" e quanto mais fechada a pronúncia do "e", pior o gringo – diante de uma guerra específica de civilizações, originária na fronteira sul da grande potência imperial. Em "O desafio hispânico", seu novo trabalho, ele começa com sua visão da construção da nação norte-americana, pelos pioneiros de origem inglesa, com língua inglesa, raça branca, religião protestante. A identidade original do país se basearia em critérios de raça, de etnia, de cultura, de língua e de religião. Posteriormente, os valores do liberalismo deram um toque ideológico mais marcado a essa identidade. Levas posteriores de imigrantes mudando essas identidades originais. Os alemães, escandinavos e irlandeses, no final do século XIX, mudaram a identidade protestante para a cristã. No final da segunda guerra mundial a chegada de imigrantes do sul e do leste europeu tirou a raça e a etnia daquela lista. Restaram, de qualquer maneira, o idioma inglês, o cristianismo, o espírito religioso, o conceito inglês de lei, os valores protestantes do individualismo. As transformações das últimas décadas teriam colocado em questão essa identidade, especialmente a partir da imigração mexicana. Os EUA estariam em risco de ser um país de duas culturas e dois idiomas? Esta a preocupação central de Huntington. Os riscos da imigração mexicana, que a diferenciam de todas as outras, viriam de seis características: a contigüidade, a escala, a ilegalidade, a concentração regional, a persistência e a presença histórica. A contigüidade é um fenômeno único no mundo. Em nenhuma outra fronteira se limita o primeiro e o terceiro mundos. Nenhuma fronteira separa dois povos com níveis de vida tão diferentes. O fato de vir do sul, diferencia também a imagem tradicional da chegada dos imigrantes, que historicamente eram saudados pela Estátua da Liberdade e não por policiais armados, prontos para atirar. A escala da imigração faz dos mexicanos, de longe, os estrangeiros que mais crescem nos EUA. Dentre eles, a proporção de ilegais é enorme. Eles se concentram fortemente, em particular na Califórnia. A persistência dessa imigração é enorme e a presença histórica dos mexicanos na trajetória dos EUA é óbvia, principalmente desde a expropriação de metade do território do México pelo gigante do norte, no século XIX. O risco dessa presença seria ainda maior, porque sendo muitos, não se preocupam em ser assimilados, em abandonar seu idioma e falar o inglês, além de não incorporarem os valores norte-americanos. Huntington diz que os mexicanos não valorizam a educação para ascender na vida, falta-lhes iniciativa, cultuam a pobreza, como forma de ter acesso ao reino dos céus. O risco dessa "invasão bárbara" seria o de fim dos EUA como ele foi conhecida por eles nos últimos três séculos, segundo a concepção racista e discriminatória de Huntington, confirmando como aquele país necessita de "bodes expiatórios" para não encarar seus problemas. Ele acena com o risco de "miamização" dos EUA, porém muito pior, porque os cubanos da Flórida repudiariam seu país de origem e adeririam aos valores yankees, enquanto os mexicanos insistem em reafirmar suas identidades originais. Concepções como essa acompanham e ajudam a intensificar o clima de repressão e de discriminação contra os estrangeiros e os latino- americanos em particular. Huntington acena com a hipótese de suspender totalmente a entrada de mexicanos e promete que isso elevaria o nível de vida dos pobres norte-americanos, reforçaria a identidade lingüística, cultural e religiosa, diminuiria os custos dos serviços sociais do Estado. Em suma, os norte-americanos seriam mais felizes sem o resto do mundo, apesar de suas corporações explorarem trabalhadores de uma quantidade cada vez maior de países.
https://www.alainet.org/pt/articulo/109618
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