Que outro mundo é possível?
13/01/2003
- Opinión
O primeiro Fórum foi quase um milagre. Quando foi aberto, contabilizaram-
se pessoas chegadas de 122 países. Tinha sido convocado para reunir os
descontentes com a globazação neoliberal, aqueles que desde o grito de
Chiapas emitido pelos zapatistas em 1994, passando pelas manifestações
desatadas a partir de Seattle. A reunião de janeiro de 2000 em Porto
Alegre atraiu parte importante dos que se opõem ao mundo realmente
existente mas, principalmente, demonstrou que a heterogeneidade dos
movimentos não impedia um denominador comum fundamental: o de que "o
mundo não está à venda", isto é, contra a mercantilização do mundo,
promovida pelo capitalismo na sua fase neoliberal.
Antes que se realizasse o segundo, houve os atentados de setembro de 2001
e uma dos grandes jornais do establishment econômico apressou-se em
titular um de seus editoriais com: "Adeus Porto Alegre". Toda oposição à
ordem yankee seria criminalizada, associada a Bin Laden e ao terrorismo.
Pudemos incorporar, ainda que em programação paralela, o tema da paz e da
guerra no mundo, levando a Chomsky como a grande presença do Fórum,
ampliamos a participação de 20 para 60 mil pessoas, porém não avançamos
nas alternativas globais, seguimos acumulando soluções setoriais e
locais.
A imprensa - como sempre, impressionista – consignou o sucesso dos Foros,
se deu conta que as grandes reflexões da humanidade na entrada do novo
século estão em Porto Alegre e não em Davos, o privilégio do social foi
acumulando pontos diante do economicismo neoliberal. Porém a preocupação
da grande mídia era "se o PT se valia do Fórum politicamente", sem se dar
conta que o grande problema não é esse, mas o da elaboração de grandes
alternativas sintéticas para o novo mundo que se quer construir. Não
basta dizer que esse mundo novo é possível, é preciso apontar suas
características e as vias pelas quais se avança na sua construção.
O fato de ter um comitê de organização inicial – agora chamado de
secretariado, sem mudar suas características – com predomínio de ONGs –
algumas representativas, outras não -, limita a visão política da
construção das alternativas. Essas ONGs se abrigam na visão limitada de
que o Fórum deveria reunir entidades da "sociedade civil", sem se dar
conta do caráter liberal e neoliberal desse conceito, que exclui o
Estado, os governos, as forças políticas e, com elas, as temáticas
políticas de poder, incapacitando-se assim para colocar o tema de uma
hegemonia alternativa, que inclui à "sociedade civil" e ao Estado, numa
totalidade única.
Para o terceiro Fórum conseguimos pautar cinco grandes temas, buscando
superar a limitada concepção do "pensar global e agir local", típica das
ONGs – que tantas vezes, mais ainda num período de chegada da esquerda
aos governos, são neo-governamentais. Deles, três conseguiram manter seu
caráter sintético – o de comércio internacional, o de democratização dos
meios de comunicação e o paz e guerra mundo. Os outros foram muito
subdivididos, reproduzindo de alguma forma a fragmentação temática dos
Foros anteriores. Além disso, esses painéis, deslocados para o cais do
porto e, ao contrário da decisão inicial, composto por muito panelistas –
às vezes até 8, com dez minutos de intervenção para cada um – e com pouca
presença de gente para ajudar a refletir sobre as experiências e os
problemas – por conta do estreito critério de quem é ou não membro da
"sociedade civil" -, podem perder muito de sua riqueza de reflexão
estratégica.
Eles contarão com a concorrência – até porque realizadas no mesmo horário
– das grandes conferências, das mesas de controvérsia e dos testemunhos,
que se realizarão no Gigantinho – ginásio para 15 mil pessoas, com
tradução simultânea – de manhã e de tarde. Enquanto isso a PUC ficará com
as atividades administrativas e os seminários e oficinas.
O próximo Fórum, conforme decisão do Conselho Internacional de janeiro do
ano passado, deverá se realizar na Índia, retornando posteriormente a
Porto Alegre. Isto pode permitir uma internacionalização de que o Fórum
segue se ressentindo, inclusive porque a participação nos painéis tem que
ser auto-financiada, o que restringe a incorporação de movimentos da
África e da Ásia, elemento que pode ser superado com o deslocado da sede
do Fórum.
O balanço das propostas estratégicas para um outro mundo possível será o
termômetro real dos avanços do Fórum, além da sua indispensável
democratização, o que significa passar o poder real para o Conselho
Internacional, que deverá ter uma coordenação própria, composta pelas
redes que participam do Conselho e secretariados a nível nacional,
conforme a sede do Fórum.
https://www.alainet.org/pt/articulo/106832
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