Comer insetos para acabar com a fome?
20/05/2013
- Opinión
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicou na semana passada um relatório que causou certo alvoroço: “Insectos comestibles. Perspectivas de futuro para la seguridad alimentaria y la alimentación”, onde recomenda o consumo de insetos para dar de comer a um número cada vez maior de pessoas. Porém, acabar com a fome no mundo passa por começar a consumir insetos ou tornar accessível a comida às pessoas? Acho mais plausível a segunda opção.
Não tenho nada contra o consumo de "bichos”, o que, em outras latitudes está plenamente aceito. Segundo a FAO, hoje no planeta pelo menos dois milhões de pessoas ingerem regularmente escaravelhos, lagartas, abelhas, formigas, gafanhotos, lesmas e um longo etcétera. Um total de 1.900 espécies que são comidas na África, na Ásia e também na América Latina. E, segundo o mencionado relatório, têm alto conteúdo proteico, matérias graxas e minerais. Porém, para nós, a ideia de levá-los à boca nos produz nojo.
Os debates que, atualmente, giram ao redor da proposta da FAO em meios de comunicação diversos são feitos com clara visão etnocêntrica do que comemos, associando o consumo de insetos a um comportamento primitivo, como se nós tivéssemos a verdade absoluta sobre o que se pode e não se pode comer. Me pergunto: O que pensarão em outros países dos caramujos ao molho, do coelho assado, da paella, coelho com caramujos...? Creio que mais de um centro europeu não aguentaria nem dois minutos na mesa, imaginando seu coelho mascote cozido como bisteca e rodeado de moluscos babosos.
Porém, além das considerações culturais, creio que o problema da fome tem que ser abordado a partir de outra perspectiva. Não se trata, como solução mágica, de apostar na ingestão de insetos, independentemente de suas qualidades nutritivas, mas o nó da questão está em perguntar-nos como, em um mundo da abundância de alimentos, há tantas pessoas que não têm o que comer? Hoje, o problema da fome não reside na produção, mas na distribuição. Não se trata de produzir mais, ou de buscar novos produtos para comer; mas, de distribuir os que já existem e torná-los accessíveis a todos.
Segundo a FAO, atualmente, cultiva-se o suficiente para alimentar 12 bilhões de pessoas, e no planeta somos 7 bilhões. Há comida. O problema é: em mãos de quem está a comida? Os alimentos converteram-se em um instrumento de negócio por parte de umas poucas multinacionais da agroindústria que priorizam seus interesses empresariais em detrimento das necessidades alimentares das pessoas. Dessa forma, se não tens dinheiro para pagar o preço cada dia mais caro da comida ou acesso aos meios de produção, como terra, água e sementes, não comes.
Acabar com a fome passa por exigir justiça e democracia nas políticas agrícolas e alimentares. E devolver aos povos a soberania alimentar, a capacidade de decidir sobre o que e como produzir, distribuir e consumir. Antepor direitos a privilégios. E apostar em outro modelo de agricultura e alimentação: de proximidade, camponesa, agroecológica... Somente assim todo mundo poderá comer.
- Esther Vivas é autora do livro “Do campo ao prato. Os circuitos de produção e distribuição de alimentos”.
(Tradução: Adital)
https://www.alainet.org/pt/articulo/76206?language=es
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