Eleições de pontífices: As tradições do conclave
27/02/2013
- Opinión
No próximo conclave, os cardeais eleitores serão 61 europeus, 19 latino-americanos (dos quais 5 brasileiros), 14 norte-americanos, 11 africanos, 10 asiáticos e 1 da Oceania. O candidato eleito papa deve ter pelo menos 2/3 dos votos.
Esses números podem variar, dependendo da data de abertura do conclave. O cardeal alemão Walter Kasper, por exemplo, completa 80 anos a 5 de março. A Itália é o país com o maior número de eleitores, 21 cardeais.
A data do início do conclave é importante, porque a Semana Santa deste ano começa a 24 de março, dia da missa do Domingo de Ramos, seguida pela festa da Páscoa, a 31 de março.
Para se ter um novo papa antes do período litúrgico mais solene do calendário da Igreja, ele teria que ser empossado a 17 de março, devido à tradição de celebrar a missa de entronação em um domingo. Dado o prazo apertado, as especulações dão conta de que a votação teria início por volta de 10 de março.
Uma vez eleito, o novo papa deverá escolher um novo nome. Essa tradição data de 533, quando um padre chamado Mercúrio foi eleito bispo de Roma. Por se considerar que Mercúrio era um nome pagão, inadequado a um papa, ele adotou João II. Até então os papas eram simplesmente chamados por seu nome de batismo.
Bento XVI mereceu, em 2005, uma eleição rapidíssima, apenas 24 horas após o início do conclave, depois de quatro escrutínios.
No século XX, o conclave mais breve foi o que elegeu Pio XII, a 2 de março de 1939. Durou também 24 horas e três escrutínios. O mais longo elegeu Pio XI, a 6 de fevereiro de 1922, só decidido após quatro dias e 14 escrutínios.
João Paulo II, que dirigiu a Igreja Católica ao longo de 26 anos e cinco meses, foi eleito em 48 horas e oito escrutínios, a 16 de outubro de 1978. Precedeu-o João Paulo I, eleito em 24 horas e quatro escrutínios.
O pontificado mais longo da história da Igreja, à exceção do apóstolo Pedro, foi o papa Pio XI, que governou a Igreja de 1846 a 1878 – 31 anos, sete meses e 17 dias.
O primeiro conclave do século XX elegeu Pio X, hoje canonizado, em agosto de 1903, após quatro dias de votações. Também cotado como “papável”, o cardeal Mariano Rampolla, que fora secretário de Estado do papa Leão XIII, teve sua eleição vetada pelo imperador da Áustria, Francisco José I, que como monarca católico tinha o direito de intervir no conclave. Rampolla foi punido por sua política de respaldo às aspirações eslavas que fermentavam nos Balcãs. Foi a última intromissão explícita do poder civil numa eleição papal.
Pio X foi sucedido por Bento XV, eleito a 3 de setembro de 1914, após três dias e dez escrutínios. Ratzinger adotou o nome de Bento XVI em homenagem ao pastor disposto a buscar a paz durante o período em que a Europa se encarniçava na Primeira Grande Guerra. Foi sucedido por Pio XI em 1922.
João XXIII, eleito aos 77 anos, a 28 de outubro de 1958, após três dias de conclave e dez escrutínios, ocupou o papado por apenas cinco anos e promoveu uma verdadeira revolução na Igreja Católica ao convocar, de surpresa, o Concílio Vaticano II.
O período mais longo com o trono de Pedro vazio durou três anos, sete meses e um dia, entre 26 de outubro de 304 (morte do papa Marcelino) e 27 de maio de 308 (eleição do papa Marcelo I).
O costume de trancar os cardeais-eleitores “com chaves” (conclave) teve início na cidade italiana de Viterbo, em 1271. O papa Clemente IV havia morrido em 1268, e passados quase três anos nada de os 17 cardeais elegerem o sucessor. O povo de Viterbo, para apressar a decisão, retirou o telhado do local em que os prelados se reuniam e obrigou-os a se alimentar apenas de pão e água. Logo foi eleito Gregório X, que normatizou o enclausuramento do colégio cardinalício.
Agora o isolamento dos cardeais visa a evitar intromissão do poder civil e vazamento dos debates que precedem os escrutínios. Porém, com as atuais tecnologias de captação de som à distância, não é improvável uma escuta remota do conclave.
Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros.
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