Uma visão do confronto israelense-palestino: Para onde ruma o conflito estratégico?
Trata-se de um conflito entre sionistas e palestinos que eclodiu no final do século 19 e que foi sugado no século 20 pela dinâmica da guerra fria, que continuou seu curso devido à necessidade dos Estados Unidos de terem um estratégico “porta-aviões” na região.
- Análisis
O conflito entre Israel e a Palestina chegou, antes da decretação do cessar-fogo, a níveis nunca alcançados em muitos anos. Os meios transnacionais de informação alegam que a escalada ocorreu devido à indignação dos palestinos ao que consideram um inaceitável cerceamento de seus já violados direitos e às limitações impostas por Israel em Al Quds durante o Ramadã, que tiveram continuidade com ameaça de despejos no bairro árabe de Sheikh Jarrah. É provável que esses fatos foram o deflagrador da explosão social, mas alguém acredita que eles são o pano de fundo do conflito em sua etapa atual?
Até a vigência do cessar-fogo, os ataques israelenses em Gaza deixaram pelo menos 243 palestinos mortos, entre eles 100 mulheres e crianças, e mais de 1.000 feridos, enquanto que entre os israelenses ao menos 12 pessoas foram mortas, incluindo duas crianças, e dezenas ficaram feridas. Algum analista militar pode explicar um conflito no qual de 243 mortos, 66 sejam crianças, ou seja mais de 28%? E que mais de 95% sejam de apenas um dos lados?
Certamente, a resposta a essas perguntas não pode ser encontrada em uma análise de conjuntura, nem a partir de critérios militares. Do meu ponto de vista, é preciso buscar uma sustentação política que explique a dramática decisão do povo palestino de enfrentar o militarmente poderoso Israel. Ainda assim, é necessário entender a posição de Israel e seu papel como agente principal da inserção geopolítica dos Estados Unidos na região, utilizando para isso uma ideologia racista, excludente e supremacista.
Não vamos explicar aqui –até porque já o fizemos em outras obras e porque ocuparia muito espaço- os antecedentes históricos das diferenças entre judeus e muçulmanos, sobretudo por serem de origem bíblica. Mas é importante deixar claro que o que temos hoje não é um problema entre judeus e muçulmanos, nem entre judeus e árabes. O que ocorre é a resistência de um povo à subjugação imposta por parte de uma camarilha, que tenta implantar o sionismo como uma doutrina que expressaria os sentimentos do povo judeu.
Trata-se de um conflito entre sionistas e palestinos que eclodiu no final do século 19 e que foi sugado no século 20 pela dinâmica da guerra fria - pelo interesse das grandes potências - e que, desaparecida a União Soviética, continuou seu curso devido à necessidade dos Estados Unidos de terem um estratégico “porta-aviões” na região que é a maior compradora de armas do mundo e que possui a maior quantidade de reservas de energia... tudo isso independentemente dos desejos, das decisões, sentimentos e razões do povo palestino. Vale dizer que judeus e árabes viveram juntos e pacificamente naquela região por muitos séculos.
No contexto atual, o conflito tem várias dimensões. Uma delas é a político-social que se manifesta pela fragilidade de vários atores-chave. Em primeiro lugar, a impotência dos Estados Unidos (principal protagonista na disputa) no esforço de manutenção do status quo na região. Além dos problemas internos deixados pelo governo Trump - um país socialmente polarizado e sofrendo uma grave crise econômica e de saúde -, Washington enfrenta o crescente prestígio da China e da Rússia no cenário internacional.
Da mesma forma, não tem conseguido conter a influência progressista do Eixo da Resistência liderado pelo Irã no Oriente Médio, ao mesmo tempo que perde autoridade e capacidade de assistência não militar na Ásia e na África. Mesmo na América Latina e no Caribe, tidos como seu “quintal”, além da resistência de Cuba, Nicarágua e Venezuela, os EUA assistem com aparente indiferença uma rebelião antineoliberal. Outros de seus porta-aviões, Colômbia e Chile, estão fazendo água diante do levante de seus povos, ao mesmo tempo que dois dos três maiores países, México e Argentina, apostam na integração potencializadora da região.
No caso do Oriente Médio e da África muçulmana, os Estados Unidos têm apostado na normalização das relações entre sionistas e regimes autoritários, quase todos monarquistas, a fim de proporcionar espaço de manobra que tem sido usado pelo regime de Tel Aviv para se voltar ao extermínio do povo palestino como forma de se apoderar de mais território e estabelecer assentamentos ilegais em terras usurpadas.
No fundo, o que se manifesta é a crescente fraqueza interna do Estado sionista. Na frente política, a necessidade do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de se manter a qualquer custo no poder produziu uma administração instável, que não consegue oferecer governabilidade nem paz para seus cidadãos.
Até Avigdor Lieberman, ex-chanceler e ex-aliado de Netanyahu, questionou de uma posição ainda mais extremista a fraqueza de Israel diante das recentes ações de grupos de resistência palestinos contra os territórios ocupados. O ex-ministro levantou o fantasma de um possível conflito com o Irã e/ou com o Hezbollah libanês. Em entrevista ao canal 12 da televisão israelense, Lieberman advertiu que “... no mundo árabe eles nos olham e perguntam a si mesmos que se vivemos essa situação contra o Hamas, qual seria a situação de Israel num confronto contra o Hezbollah e o Irã? ”.
Desta forma, Lieberman (que também foi ministro da Defesa) questionou a capacidade de Israel de enfrentar com sucesso uma guerra simultânea em várias frentes caso uma grande coalizão muçulmana fosse formada para apoiar os palestinos. Igualmente, a situação mostrava o absurdo - segundo ele - de submeter Israel a tal teste apenas para que Netanyahu permanecesse no poder e evitasse ir para a cadeia pelas dezenas de casos de corrupção pelos quais está sendo investigado. No final das contas, existe a ideia subjacente de que a agressão ao povo palestino responde apenas a interesses de ordem interna. Lieberman disse isso abertamente: "O objetivo estratégico do conflito atual é melhorar a popularidade de Netanyahu entre o público israelense para nos arrastar para uma quinta eleição", insinuando que é ele que pode formar um gabinete que acabe com a paralisia política que enfrenta a administração sionista desde 2019.
A isso se somam as fortes contradições entre Netanyahu e o bloco ortodoxo judaico que, em troca de apoio, apresenta demandas cada vez mais inaceitáveis, como não pagar impostos e não servir no exército, frear e até paralisar a modernização de Israel, o que contribui para seu enfraquecimento.
Outra expressão da falta de ânimo do país se manifesta dentro do exército, cada vez mais relutante em se envolver no genocídio do povo palestino. Além dos muitos militares que se recusam a cumprir o serviço militar, desertam e até fogem do país, deve-se acrescentar que esse desânimo ganha corpo entre oficiais que observam que não têm mais a superioridade bélica de outrora, e que o poderio militar das organizações palestinas está aumentando e pode colocar em xeque o aparato militar sionista.
Em entrevista à agência turca Anadolu, o ex-piloto da Força Aérea israelense Yonatan Shapira, dispensado em 2003 e que hoje vive exilado na Noruega, classificou o governo israelense e os comandantes do Exército de "criminosos de guerra". Shapira lançou uma campanha que encorajou outros militares israelenses a renunciarem devido a diferenças de opinião com as políticas do país. Como resultado da campanha, afirma ele, "27 pilotos militares pediram demissão de seus cargos na Força Aérea de Israel desde 2003". O ex-piloto relatou que “quando você é uma criança em Israel, você é educado de forma militarista e sionista. Você não sabe quase nada sobre a Palestina, você não sabe sobre a Nakba de 1948, você não sabe sobre a opressão em curso ”. Somos enviados apenas para "lançar mísseis e bombas no centro das cidades palestinas". Shapira diz que percebeu que suas ações eram atos terroristas e que a ocupação da Palestina é um crime de guerra. Segundo ele, muitos oficiais das forças armadas não estão mais dispostos a participar disso.
Da mesma forma, Gonen Ben Yitzhak, um ex-oficial da agência de inteligência israelense "Shin Bet", em uma entrevista ao hebraico Channel 13, admitiu que "o estado de ocupação fracassou no atual confronto com a resistência palestina", e anteveu que: "Faça o que fizermos, desta vez não haverá vitória, fomos derrotados."
Também, o comandante do setor oriental no sul do Líbano, Kobi Marom, afirmou que o exército israelense "não tem capacidade de derrotar o Hamas e não pode fazê-lo do ar". A opinião geral de muitos oficiais militares de alto escalão é que eles mais uma vez destruíram Gaza e massacraram seu povo, mas não foram capazes de derrotá-los.
Por seu lado, o analista político Shimon Scheffer, do jornal israelense Yediot Aharonot, escreveu: “A verdade deve ser dita: mesmo depois que a Força Aérea destruiu toda Gaza, não conseguimos derrubar o regime do Hamas. Mesmo depois que o cessar-fogo for anunciado, os foguetes continuarão sendo disparados por mais uma hora. Como no passado, podemos ganhar alguns momentos de tranquilidade até a próxima rodada de luta.”
Na quarta-feira, 19, quatro foguetes foram disparados do Líbano em direção a áreas próximas a Haifa e Haakriot, no norte de Israel, o que poderia ter causado uma dura resposta sionista. Entretanto, como comentou o analista militar do Canal 13 de Israel, Alon Ben David: “Não estamos em posição de iniciar um incidente lá. Você tem que entender o que aconteceu, pensar bem e então tomar decisões. Presumo que isso seja o que eles farão. Você não deve ter pressa em responder imediatamente a tal incidente. " Ben David, que foi repórter militar durante a primeira intifada, opinou que “fomos dissuadidos de enfrentar o Hezbollah por quase 15 anos. Israel não tem interesse em entrar em uma batalha com o Líbano agora, porque a maioria das forças regulares e do sistema de defesa aérea estão no sul, além da falta de munição ". Ele acrescentou pesaroso que:" Não podemos fazer nada no norte, enquanto a maior parte do exército regular e do sistema de defesa aérea estão no sul "
O poder militar de Israel se fracionou. Há hoje um claro declínio de sua capacidade militar, enquanto desde 2006 a resistência árabe se prepara, aprimorando suas armas e sua capacidade de combate. Os palestinos conseguiram desta vez paralisar aeroportos, portos e comércio em Israel, o que nunca havia acontecido antes.
Neste contexto, o gabinete israelense se reuniu no último domingo, 16, em meio “à profunda preocupação” com uma escalada em várias frentes enquanto persistem “os confrontos em Gaza", escreveu o jornal Israel Hayom. A imprensa afirma que os órgãos de segurança do regime sionista consideram que os bombardeios aéreos são um recurso superado e que a única solução possível seria uma invasão terrestre, o que lançaria o conflito num patamar de consequências incalculáveis.
Por isso, altos funcionários defenderam que Israel mudasse de posição e aceitasse um cessar-fogo. De acordo com o canal de televisão libanês Al Mayadeen, no domingo, 16, destacado político israelense informava ao analista Barak Rafid que "um movimento na posição israelense em relação ao cessar-fogo e o fim da operação" começaria a ser estudado.
Um terceiro aspecto da questão tem a ver com a fraqueza do Conselho de Cooperação do Golfo, formado pelas monarquias árabes do Golfo Pérsico e tendo a Arábia Saudita na liderança do mundo árabe e muçulmano. A debilidade se manifesta, entre outras coisas, pela incapacidade da aliança formada entre a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos de tornar vitoriosa a invasão do Iêmen. Na realidade, o que ocorre é uma divisão profunda entre os dois sobre a condução da guerra. Enquanto isso, os avanços militares, diplomáticos e políticos dos rebeldes hutis no Iêmen são constantes.
Isso significa que a rota marítima petrolífera do Golfo Pérsico, Golfo de Aden e parte do mar Vermelho está sob vigilância do Irã e de seu aliado Iêmen, o que se provou com a impossibilidade de navios estadunidenses e sionistas de agirem ao bel-prazer nas proximidades das águas territoriais iranianas. Além disso, do ponto de vista estratégico, o controle do Irã sobre aquela importante rota marítima comercial coloca uma espada de Dâmocles sobre os países petrolíferos árabes que fazem fronteira com o Golfo Pérsico, no caso de eclodir uma guerra na região.
Por outro lado, a fraqueza desses países, atores relevantes no conflito israelense-palestino, começou a provocar uma mudança na correlação de forças regional e transformações inesperadas nas relações entre os atores em luta. Assim, a aliança estratégica Arábia Saudita-Egito (um dos eixos da política regional) está dando lugar a uma coalizão impensável entre os antigos inimigos Egito e Turquia, o que aumentaria em muito a capacidade da resistência palestina.
Na mesma dimensão, ou até em um patamar superior, devemos colocar a aproximação entre a Arábia Saudita e o Irã, duas grandes potências regionais situadas nos lados opostos do Islã, o sunita e o xiita, respectivamente, que se colocam em posições antagônicas na política regional, mas que hoje participam de um promisor diálogo que aponta para a possibilidade de fortalecer os processos na região, em primeiro lugar o apoio à causa palestina.
Toda essa conjuntura produz grande influência nos povos árabes e muçulmanos, principalmente em relação ao papel que o Irã e o Eixo de Resistência podem desempenhar na intensificação do conflito estratégico com os Estados Unidos e Israel, seu representante na região. Os Estados Unidos apostaram na normalização das relações entre os países árabes e Israel, o que seria muito perigoso para a causa palestina.
Os povos dos países que normalizaram suas relações com Israel começaram a perguntar o que teria acontecido para que o antigo inimigo agora se torna-se um amigo? Como os governos desses países podem convencer seu povo, com respostas confiáveis e aceitáveis, que a situação mudou? Em lado oposto está a população dos países que resistem. O Iêmen garante estar saindo vitorioso de sua batalha contra os invasores, graças ao Irã; o Líbano acredita que pode resistir à pressão sionista, graças ao Irã; a Síria evitou a derrubada de seu governo e alcançou uma vitória quase total contra organizações terroristas, com o apoio do Irã; o Iraque ousou defender unanimente a retirada dos Estados Unidos do país, graças à aliança estratégica que estabeleceu com o Irã. E estamos falando de um país perseguido, atacado, sob sanções e sabotado, e que ainda assim conseguiu influenciar positivamente a vontade dos povos de resistir e lutar… mas faltava a Palestina.
É importante lembrar que a reação palestina às ações agressivas de Israel ocorreu na quinta-feira, 6 de maio, véspera da última sexta-feira do Ramadã, quando se comemora o Dia Internacional de Al Quds, e que esta celebração teve início em 1979. Agora globalmente aceita, foi uma iniciativa do aiatolá Khomeini no Irã como uma manifestação de solidariedade ao povo palestino e oposição ao sionismo e ao controle israelense de Jerusalém.
Não é segredo para ninguém que nem os palestinos nem os muçulmanos renunciaram à recuperação da cidade sagrada de Al Quds, como a ela se referem os árabes, a Jerusalém para os judeus e cristãos. Israel quer instalar sua capital na cidade. Essa questão-chave só pode ser "resolvida" por meio de uma grande guerra, caso não sejam cumpridas as resoluções das Nações Unidas e não se respeite os acordos internacionais que permitem uma solução pacífica para o conflito. O principal obstáculo é o sionismo.
Os acontecimentos recentes expressam a preparação dos palestinianos e dos povos árabes para essa grande guerra, cujos únicos responsáveis - se ocorrer - serão os Estados Unidos e o regime sionista. Os últimos días testemunharam ataques com mísseis a Israel a partir de Gaza, a luta contra a ocupação pelos árabes da Cisjordânia e em cidades mistas dentro de Israel.
Da mesma forma, grandes manifestações de solidariedade de cidadãos árabes foram registradas nas fronteiras da Jordânia e do Egito com Israel, no Sinai. No Líbano, o Hezbollah declarou alerta máximo devido a provocativas manobras militares de Israel no norte do território ocupado, que resultaram na morte de um jovem libanês. Por seu lado, na Síria, as Forças Armadas e o povo estão dispostos a recuperar 1.200 km² de terras apropriadas por Israel nas Colinas de Golã em 1967 e que a ONU considera um território ocupado. Em 22 de abril, houve um ataque com mísseis da Síria contra Israel, um dos quais superou o agora bastante desprestigiado “Escudo de Ferro” israelense e caiu nas proximidades da usina nuclear de Dimona, no deserto de Negev.
Tudo isso poderia ser visto como uma preparação para a grande guerra, na qual árabes e muçulmanos acreditam ter um papel a cumprir. A situação deve ser considerada um alerta e um sinal para Israel caso pretenda preservar a si mesmo e a seu povo. Uma das consequências mais óbvias desse último confronto é que os palestinos perderam o medo e o transferiram para os israelenses, cujo governo não pode mais garantir a estabilidade e a tranquilidade que tiveram por décadas. Eles dificilmente poderão tê-las novamente no futuro. Os israelenses terão de se acostumar a viverem no âmbito de uma guerra virtual que pode explodir a qualquer momento.
O que acontecerá se os árabes, com a força acumulada até agora, decidirem retomar Al Quds? Entre os árabes, a região formada por Egito, Jordânia, Síria e Líbano é chamada de "alicate", falta apenas a Palestina para fechá-lo. Desta vez, a mobilização foi muito além do que apenas a do povo palestino.
Há pouco mais de um ano, o líder do Hezbollah libanês, Hassan Narrallah, adiantou que era possível a eclosão de uma grande guerra a fim de evitar o exterminio do povo palestino, e que seu grupo estava se preparando para ela. Ele explicou que se tratava de um cenário possível, “objetivamente falando”, mas que poderia ser evitado.
A guerra ocorreria caso os Estados Unidos, distraídos com seus jogos de guerra, se enfraquecessem internamente a ponto de perder a capacidade de influirem decisivamente em um confronto dessas dimensões, o que criaria uma situação favorável aos árabes. Israel não teria escolha a não ser "fazer as malas e partir". Narrallah concluiu que a única forma de evitar a guerra seria com a realização de um referendo consultivo para que toda a população que vive na Palestina, árabes, judeus, cristãos e não-crentes, decida como quer viver, criando uma convivência e uma atmosfera de paz que permita prosperidade e felicidade.
Tradução de Carlos Alberto Pavam
21/05/2021
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