Estão de volta os golpistas bolivianos apoiados pela OEA

 

A Bolívia é o alvo preferido do golpismo da OEA. Almagro está dando a senha para que Camacho tente avançar de novo com suas milícias, com o apoio já declarado de Bolsonaro

17/03/2021
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Golpismo da OEA na Bolívia
Foto: Lesly Moyano/ Reuters
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É bom prestar atenção no que acontece ao redor, porque tem muita coisa acontecendo. A direita boliviana, por exemplo, está avisando que, se for preciso, aplica outro golpe ou imita Bolsonaro e blefa que vai aplicar.

 

Está mais para blefe, mas a tática é manter o governo acossado. O Movimento ao Socialismo voltou ao poder com Luis Arce e reforça trancas para que não cometa os erros de 2019, quando perdeu o controle das Forças Armadas.

 

Mas prospera na Bolívia a preparação para uma paralisação nacional, liderada pelo líder da extrema direita Luis Alberto Macho Camacho.

 

É uma tentativa de revolta contra as prisões dos líderes do golpe de novembro de 2019. O tom é de rebelião e enfrentamento. Eles deram o golpe, foram derrubados em eleição um ano depois e agora ameaçam de novo.

 

O Brasil tem que ficar observando, para aprender algumas coisas. A situação na Bolívia ficou tensa desde que o Ministério Público pediu e a Justiça determinou a prisão de envolvidos no golpe que forçou Evo Morales a dizer que renunciava.

 

As ordens de prisão contra os golpistas foram expedidas no dia 12 de março. Entre civis e militares, são 13 os que devem ser mandados para a cadeia em prisões preventivas.

 

Já prenderam Jeanine Añez, a “presidente interina” pós-golpe, e os seus ministros da Justiça, Álvaro Coímbra, e da Energia, Rodrigo Guzmán.

 

Há apenas dois presos entre os sete militares que devem ser detidos, o almirante Flavio Arce e o general Jorge Mendieta Ferrufino. Eles e os outros eram do alto comando no tempo de Morales e foram absorvidos pelo golpe como mandaletes acovardados de policiais amotinados, fazendeiros, milicianos e empresários, com o patrocínio descarado da Organização dos Estados Americanos.

 

Ainda estão soltos o general da Força Aérea Jorge Gonzalo Terceros Lara, o general de Divisão Aérea Jorge Elmer Fernández Toranzo, o vice-almirante Palmiro Gonzalo Jarjury Rada, o general Williams Kaliman Romero, comandante das Forças Armadas de Morales, além do então chefe de Polícia, o também general Yuri Calderón. Todos traíram o governo de Morales.

 

Outro general, Sergio Orellana, procurado pela Justiça desde antes dos pedidos de prisão deste mês, acusado pelas mortes de mais de 30 civis em novembro de 2019, está foragido desde que viajou para a Colômbia.

 

Ninguém tenta descobrir onde eles estão, nem a imprensa. Onde foi parar Kaliman, que pediu a renúncia de Morales sob as ordens dos amotinados e da extrema direita da província de Santa Cruz de La Sierra e depois fugiu? Pra onde?

 

Agora, vamos aos problemas. O principal deles é que o agregador de forças da reação às prisões é de novo Camacho, o fascista líder do Comitê Cívico de Santa Cruz, a província dominada pelos granjeirtos, pelo latifúndio e pelo coronelismo.

 

Nas eleições de outubro, Camacho teve apenas 14% dos votos. É fraco em nível nacional, mas forte no seu reduto. E esse é agora o maior problema: ele foi eleito este mês governador da província.

 

O Creemos de Camacho deu de goleada no candidato do Movimento ao Socialismo, Mario Cronenbold, com 56% dos votos. Cronenbold teve apenas 38%.

 

Isso não quer dizer que Camacho continua sendo só líder do reduto da direita. Significa também que dificilmente ele fará parte da lista dos que devem ser presos, mesmo tendo sido o principal nome civil do golpe de 2019.

 

A juventude do MAS bloqueou estradas, pedindo a prisão de Camacho. Mas não havia como determinar que pegassem o sujeito que seria, dias depois de expedidas as ordens da Justiça, proclamado governador de Santa Cruz. Como mandar prender um golpista recém-eleito? Camacho é quem faz as reuniões para preparar a paralisação geral.

 

Jeanine Añez assumiu o governo, como segunda vice-presidente do Senado, depois do golpe, em nome de uma transição. Achava que iria se empoderar e seguir em frente, mas não conseguiu.

 

Era uma senadora medíocre, sem expressão para virar ditadora. Nem concorreu em outubro porque era quase um zero nas pesquisas. Jeanine é a boba da direita, vai ficar presa preventivamente por quatro meses. O líder é Camacho.

 

O ex-representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos na Bolívia, o canadense Denis Racicot, acha que a direita estará em preparativos permanentes para um novo golpe, mesmo que isso seja improvável hoje.

 

Eles precisam manter o país sob tensão e ameaçam marchar em direção a La paz. Se marcharem, depois de manifestações de rua da terça-feira, com muita gente, vão encontrar a resistência das forças do MAS, e aí tudo pode acontecer.

 

É disso que a extrema direita vive, com o respaldo da Luis Almagro, o secretário cara de pau da Organização dos Estados Americanos.

 

Almagro atiçou o golpe de 2019 (depois que a OEA fomentou suspeitas sobre a vitória de Morales) e emitiu agora um comunicado em que lamenta o que define como "abuso de mecanismos judiciais".

 

A OEA acha que os golpistas, que caçaram inimigos, prenderam e comandaram confrontos e mortes, estão sendo perseguidos. Tente achar um comunicado da OEA sobre os abusos de Sergio Moro no Brasil. Uma notinha que seja.

 

A Bolívia é o alvo preferido do golpismo da OEA. Almagro está dando a senha para que Camacho tente avançar de novo com suas milícias, com o apoio já declarado de Bolsonaro.

 

E nós com isso? Nós estamos aqui na nossa vidinha, discutindo se a doutora Ludhmila Hajjar tentou mesmo ser aliada incondicional de Bolsonaro e só não foi porque a família a refugou.

 

No mais, está tudo tranquilo. A intranquilidade é um problema dos bolivianos.

 

- Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre. Para o Jornalistas pela Democracia

 

17 de março de 2021

https://www.brasil247.com/blog/estao-de-volta-os-golpistas-bolivianos-apoiados-pela-oea

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/211425?language=es

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