Foro de São Paulo completa 30 anos
- Opinión
Caracas (Venezuela).- O Foro de São Paulo completou 30 anos de existência no dia 4 de julho. Para celebrar a data, foi organizado um encontro virtual entre os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, de Cuba, Miguel Díaz-Canel e da Nicarágua, Daniel Ortega, na última terça-feira, 28 de julho - aniversário do líder da Revolução Bolivariana, Hugo Chávez Frías.
O espaço foi mediado pela secretaria executiva do Foro, militante do Partido dos Trabalhadores (PT), Monica Valente. Dessa forma, as organizações fundadoras estiveram representadas, avaliando erros e acertos desse espaço de unidade de movimentos e partidos latino-americanos.
"Os governos que alcançamos mostraram ao mundo que é possível construir justiça social, inclusão, desenvolvimento e proteção ao meio ambiente, integração regional soberana. Estabelecemos a América Latina e o Caribe como uma zona de paz no mundo. Sempre com unidade em nossa diversidade e pluralidade", assegurou Valente.
Quando foi criado, as principais pautas do Foro de São Paulo eram o combate às políticas neoliberais impulsionadas pelos Estados Unidos, a redemocratização dos países que recém abandonavam as ditaduras militares, fortalecimento das lutas populares e iniciativas que contribuiriam com a chegada dos partidos de esquerda ao poder.
Três décadas depois, o balanço é de que parte desses propósitos do Foro mantém vigência, num cenário ainda mais complexo de crise do capitalismo em nível mundial.
"A batalha que está sendo liderada hoje é ainda mais brutal, porque os Estados Unidos são um país poderoso, uma potência nuclear, econômica, uma potência que pode, inclusive, submeter aos que chama 'aliados', mas que ao final de contas, perderam as fortalezas que tiveram em outros tempos", aponta o chefe de Estado nicaraguense.
Reconhecendo as adversidades do momento atual, impostas por sanções e pelo bloqueio econômico dos Estados Unidos contra Cuba e Venezuela, além da situação de crise global pela pandemia da covid-19, o presidente Nicolás Maduro destacou a importância da unidade do setor progressista.
"Esse sempre foi um fórum inclusivo, nunca excluímos ninguém, porque os setores revolucionários, de esquerda, progressistas, temos que nos caracterizar pela inclusão e pelo debate plural, democrático", disse Maduro.
Segundo o presidente venezuelano, projetos como Unasur, ALBA-TCP, Celac, Petrocaribe, Telesur não seriam possíveis sem os processos integracionistas revolucionários promovidos a partir do Foro de São Paulo - uma força democratizadora da América Latina e do Caribe.
O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, fundador e primeiro secretário geral do Foro de São Paulo, enviou uma carta saudando o espaço comemorativo. "Mais do que nunca é o momento de defendermos e recuperarmos a democracia em nossos países, bem como reivindicar o papel do Estado na defesa das pessoas e não do mercado, como está ocorrendo", afirma.
A 25ª edição do Foro foi realizada no ano passado, em Caracas, Venezuela, com a participação de cerca de 800 delegados e 150 partidos e movimentos políticos latino-americanos, europeus e africanos.
Por conta da pandemia do novo coronavírus, que já infectou 16,7 milhões de pessoas em todo o mundo e vitimou 660 mil, a celebração dos 30 anos do Foro foi online.
O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, vê na situação generalizada de crise uma oportunidade para a forças contra-hegemônicas.
"Agora está mais visível e aterradora a real, desumana essência do capital e o seu auge descontrolado sob as regras impiedosas do neoliberalismo. Os paradigmas neoliberais caíram em descrédito. Aceitam ou não os seus seguidores, a história do seu experimento econômico está por terminar ou se comprometerá ainda mais a existência humana", asseverou.
Nesse sentido, destacou a presença de 45 brigadas médicas cubanas, com 3.700 profissionais do contigente Henry Reeve, em 38 países, ajudando a combater a pandemia do novo coronavírus e dando exemplo da solidariedade e internacionalismo cubanos. Estima-se que cerca de 8 mil infectados com o sars-cov2 foram salvos pela atenção dos médicos e enfermeiros cubanos, por isso nos cinco continentes, movimentos se somam à campanha pelo prêmio Nobel da Paz à Cuba.
Julho de celebrações
O mês de julho é marcado por celebrações importantes nos três países fundadores do Foro.
Na Nicarágua, no dia 23 de julho, comemoraram 41 anos do triunfo da Revolução Sandinista, liderada por Daniel Ortega, Carlos Fonseca e Tomás Borge, da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FLSN), que terminou com as ditaduras da família Somoza, iniciadas em 1937.
Já em Cuba, nesse 26 de julho , completaram 67 anos dos assaltos ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba e Carlos Manuel de Céspedes, em Bayamo. O movimento liderado por Fidel Castro mais tarde seria o responsável por concretar a tomada do poder e dar início à revolução cubana, em 1959.
E na Venezuela, julho é o mês de aniversário do libertador da América Latina, Simon Bolivar, que no dia 24 completaria 237 anos, enquanto no dia 28 de julho, Hugo Chávez faria 66 anos.
"O que nos ensinou nosso comandante Hugo Chávez é que devemos ganhar a batalha da verdade nas ruas, redes e muros. Nós somos de verdade e vamos seguir seu legado", assegurou o presidente Maduro.
Durante a atividade o chefe de Estado venezuelano anunciou o lançamento de um compilado de boletins semanais escritos pela direção nacional do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), "Épica do Bravo Povo", como uma contribuição teórica da revolução bolivariana para o Foro de São Paulo.
História
O Foro de São Paulo é uma organização que reúne partidos políticos e organizações de esquerdas da América Latina e o Caribe. Surgiu em 1990, fruto da articulação política do líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, e do então dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva.
Os três grandes partidos da época, o Partido Comunista de Cuba (PCC), a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), da Nicarágua, e o Partido dos Trabalhadores (PT), do Brasil, lideraram a construção e os debates centrais.
O primeiro encontro ocorreu no dia 4 de julho de 1990, em São Paulo, daí a origem do nome. Essa é a origem do seu nome. Na época, foi considerado o maior evento de partidos e movimentos populares do continente americano. Nesses 30 anos foram realizados 25 edições do evento.
"Numa conversa que tive com Fidel na época, coincidimos que seria importante analisar esta nova conjuntura e seus impactos para a América Latina e o Caribe e decidimos que o PT poderia convocar um encontro de partidos e de movimentos políticos de nossa região para discutir este tema e as iniciativas que deveríamos adotar. Porém, não imaginávamos inicialmente que esse encontro de partidos e movimentos chegasse onde chegou", afirma Lula em carta.
"Há 30 anos tentavam convencer o mundo de que havia acabado a História. E aqui estamos os rebeldes, não-submissos, defensoras da esperança de outro mundo possível celebrando 30 anos de um abraço que já é história" afirmou Díaz-Canel.
Atualmente o Foro possui 121 partidos membros. Do Brasil, além do PT, participam o PDT, o PCdoB, o PCB, o PPL, o PSB e o PPS.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
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