‘Perigo amarelo’: A maioria daquilo que ouvimos sobre a China é propaganda
- Opinión
Com uma guerra comercial em curso, as tensões aumentando no Mar do Sul da China e a crescente estima do presidente Xi Jinping, a China tem sido objeto diário de uma quantidade significativa de notícias. Se você, como eu, já se submeteu a qualquer uma dessas notícias, então deixe-me ser o primeiro a dizer: sinto muito, mas você foi enganado.
Novo round de propagandas
A enxurrada de histórias de horror completamente infundadas, tendenciosas e não pesquisadas é impressionante. Contos a respeito de uma expansão militar agressiva, neocolonialismo, tortura, violações de direitos humanos e enormes sistemas de vigilância desenfreada tem ganhado as manchetes de novo e de novo. Além da óbvia hipocrisia de condenar as mesmas coisas que essas empresas de comunicação elogiam os países ocidentais por fazer,[1] o que mais preocupa nessas histórias são suas imprecisões gritantes. Para ajudar a desmascarar a sinofobia e a propaganda midiática, vamos dar uma olhada em algumas histórias que recentemente tomaram as manchetes.
“Big Data se reúne ao Big Brother com a China avançando no controle de seus cidadãos”
O sistema de crédito social da China, anunciado em 14 de junho de 2014, gerou muitas manchetes recentemente, enquanto o governo se mobiliza para implementá-lo em sua totalidade por todo o país.[2] Milhares de artigos foram escritos comparando o sistema a Black Mirror e 1984,[3] chorando pelo fato de cidadãos chineses com mau crédito social terem o acesso negado a escolas[4] e no trânsito.[5] E, de fato, essas meias verdades soam horripilantes e tirânicas. O que falta explicar, entretanto, é que o crédito social é determinado exclusivamente pelas práticas de negócios de cada cidadão.[6]
Ao contrário dos EUA, onde companhias antiéticas como a Bain Capital têm permissão para comprar, estripar e arruinar empresas antes de declarar falência por lucro, na China, maus negócios são punidos.[7] Hou Yunchun, ex-vice-diretor do Centro de Pesquisa de Desenvolvimento do Conselho de Estado, escreveu: “Se não aumentarmos o custo de uma pessoa ser descreditada, estamos encorajando pessoas descreditadas a continuarem com práticas lesivas”.
Além disso, pessoas descreditadas têm acesso total e igual a todos os serviços públicos, incluindo escolas públicas e transporte público. Elas apenas podem ser impedidas de usar opções de viagens de luxo, como voos de primeira classe e acesso a escolas particulares. Além disso, Zhi Zhenfeng, especialista legal da Academia Chinesa de Ciências Sociais, nos assegura que: “O quanto uma pessoa está restrita em termos de serviços públicos ou oportunidades de negócios deve estar de acordo com como e até que ponto ela perdeu sua credibilidade”. Pequenas transgressões só produzem pequenas punições; grandes transgressões, grandes punições. “Pessoas descreditadas merecem consequências legais”, continuou Zhi. “Este é definitivamente um passo na direção certa para construir uma sociedade com credibilidade”.
Empresas conhecidas por violarem a lei e práticas comerciais éticas também foram publicamente expostas pelo governo. Tudo isso faz parte da atual campanha anticorrupção da China.[8]
“Muçulmanos forçados a consumir álcool e comer carne de porco em campos de reeducação da China”
Omir Bekali, um uigur, uma minoria da região autônoma de Xinjiang, ganhou as manchetes em todo o mundo após sair com a história chocante e bizarra de infernais campos de reeducação, onde muçulmanos supostamente foram forçados a beber álcool e comer carne de porco.[9] Ele alega também ter sido acorrentado e espancado. Seu relato é brutal e retrata um mundo de assédio, discriminação religiosa e étnica e tortura levemente mais branda do que os métodos usados em prisioneiros na Baía de Guantánamo.[10] Sua descrição intensa e emotiva provavelmente inspiraria uma indignação internacional real se até mesmo uma única pessoa relatasse algo remotamente similar.
A história é um absurdo. Ele alega que muitos foram sequestrados, torturados e forçados a violarem o código de conduta islâmico e, no entanto, nenhuma pessoa além de Bekali relatou tanto o assédio islamofóbico por parte de autoridades chinesas em Xinjiang ou em qualquer outro lugar.
Xinjiang é o lar do Movimento Islâmico do Turquestão Oriental (MITO), um violento grupo separatista de extremistas religiosos que matou mais de 100 pessoas em vários ataques terroristas em toda a região. Extremistas islâmicos uigures foram encontrados entre as fileiras do Estado Islâmico e prometeram “fazer o sangue [chinês] jorrar nos rios, pela vontade de Deus”.[11] Esses extremistas afirmam ser oprimidos pelo governo chinês, apesar de gozarem de autonomia regional, contando com a relevante ajuda de Pequim e a política em curso da China para promover harmonia e liberdade religiosa.[12] Na China, a liberdade religiosa é protegida pela Constituição, o conteúdo anti-islâmico recentemente passou a ser banido nas redes sociais,[13] e o islamismo está passando por um renascimento.[14]
O relato de Bekali é completamente sem fundamento na realidade. Ele se contradiz diretamente em outras entrevistas, como a do Daily Mail.[15] A narrativa aqui é ainda mais estranha e fala de cânticos farsescos e juramentos de lealdade de hora em hora ao Partido Comunista. Ele deixaria o próprio Joe McCarthy envergonhado com o uso excessivo de velhos clichês anticomunistas da época da Guerra Fria. A história inteira, que foi amplamente relatada, parece ser totalmente falsa.
O que é verdade é que o PIB de Xinjiang tem crescido constantemente a uma taxa muito superior à média nacional,[16] e os membros uigures do Partido Comunista manifestaram o progressivo desejo de união entre Xinjiang e China, bem como entre as muitas etnias e religiões.[17]
“Imperador Xi Jinping: China entra em uma nova era, sob apenas um líder”
Essa tirada racista e confusa do articulista Jamie Seidel, do News.com Australia,[18] é talvez a coisa mais notoriamente orientalista que já li. Ao falar sobre a emenda à Constituição chinesa que aboliu os limites do mandato, ele sarcasticamente escreve: “A glória do Império do Meio será restaurada de novo”.[19] Ele também descreve Xi Jinping como um imperador e faz inúmeras referências à China Imperial (ou, melhor dizendo, à sua imagem da China imperial, que é tão somente um amálgama de vários estereótipos asiáticos). Isso é orientalismo. Em vez de escrever a respeito de uma nação moderna como uma nação moderna, Seidel prefere fazer piadas e reduzir a China a uma caricatura imprecisa e racista.
Esse mesmo orientalismo está espelhado em artigos da BBC e da CNN,[20][21] entre outros veículos, que falam em “herdeiros” e “imperadores”; e é especialmente evidente na constante referência à Coreia do Norte como “o reino eremita”.[22]
A realidade é que a China tem se democratizado.[23] Limites de mandatos foram adicionados à Constituição após a presidência de Deng Xiaoping para garantir que os esforços não estagnassem ou parassem durante o período de reforma econômica, assegurando que a liderança da China fique concentrada nas condições atuais, em vez de futuras eleições. Com as reformas tendo provado um sucesso objetivo e os esforços da China agora estão concentrados no movimento em direção ao socialismo, não há mais a necessidade de uma emenda tão antidemocrática e arbitrária. Muitos líderes ocidentais têm atuado por bem mais tempo com muito menos apoio, como a chanceler alemã, Ângela Merkel, que está atualmente em seu quarto mandato consecutivo.[24]
“Oito países em risco de cair na armadilha da dívida da China”
A influência chinesa no exterior tem sido questionada repetidamente, muitas vezes pelas mesmas pessoas que sempre apoiam as aventuras militares ocidentais no exterior.[25] O artigo do Quartz lamenta as dificuldades do Djibuti, Quirguistão, Laos, Maldivas, Mongólia, Montenegro, Paquistão e Tadjiquistão. É uma tragédia que eles estejam devendo à China sua infraestrutura e suas fábricas.
Esse é um testemunho da falta de vergonha e hipocrisia do repórter de Quartz, Tim Fernz, que prontamente admite que a maior base militar dos EUA na África está localizada em Djibuti, um dos países supostamente em risco de cair no “imperialismo chinês”. Ele literalmente diz isso na mesma frase em que ataca o envolvimento chinês no país. Apenas um chauvinista ocidental agressivamente ignorante poderia escrever que os aeroportos chineses são uma ameaça, mas os soldados americanos não.
Pode-se imaginar a indignação que Fernholz sentiria se a China começasse a “travar uma guerra maciça pelas sombras” na África, como os EUA vêm fazendo.[26] Alguém tem que perguntar: Fernholz está ciente disso? O grande repórter está ciente dos impostos coloniais que a França continua a impor às nações africanas que outrora colonizaram diretamente?[27] Por que, sr. Fernholz, estradas, escolas, usinas elétricas, programas de ajuda e perdão de dívidas representam o grande perigo?[28]
A lista continua…
Estes são apenas alguns casos do punhado da massiva propaganda vitriólica direcionada contra a China. E isso partindo só de empresas de comunicação privadas. A embaixada dos EUA em Pequim alegou ter sido alvo de “ataques sonoros”.[29] Essas armas inexplicáveis de ficção científica que a China supostamente usa contra os americanos soam estranhamente parecidas com as que a embaixada dos EUA afirmou ter sido atacada em Cuba, que definitivamente não passaram de completa invenção.[30]
Então, por que as mentiras e as calúnias? Por que todo o ódio? Talvez ele esteja compensando. O presidente da China, Xi Jinping, é sem dúvida um dos mais importantes estadistas do século XXI. E mais de 80% dos chineses entrevistados em pesquisas de opinião disseram que o apoiavam, tinham fé em seu governo e estavam otimistas quanto ao futuro de seu país.[31]
Por outro lado, o otimismo tem sido inexistente em toda a Europa, Canadá, Austrália e EUA. A crise de confiança no Reino Unido resultou em uma das mais longas suspensões do Parlamento na história britânica,[32] com a extremamente impopular Theresa May mal se agarrando à sua maioria. Até a monarquia está se tornando cada vez mais impopular.[33] Dois terços da população disseram que não se importavam com o casamento real, um enorme declínio desde o casamento anterior. Festas com a temática “Dane-se a realeza” aconteceram em bares em todo o país.[34]
Na Espanha, quando parte da população não está tentando se desmembrar do país, o governo está lutando para lidar com um crescente movimento trabalhista que realizou protestos em massa nos últimos 1º de maio.[35][36] Na França, os manifestantes estão sendo decididamente mais duros, entrando em confronto com a polícia anti-motim. E quando os manifestantes não ateiam fogo nos policiais,[37] eles queimam efígies do presidente Emmanuel Macron em protesto contra as reformas econômicas imensamente impopulares que resultaram na perda de mais de 120 mil empregos.[38] Justin Trudeau não consegue parar de se envergonhar toda vez que sai do Canadá.[39] E eu não acho que seja preciso mencionar o quanto as pessoas odeiam Donald Trump tanto dentro quanto fora dos EUA.[40]
A verdade é que eles estão com medo.[41] A China venceu o Ocidente em seu próprio jogo. A superpotência emergente os ultrapassou e os superou. Eles contam com uma força de trabalho maior e mais instruída, uma economia mais robusta e um plano para o futuro. O Ocidente não parece ter um plano para o presente. À medida que a China avança rumo ao horizonte, unida e próspera, as lideranças ocidentais parecem totalmente incapazes de organizarem seus problemas, pois seus povos não conseguem suprir necessidades básicas, como comida e aluguel.[42]
- Tyler Burns | Armed With a Pen
Tradução de Gabriel Deslandes
Fontes:
[1] – http://www.china.org.cn/opinion/2017-04/13/content_40612177.htm
[2] – https://www.wired.co.uk/article/chinese-government-social-credit-score-privacy-invasion
[3] – https://www.newsweek.com/china-social-credit-system-906865
[6] – http://www.globaltimes.cn/content/1103262.shtml
[7] – https://theweek.com/articles/761124/how-vulture-capitalists-ate-toys-r
[8] – https://www.business-anti-corruption.com/anti-corruption-legislation/china/
[11] – https://www.newsweek.com/isis-fighters-chinas-uighur-minority-vow-shed-blood-home-562948
[12] – http://www.xinhuanet.com/english/2017-07/11/c_136435987.htm
[13] – http://www.globaltimes.cn/content/1067405.shtml
[14] – http://time.com/3099950/china-muslim-hui-xinjiang-uighur-islam/
[16] – http://www.chinadaily.com.cn/china/2017-10/20/content_33476166.htm
[17] – https://www.youtube.com/watch?v=5ks5cbhldG4
[18] – https://bit.ly/2MHkoUA
[19] – https://www.theodysseyonline.com/win-for-democracy-china-scrap-presidential-term-limits
[20] – https://www.bbc.com/news/world-asia-china-41743804
[21] – https://edition.cnn.com/2018/02/26/asia/china-xi-jinping-president-intl/index.html
[22] – https://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2013/04/201341695253805841.html
[23] – https://www.theodysseyonline.com/win-for-democracy-china-scrap-presidential-term-limits
[24] – https://edition.cnn.com/2018/03/14/europe/merkel-chancellor-fourth-term-germany-intl/index.html
[25] – https://bit.ly/2Gngqgz
[26] – https://bit.ly/2Rwqt6Y
[28] – https://www.pbs.org/newshour/politics/china-pledges-billions-development-aid-debt-forgiveness
[29] – https://futurism.com/sonic-attack-china/
[30] – https://www.workers.org/2018/03/16/more-doubt-about-sonic-attacks-in-cuba/
[31] – https://thediplomat.com/2014/12/the-worlds-most-popular-leader-chinas-president-xi/
[32] – https://www.politico.eu/article/uk-election-ends-in-hung-parliament/
[33] – https://bit.ly/2GhFCY9
[34] – https://bit.ly/2CWKG0A
[36] – https://edition.cnn.com/2018/05/01/world/may-day-rallies-around-the-world-intl/index.html
[37] – https://reut.rs/2UxEaVj
[39] – https://wapo.st/2UvcyjK
[40] – https://bit.ly/2B9UBzO
[41] – http://business.time.com/2011/06/07/why-do-we-fear-a-rising-china/
fevereiro 5, 2019