A esquerda e a necessidade de uma nova aliança política e social

20/07/2018
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Foto: Guilherme Santos/Sul21
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Estou totalmente alinhado com a Direção Nacional do PT, quanto a uma posição essencial na conjuntura: o melhor candidato, não só para o PT, mas para a esquerda e para o país, é Lula. Ele demonstrou que é um estadista de primeira linha, um líder popular que, como Presidente, teve o grande mérito de incorporar os trabalhadores e os excluídos na mesa da democracia e melhorou a vida de 40 milhões de pessoas. Não é gratuito que, como Getúlio, Jango, Arraes, Juscelino, Brizola e Prestes, ele é vítima de uma perseguição judicial de natureza nitidamente política, que lhe levou ao cárcere.

 

A “perseguição” a que me refiro, não é por ele ser processado, pois qualquer pessoa, Presidente ou cidadão comum, pode ser processado num Estado de Direito. A perseguição fica clara por ele ter sido condenado sem provas, em processos que tiveram largas repercussões midiáticas, nas quais foram prolatadas decisões, apoiadas sobretudo em “versões”, que circularam de uma maneira totalitária, sem o devido contraditório, devido num processo democrático baseado num senso mínimo de justiça.

 

Não há nenhuma novidade nas movimentações que venho fazendo, como militante e quadro político do PT. Sempre participei de debates, colóquios, discussões teóricas e formulações programáticas, com a ampla maioria das organizações da esquerda socialista, ou não socialista, ao longo da minha militância política e intelectual. Assim como participei fortemente dos debates internos do meu Partido e dos debates de uma certa parte da intelectualidade acadêmica. Em todos os espaços sempre aprendi muito.

 

Por exemplo, aprendi que, nos tempos que correm, qualquer “demarcação” meramente doutrinária, de um Partido de esquerda, em relação a outro – que exiba uma presumida superioridade de soluções – é burocrática e falsa, que não se justifica neste fim de ciclo. Neste, as “demarcações” forçadas carecem da humildade histórica necessária para forjar uma nova unidade de vanguarda e levam ao isolamento. Levam, enfim, à incapacidade de exercer uma “hegemonia” ampla, de caráter superior, capaz de gerar novos consensos, a partir de idéias comuns que voltem a re-encantar e mobilizar consciências. Assim como faliu o sistema soviético, também faliu a socialdemocracia e a vida republicana, bem como as formas para enfrentar este novo período de guerras e loucura bélicas do grande capital e dos “trumpismos” de todos os tipos.

 

As minhas posições tem pouca importância para decidir qual a posição que o PT, ou outras forças de esquerda ou do centro progressista, vão assumir nos dias que correm, pois não detenho nenhum cargo partidário ou estatal, que me dê força política imediata para promover e divulgar amplamente novas idéias, que estão circulando nos meios partidários e não partidários que frequento. Mas todos somos comprometidos, em primeiro lugar, com a libertação de Lula e, em segundo lugar, com a sua candidatura. Por isso, digo às pessoas que debatem ou militam comigo – política e intelectualmente – que temos que produzir idéias e propostas, para oferecer ao conjunto da esquerda, não só ao PT, não para orientá-los, mas para ajudá-los nas formulações futuras, de um tempo que está logo ali, depois de 18.

 

A questão principal a ser enfrentada, a partir da visão que devemos derrotar de forma unitária a ditadura liberal-rentista nas urnas, é a questão organizativa. É a questão de uma nova frente política – autêntica e radicalmente democrática – que deve corresponder, logicamente, também, a um novo programa político e econômico. Um programa que não dependa só do preço das “commodities”, para financiar o Estado e que não se baseie na ilusão de que conservadores, neoliberais e golpistas, vão nos dar alguma estabilidade para governar com decência e compromisso. Este pessoal já demonstrou que, inclusive, se alia aos fascistas e aos piores corruptos, para derrubar qualquer governo legítimo que fira, ainda que minimamente, os seus interesses de classe. Não podemos aceitar, de outra parte, que queiramos chegar novamente ao Governo com os mesmos aliados de antes. Deu no que deu!

 

Caso o Presidente Lula seja excluído – e se for, o será de forma ilegal – vou defender que o PT renove totalmente o seu sistema de alianças e considere, inclusive, apoiar um candidato de fora do Partido e de esquerda. Isso iniciaria uma reforma estratégica na nossa política de alianças e o reconhecimento da necessidade de formação, no Brasil, de uma esquerda plural -programática e democrática- que pode até não chegar ao Governo, imediatamente, mas que plantará um futuro mais sólido do que aquele proposto de “governar com tudo”. Aquele é o “tudo” que trai e corrompe, ainda mais o Estado brasileiro, além de puxar a economia para uma linha de destruição neoliberal, privatista e entreguista. Sim, vejo que Boulos e Manuela podem ser uma opção.

 

Acho que Boulos e Manuela deram uma demonstração clara da sua honradez e capacidade dirigente quando chamaram a unidade em torno da democracia e em defesa de um processo justo e legal, proposto contra qualquer brasileiro que o tenha que responder. A posição deles, no caso Lula, mostra qual é o caminho da nova aliança política e social, que temos que construir para governar o Brasil do futuro. E o caminho não passa por qualquer partido ou personagem golpista, que namoram e ainda vão namorar inclusive com o fascismo. Tentar governar com a mesma aliança que, em outras épocas, deu sustentação ao Bolsa Família, ao Prouni, às vultuosas verbas estatais que criaram milhões de empregos, é esquecer a lição do 18 Brumário: a tragédia do golpe pode se repetir como farsa democrática, da qual seremos protagonistas e responsáveis.

 

- Tarso Genro foi Governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, Ministro da Justiça, Ministro da Educação e Ministro das Relações Institucionais do Brasil.

 

julho 19, 2018

https://www.sul21.com.br/colunas/tarso-genro/2018/07/a-esquerda-e-a-necessidade-de-uma-nova-alianca-politica-e-social/

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/194229?language=en
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