Entre o caos e a civilidade:

As Cidades Precisam ser Repensadas

23/02/2018
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Ônibus elétrico testado em 2015, em São Paulo
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No momento em que o mundo assiste preocupado o retorno de políticas neoliberais e excludentes, o anúncio feito pelo Governo Alemão, de que pretende implantar transporte público, gratuito e limpo para 100% da população, em 5 cidades, até o final de 2018, surpreendeu até o mais otimista dos militantes ambientalistas.

 

Mas esta não é uma ação que sai do nada. O país já recebe pressão da União Europeia em razão do não cumprimento das metas de redução dos gases estufas, o que foi agravado pelo escândalo de falsificação de testes de emissão de carbono em motores pela Wolksvagen. A saída foi radicalizar e propor uma alternativa que contraria a linha de austeridade fiscal que sempre foi defendida pela Chanceler Angela Merkel.

 

Ocorre que não há nada de absurdo no projeto alemão. Na verdade é uma saída inteligente para resolver um problema crônico que afeta os centros urbanos: a poluição. Esta, por sinal, é a responsável por uma elevada soma de gastos públicos nas áreas de saúde, meio ambiente e conservação do patrimônio. Isto mesmo, a grande quantidade de enxofre, amônia, carbono e suas combinações corrói prédios, mobiliário e equipamentos urbanos. O resultado é a busca permanente por materiais e infraestrutura mais resistentes.

 

A poluição causa problemas respiratórios, estresse, depressão e uma série de doenças psicossomáticas. A medida também ajudaria na socialização, combatendo o individualismo dentro de um país que sofre muito com a xenofobia, pois prevê a troca de carros pelo transporte coletivo. Ou seja, a ação poderia reduzir as despesas com segurança também.

 

Já surgem resistências de prefeitos com o financiamento do projeto e com a capacidade produtiva das empresas de ônibus elétricos. Mas é muito pouco frente ao impacto positivo da medida dentro da União Europeia. Existe um atraso gigantesco em todo o mundo, com suas exceções, na discussão sobre as vantagens de uma economia sustentável.

 

No Brasil, com certeza, onde as políticas de urbanização, saneamento e inclusão foram substituídos pelo fortalecimento da repressão, provavelmente teríamos grandes resistências. Hoje o transporte público é mantido por um cartel que financia campanhas eleitorais, especialmente as municipais. Problema que não existe na Alemanha, onde há financiamento público e voto em lista.

 

Outro problema do nosso país é a falta de planejamento das ações governamentais, sempre dependentes de projetos isolados. Existe uma crônica falta de visão sistêmica pelos governantes, o que eleva o custo de manutenção da administração e não ataca temas importantes, especialmente a questão ambiental. É mais fácil gastar uma fortuna em remédios para ansiedade do que investir em uma praça. Não existe contabilização dos benefícios sociais das ações. Contabilizam-se votos e não a felicidade da população. O resultado são administrações tarefeiras, com pensar de curto prazo e resultados insignificantes, tudo isto moldado pelo fracassado sistema dos arranjos fiscais e de privilégio à repressão social.

 

- Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado, mestre em ciências sociais, responsável pelo Blog Sustentabilidade e Democracia.

 

https://sustentabilidadeedemocracia.wordpress.com/2018/02/22/entre-o-caos-e-a-civilidade-as-cidades-precisam-ser-repensadas/

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/191222?language=en
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