A direita avança: no Chile, venceu o mercado
- Opinión
Com a vitória de Sebatián Piñera nas eleições presidenciais chilenas de ontem, a direita avançou mais na América Latina, como aliás acontece no mundo. O Chile junta-se agora ao Brasil do golpe e de Temer, à Argentina de Macri, que nesta segunda-feira está soltando tropas e cachorros nos protestos contra a reforma previdenciária, ao Equador do traidor Lenín Moreno, à Colômbia de Juan Manuel Santos. Piñera, que já foi presidente uma vez, é um queridinho do mercado, que além de apoiá-lo com doações milionárias, fez campanha terrorista contra o candidato de centro-esquerda Alejandro Guillier, do Partido Socialista, apoiado pela presidente Michele Bachelet. O colapso da frente de centro-esquerda Concertación, vitoriosa na transição da ditadura, é um aviso para o campo democrático-progressista no Brasil: sem unidade e sem uma ação vigorosa contra a degola eleitoral de Lula, a direita vencerá aqui também, dando continuidade e aprofundando o programa golpista.
O presidente da Bolsa de Valores chilena, Juan Andrés Camus, chegou a anunciar, durante a campanha, uma queda brutal no preço das ações se Piñera não fosse o vencedor. Outros empresários ameaçaram com recessão, desemprego e colapso econômico. Tendo obtido no primeiro turno uma votação aquém da esperada, o direitista fez um ajuste em seu discurso em busca dos votos do centro. Prometeu diálogo e reviu posições absolutamente privatistas sobre educação e saúde, por exemplo. Já Guillier, jornalista e ex-apresentador de TV, cometeu erros sucessivos, começando pela declaração personalista de que representava “a cidadania” e não os partidos. Mas a esquerda também errou. A Frente Ampla, da candidata Beatriz Sanchéz (que obteve 20,2% no primeiro turno, apenas dois pontos a menos que Guillier) deu-lhe um apoio recalcitrante e de última hora, quando o direitista já havia conquistado os votos de centro que lhe faltavam para uma vitória folgada.
Entre os analistas de política sul-americana há quem alimente a ilusão de que Piñera fará um mandato mais moderado, buscando honrar o discurso concessivo que fez no final da campanha. Os rituais de sua vitória foram polidos, com elogios ao derrotado que o cumprimentou e uma conversa amena com Bachelet sobre a transição. Mas, uma vez no governo, ele não fugirá do que é: um presidente eleito pelo mercado, para obedecer ao mercado.
Enquanto isso, Macri põe as tropas nas ruas de Buenos Aires para reprimir a greve geral de hoje e a coalizão governista no Brasil prepara a exclusão de Lula do processo eleitoral.
- Tereza Cruvinel é colunista do 247, é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País
18 de Dezembro de 2017
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