21 pontos para entender a crise nas Forças Armadas
- Opinión
O blogueiro passou o final de semana conversando com pessoas que têm ou tiveram relações muito próximas com as Forças Armadas nos últimos anos, em especial nos governos Lula e Dilma. Desde parlamentares que atuam ou atuaram em comissões da Câmara e do Senado, onde é necessário negociar com militares, passando por ex-ministros que estiveram em áreas de interesse direto ou indireto do setor.
Todos, por motivos diferentes, aceitaram falar apenas em off. Em geral, o argumento era de que precisavam manter as pontes que tinham para ajudar na solução da crise.
A partir dessas entrevistas, o blogueiro listou 21 pontos que considera importantes para entender o que se passou na semana passada e o que ainda pode vir.
1) Todos os entrevistados concordam que o governo Temer perdeu o respeito dos militares e que há um imenso constrangimento de ter um presidente tão corrupto e impopular como chefe das Forças Armadas.
2) Que em boa medida essa insatisfação se ampliou por conta dos cortes orçamentários que teriam afetado projetos estratégicos tanto no Exército, como na Marinha e na Aeronáutica. Esses projetos são considerados muito importantes para a soberania nacional.
3) Os cortes da política fiscal de Temer também impactaram sobre bonificações e gratificações dos militares, além de também ter diminuído recursos para o básico, como compra de fardas e munições.
4) Que há uma diferença entre a insatisfação no Exército e nas outras forças. E que a situação no Exército é mais tensa.
5) Que no Exército há uma disputa antiga entre uma linha mais dura e outra mais profissional. E que a primeira deve ter ganhado força tanto por conta da crise como por conta da debilidade física do comandante Villas Bôas, que tem uma doença degenerativa. A sucessão para o seu cargo já está aberta.
6) De alguma forma, todos entrevistados também concordam que o nacionalismo nas Forças Armadas tem sutilezas. Ele não deve ser entendido como um espaço de resistência, por exemplo, contra as reformas neoliberais e a entrega do patrimônio nacional. Isso não está no centro das preocupações dos militares. Ao contrário, a entrevista à Revista Exame do general Sérgio Westphalen Etchegoyen, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, é clara. Ele defende as privatizações inclusive do setor elétrico.
7) Em relação a Etchegoyen, que é hoje uma das pessoas mais fortes do Exército atualmente, ele tem uma mágoa pessoal da esquerda e em especial de Dilma e do PT. Isso de deve ao fato do nome do seu pai ter sido incluído na lista da Comissão da Verdade.
8) Com exceção de um dos entrevistados, que se mostrou mais preocupado, a ampla maioria acha que o sinal amarelo de fato acendeu com as declarações do general Mourão, mas que ainda há muito espaço para o diálogo antes de uma crise mais aguda.
9) A despeito de no episódio terem aparecido com destaque os generais Mourão e Heleno, que já está na reserva, além do Comandante Vllas Bôas, uma das fontes alerta para que se fique atento com os movimentos do Chefe do Estado Maior do Exército, o general Fernando Azevedo e Silva. Ele tem grande poder sobre a tropa.
10) Outra coisa que é consenso é que a despeito de Mourão ser uma pessoa especialmente dura e já ter expressado opiniões polêmicas em outros momentos, tendo sido inclusive punido, dessa vez ele não falou apenas por ele.
11) Uma das fontes chama atenção para esta entrevista do General Villas Bôas, concedida ao jornal Valor, onde ele, entre outras coisas, diz: “Somos um país que está à deriva, que não sabe o que pretender ser, o que quer ser e o que deve ser”.
12) Uma outra fonte diz que a preocupação com as declarações de Mourão e Heleno não são exageradas “porque os militares são como um time de futebol que só treina e não joga, porque felizmente o Brasil não tem se envolvido em guerras. E uma situação como a atual pode levá-los a achar que é hora de jogarem sim”.
13) Uma das pessoas entrevistadas diz que a linha mais dura tem crescido porque há um entendimento prevalente nas Forças Armadas de que não tem se dado ao Ministério da Defesa, desde a redemocratização, a importância que os militares consideram razoável.
14 – Um dos entrevistados diz que conversou com dois militares de alta patente e que eles disseram que as declarações do general Mourão mais atrapalham do que ajudam
15 – Um dos entrevistados considera que Mourão fala por um setor minoritário e que até ousaria uma intervenção militar, mas que isso não teria respaldo do alto escalão.
16 – De qualquer forma, todos concordam que o alto comando das Forças Armadas querem sim que os civis construam uma solução que passaria pelo fim do governo Temer.
17 – Uma observação de um dos entrevistados é bem interessante. A pessoa considera que Villas Bôas não puniu Mourão para não vitimizá-lo e criar um movimento de solidariedade e ele, que poderia ampliar sua liderança nas Forças.
18 – Aldo Rebello de fato é um civil muito respeitado entre os militares. Sua relação com eles é antiga, desde que presidiu a Comissão das Relações Exteriores da Câmara. Mas Nelson Jobim é ainda mais. Ele é uma peça chave para participar de uma solução para esta crise atual.
19 – O fato de a base, principalmente do Exército, estar muito alinhada com Bolsonaro, não significa que no alto comando este pensamento tenha força. Pelo contrário, Bolsonaro é considerado uma caricatura pelo alto escalão das Forças e muitos deles, inclusive, acham que sua candidatura pode tirar parte da credibilidade recuperada nos últimos anos.
20 – Quase todos os entrevistados acham que é preciso manter o alerta ligado. Um deles foi mais incisivo, quando sai fumaça dos quartéis em geral não é de cigarro. Por isso, não é hora de relaxar e achar que está tudo bem.
21 – Um outro entrevistado acha que até a votação da segunda denúncia do impeachment de Temer, que deve acontecer nos próximos 30 dias, devem surgir novas declarações de militares com o objetivo de pressionar o Congresso. Ou seja, os sinais de fumaça, na opinião deste, ainda estariam apenas começando.
- Renato Rovai é editor da Revista Fórum
25 de Setembro de 2017
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