A guerra à paz no governo Trump

12/12/2016
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Atualmente, as forças armadas dos EUA estão distribuídas por todo o globo em cerca de 100 bases.

 

Militares americanos participam diretamente de combates no Afeganistão, Síria, Iraque e Líbia.

 

Na África eles treinam e armam exércitos de diversos governos. Em outros países desse continente, as Forças Especiais de Tio Sam enfrentam guerrilhas radicais.

 

A Arábia Saudita ataca os rebeldes houthis no Iêmen com bombas e armamentos americanos.

 

Nos fronteiras dos antigos satélites da União Soviética com a Rússia, contingentes aéreos, terrestres e marítimos estão em alerta, à espera de um presumido ataque das forças de Moscou.

 

Para prevenir hipotéticas ações bélicas da China, dezenas de milhares de soldados americanos estão estacionados no Japão, Coréia do Sul, Ilhas Filipinas, Austrália e outros países.

 

Trump pretende reduzir substancialmente esse imenso e custoso aparato. Durante a campanha eleitoral, declarou que se os governos estrangeiros quiserem a proteção americana terão de pagar as despesas.

 

Depois das eleições, Trump continuou fazendo promessas pacifistas muito do agrado do povo americano, pelo menos atualmente.

 

Em discurso perante uma multidão em Fayetteville, Carolina do Norte, ele prometeu acabar com a política de “intervenção e caos” dos EUA no exterior.

 

O presidente recém-eleito disse que os EUA “iriam parar essa corrida para derrubar regimes estrangeiros a respeito dos quais não sabemos nada”.

 

A única intervenção que continuará será contra o Estado Islâmico que é de fato uma ameaça muito séria a toda a humanidade.

 

E Trump insistiu em que todos os esforços militares americanos deverão ser focados na necessidade de enfraquecer o terrorismo e destruir o Estado Islâmico.

 

Não sei como estas sábias palavras serão recebidas pelos três ferozes falcões nomeados para altos postos no governo.

 

O general Michael Flyn, indicado para assessor de segurança nacional, já chamou a Rússia de inimigo, parte de uma conspiração global contra os EUA.

 

O general John Kelly, que cuidará da segurança interna, brigou com Obama porque o presidente atual deseja o fim da prisão de Guantánamo.

 

E o general James “Cachorro Louco” Mathis, futuro chefe do Pentágono, certa vez disse, segundo o website VOX : “é uma alegria dos diabos atirar neles (nos talibãs). A líderes iraquianos declarou: “se vocês me foderem, eu matarei todos vocês”. E ainda acusou Obama de ser ingênuo por assinar um acordo nuclear com o Irã que reduziria a velocidade , mas não pararia o caminho de Teerã para a bomba.

 

Talvez estes enérgicos cabos de guerra tenham se consolado quando Trump, depois de afirmar que, em vez de investir em guerras, gastaria dinheiro para construir as envelhecidas estradas, pontes e aeroportos, declarou que mesmo assim aumentaria as despesas com forças armadas.

 

O que não será pouco pois o novo orçamento de defesa, já aprovado, chega a 618 bilhões de dólares, bem mais do que gastam juntos os 6 países seguintes no ranking mundial das despesas militares.

 

Mas Trump justifica esta importância, despropositada para um país cuja dívida nacional chega a quase 20 trilhões de dólares: “Nós fortaleceremos as forças armadas não como um ato de agressão, mas um ato de prevenção. ”

 

Prevenção do que, senhor Trump?

 

De um ataque da Rússia, com quem seu governo pretende estreitar os laços de amizade, graças à boa vontade entre Putin e Trump?

 

Ou da China, que usa e continuar a usar o poder econômico – sua principal força- para disputar a hegemonia mundial dos EUA.

 

Apesar dos generais do Pentágono, não vejo que, nos próximos decênios, haja guerra entre os EUA e qualquer desses países.

 

Mais uma vez lembro o antiquíssimo adágio “Se vis pacem para bellum” (se queres a paz, prepara a guerra), que o império romano seguiu fielmente e , mesmo assim, promoveu centenas de guerras em todo o mundo de sua época.

 

É também o que faz Israel. Construiu e está sempre aumentando seu poder militar para se defender dos países árabes. Mas a última guerra com seus vizinhos aconteceu em 1973 e Israel não parou de se fortalecer continuamente, o que lhe permitiu invadir o Líbano e Gaza várias vezes, além de atacar a Síria, e lhe tomar as colinas de Golã, das quais jurou jamais sair, apesar das condenações da ONU e até dos EUA.

 

Trump prometeu uma grande expansão militar, inclusive no número de soldados na infantaria, de belonaves e de aviões, além de um sábio gerenciamento dos recursos aplicados.

 

Já deu um bom exemplo, ao criticar a Boeing a respeito do contrato para o programa da Força Aérea 1, que custaria 4 bilhões de dólares. Ele defende o cancelamento deste gasto aparentemente abusivo.

 

 Sua ideia de fumar o cachimbo da paz com Putin não parece agradar aos chefões atuais do Pentágono.

 

Para eles, a Rússia, comunista ou não, é sempre o inimigo número 1, sempre ponto a atacar os EUA, quando menos se espera.

 

Isso apesar dos gastos militares do governo de Moscou não passarem de 10% do orçamento americano. Nesse quesito, os russos vêm em quarto lugar, posição que ocupam porque o Reino Unido e a França tem reduzido seus gastos militares nos últimos anos.

 

Mas para os falcões do Pentágono, o que conta mais é o poder efetivo das forças armadas. Apesar da Rússia ser muito inferior aos EUA nesse quesito, ao generais top argumentam que o recente incremento das despesas militares dos rusos prova que eles estão se fortalecendo perigosamente. Como disse Debora James, secretária da Força Aérea, a Rússia é uma “ameaça existencial aos EUA.”

 

Ainda mais que a pátria de Tolstoi, segundo os generais americanos, vem investindo pesadamente em armas nucleares.

 

Há anos que o Pentágono fala na necessidade de modernização desses armamentos, cujo preço orçado sobe sempre, devendo atingir 1 trilhão de dólares quando o plano for concluído.

 

Os projetos grandiosos da vocação imperial dos EUA, segundo o Pentágono, não dependem apenas de Trump tornar ainda mais fortes as Forças Armadas americanas.

 

Se ele insistir em acabar com as intervenções militares vai ser problema.

 

Veja o que poderia acontecer num futuro bem próximo.

 

Após vários anos dos EUA evitando guerras contra regimes pouco amigáveis e mesmo retirando-se de grande parte ds bases ora ocupadas pelo mundo afora, como irão se justificar seus fabulosos gastos militares?

 

Não duvido de que haverá fortes pressão do Pentágono e também do próprio Partido Republicano para que Trump aposente suas “populistas” promessas de paz.

 

- Luiz Eça formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo.

 

11 / 12 / 16

http://www.olharomundo.com.br/guerra-paz-no-governo-trump/

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/182298?language=es
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