A luta das mulheres contra o conservadorismo

08/03/2016
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Para cada ação, uma reação: a maior visibilidade para as pautas relativas aos direitos das mulheres nos últimos anos tem se dado paralelamente ao crescimento da onda conservadora, que visa colocar as mulheres longe de tudo o que lhes garante autonomia, poder e protagonismo.

 

Cada avanço é fruto de muita luta, organização e, sobretudo, enfrentamento. E, neste processo, compreender a conjuntura de desigualdade entre homens e mulheres é fundamental – não para ressaltar o papel das mulheres na posição de vítimas, mas para reconhecer as desigualdades, identificar as pautas e assumir, enquanto mulheres, o protagonismo da nossa história. Ou seja, construir o feminismo – sinônimo da igualdade – na prática.

 

Para entender esse contexto, é importante lembrar alguns dados: no Brasil, estima-se que uma mulher é espancada a cada 24 segundos, um estupro ocorre a cada 10 minutos e uma mulher morre a cada dois dias devido à realização de aborto inseguro. Mulheres ocupam apenas cerca de 10% dos cargos do Congresso Nacional e 20% dos principais cargos do Poder Executivo.

 

Mundo do trabalho

 

Figuras políticas, como Jair Bolsonaro (PSC), já tentaram apresentar justificativas para o fato de as mulheres receberem salários menores que os dos homens: elas engravidam, têm licença maternidade, prejudicam a produtividade e, assim, seria justo ganharem menos.

 

Já há algum tempo parece estar evidente que o que Bolsonaro diz não merece crédito, mas sua declaração remete a uma realidade alarmante: no Brasil, desde 2000, as mulheres são maioria na população e, segundo apontam dados do IBGE de 2014, 39% dos lares têm a mulher como principal responsável pelo sustento da família. Mesmo assim, elas recebem, em média, 70% do salário dos homens. E a sobreposição de opressões e explorações coloca as mulheres negras numa circunstância ainda pior: recebendo menos que as mulheres brancas.

 

Ainda em relação ao mundo do trabalho, cabe advertir que a incorporação das mulheres em postos de trabalho remunerados, não foi seguida por uma completa redefinição da divisão sexual do trabalho no espaço público nem no espaço doméstico. A separação ainda é clara entre “trabalhos masculinos” e “trabalhos femininos”, como se uma valesse mais do que o outro.

 

A análise do contexto exige a ação. Ação que reivindique o caráter político do espaço privado. Porque a política – e a necessária democratização do poder – se faz em todos os lugares: lares, maternidades, cozinhas, fábricas, cargos públicos, etc.

 

A precariedade do trabalho e da vida das mulheres é histórica, não é à toa que, em 8 de março de 1917, em São Petersburgo, na Rússia, explodiu uma greve de tecelãs e costureiras em um processo que desembocaria na famosa revolução de outubro. Elas transformaram a opressão em luta. Nós, hoje, herdeiras históricas dessa luta, a continuaremos – enfrentando as reações!

- Paula Cozero é feminista, militante da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), advogada e professora universitária.

 

08/03/2016

http://www.brasildefato.com.br/node/34357

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/175911?language=en

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