Por que precisamos de um movimento para mulheres ocuparem a mídia

A mídia é feita principalmente por homens, e por homens brancos, o que diminui consideravelmente a diversidade de pontos de vista.

05/11/2015
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Reprodução mulher na mídia
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Depois de protagonizarem manifestações contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, com o Projeto de Lei (PL) 5069, ameaça direitos sexuais e reprodutivos duramente conquistados, as mulheres agora ocupam a mídia.

 

Nesta semana, colunas, blogs e outros espaços autorais produzidos por homens estão escutando o que as mulheres têm a dizer: ao invés de textos deles, textos delas. Textos nossos. 

 

A imagem estereotipada da mulher na mídia já é bastante debatida – e criticada. O que não significa que seja um tema superado. Afinal, “não se pode ser o que não se vê”, ou “you can’t be what you can’t see”, nas palavras de Marian Wright Edelman, ativista dos Estados Unidos pelos direitos das crianças.

 

Lá, The Representation Project acompanha a representação da mulher nos meios de comunicação, celebra alguns avanços e, principalmente, denuncia: se o que se vê é majoritariamente a exibição de corpos com um padrão de beleza inatingível, mostrados como objetos para o consumo masculino, será difícil que meninas possam ser autônomas e protagonistas de suas histórias de vida.

 

No Brasil, não é muito diferente. Como em diversas outras questões, as mulheres negras sofrem ainda mais, representadas de forma hipersexualizada. Por conta de propaganda com esse teor, a cervejaria Devassa foi processada pelo Ministério Público, em 2013.

 

Neste ano, a repórter Maria Julia Coutinho, conhecida como Maju, a “moça do tempo” do Jornal Nacional, foi vítima de racismo na internet. Houve manifestação de solidariedade dos colegas de telejornal, mas ela decidiu não fazer nenhuma denúncia contra os agressores, postura oposta à da atriz Taís Araújo.

 

Ofendida nas redes sociais nessa semana, ela afirmou que vai processar os autores dos comentários. Afinal, racismo é crime.

 

Além de não se poder ser o que não se pode ver, é difícil mostrar aquilo que não se é. Se vivemos numa sociedade machista, óbvio, diversas ideias e valores machistas estão presentes também entre nós, mulheres. Porém, também somos muitas as que lutam contra essas ideias.

 

Vivemos experiências particulares por sermos mulheres. Ou, mesmo quando estamos de acordo com o que dizem alguns homens, são eles, não nós, que reverberam esses pensamentos. Da maneira deles, não da nossa. A mídia é feita principalmente por homens, e por homens brancos, o que diminui consideravelmente a diversidade de pontos de vista que conhecemos sobre o mundo.

 

Numa breve pesquisa, a título de exemplo, contamos quantos colunistas são homens e quantas são mulheres em dois veículos de comunicação das maiores cidades do país.

 

De 122 colunas da Folha de S.Paulo, 34 são assinadas por mulheres, uma por crianças que se revezam a cada mês e as demais 87 por homens. No portal G1, a lista de colunas e blogs apresenta apenas 26 no total, sendo que nove são feitas por mulheres.

 

Mas o mundo virtual é muito mais dinâmico e o que “bomba” mesmo são canais do YouTube? Em matéria do Correio Braziliense de fevereiro desse ano, a lista dos cinco canais mais acessados no Brasil revela que apenas um é feito por uma mulher, o 5incominutos, em quarto lugar em número de inscritos e acessos.

 

Em terceiro, o canal de humor Galo Frito, no vídeo postado na matéria, faz uma paródia do clipe Gagnam Style: “Eu vou te encoxar, te encoxar” é o refrão dessa produção assinada por homens e mulheres. Impossível ser mais representativo da cultura do estupro.

 

O canal número 1, Porta dos Fundos, não tem roteiristas mulheres (com raríssimas exceções, como um roteiro de coautoria de Clarice Falcão e Gregório Duvivier) e apenas recentemente uma mulher se reveza na função de direção.

 

No Rio de Janeiro, o maior evento de cinema, o Festival do Rio, tem o prêmio de Melhor Diretor, ao invés de Melhor Direção, o que já causou constrangimento em algumas premiações.

 

Isso não significa que estamos caladas. Resistimos nos blogs e sites Blogueiras Feministas, Lugar de Mulher, Geledés, Escreva Lola Escreva, na coluna da pesquisadora Djamila Ribeiro aqui neste portal, no canal Jout Jout Prazer.

 

Organizamo-nos através da Rede Mulher e Mídia, uma articulação formada em 2009 por entidades e ativistas que discutem e denunciam a representação e a presença da mulher nos meios de comunicação.

 

Lutamos, junto com o movimento pela democratização da comunicação, por uma regulação dos meios que garanta mais diversidade e espaço para a veiculação de conteúdos e produções de todos os setores sociais, o que inclui mulheres negras, lésbicas, idosas, com deficiência e de todas as regiões do Brasil.

 

Nessa semana, ocupamos os espaços deles para falar de nós. Mas sabemos falar de muitos outros temas. Temos assunto para muito mais de uma semana.

 

Que o #AgoraÉQueSãoElas não apenas mostre o que temos a dizer, mas mostre o quanto ainda não temos espaço suficiente para dizê-lo. Porque representatividade importa e porque sabemos: os nossos direitos quem conquistamos somos nós.

 

- Mônica Mourão é jornalista, feminista e integrante do Intervozes.

 

http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/por-que-precisamos-de-um-movimento-para-as-mulheres-ocuparem-a-midia-2899.html

https://www.alainet.org/pt/articulo/173447?language=es
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