Amar é um ato revolucionário!

27/07/2015
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 amar revolucionario
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O que é mais fácil: amar ou odiar? Se tomarmos como parâmetro o marketing da violência proposto pelos meios de comunicação de massa, odiar é o caminho mais fácil. Não são raras as pessoas que colocam o preconceito, antes da aceitação, a dúvida, antes da compreensão, o medo, antes da coragem, o ódio, antes do amor…

 

Seriam ridículas as cartas de amor, perguntou certa vez o mestre Fernando Pessoa. Ele mesmo, nos citados versos, concluiu que mais ridículos são aqueles pessoas que nunca escreveram cartas de amor.

 

Mas quando falamos de amor, não pensamos apenas no amor romântico, que une duas pessoas, mas no amor fraternal em relação aos semelhantes, o amor à natureza, às outras espécies, a amizade, o carinho, o respeito, a tolerância, e diversas formas de amor que se expressam no nosso dia a dia e, muitas vezes, são desconsideradas.

 

Por outro lado, o amor romântico, relegado em tempos de instabilidade emocional e de vidas de aparência à condição de algo piegas ou inalcançável, também é fundamental, e essencial para a nossa existência. Talvez por isso a cultura ocidental lhe coloque em segundo plano.

Os grandes amantes da literatura foram relegados à condição de mundanos, e quando mulheres, condenados ao esquecimento ou à fogueira. Aliás, muitas vezes o amor é considerado como um desejo feminino, enquanto o ódio, expressão da força, um sentimento masculino, razão pela qual, na cultura ocidental, o amor é relegado ao segundo plano.

 

Quando não está em segundo plano, o amor verdadeiro é tratado como algo impossível! Na obra clássica do medievalismo, “Tristão e Isolda”, o sentimento que brotava entre os amantes somente foi possível quando casto. Daí atingiu uma pureza ímpar, demonstrando a sua natureza impossível. Dom Quixote era um homem que amava, por isso enfrentava moinhos como dragões, e era tratado como louco. Não menos apaixonado estava Cândido, na busca por sua idealizada Conegundes, na obra prima de Voltaire, somente alcançando o seu objetivo no final do livro, quando ambos já estavam destroçados pelos problemas enfrentados ao longo da vida.

 

Para o mestre da língua portuguesa Camões, o “amor é um fogo que arde sem se ver, uma ferida que dói e que não se sente […]”, ou seja, é dúbio, ao mesmo tempo que traz felicidade também é o reino do sofrimento, uma demonstração de fragilidade, algo inaceitável para os guerreiros do mercado selvagem…

 

Mesmo para aqueles que defendem o amor como sentido da vida, como o Padre Antônio Vieira, tal sentimento somente pode ser consolidado ao longo do tempo. Amor, portanto, é sinônimo de tempo, de consolidação, de busca de certeza, uma pedra rígida que sustenta uma sociedade estável. Novamente, só é alcançando depois de uma longa jornada…

 

Assim, portanto, na nossa literatura, o amor, para ser sólido, verdadeiro, somente pode ser admitido quando os caminhos para o alcançar são tortuosos e difíceis. Desta forma, a busca do amor, na nossa cultura, é um caminho de dificuldades, de pedras que devem ser afastadas, por isso é um sentimento prejudicial àqueles que devem almejar o sucesso. Quem deseja competir, vencer, e alcançar o grau mais alto do poder na sociedade, não pode amar ninguém, salvo a si mesmo e ao poder. Outra vez, o “mais nobre dos sentimentos”, é visto, na sociedade contemporânea, como um símbolo de fraqueza.

 

O que dizem os defensores da rigidez do amor quando confrontados com o seu íntimo pelos mestres da psicanálise. Freud, por exemplo, derrubou barreiras a ver no “mal estar da civilização”, que levou à tragédia do nazismo, a presença inegável da repressão de sentimentos. A frustração decorrente das amarras impostas aos desejos levou a humanidade para o caminho atávico da guerra. Assim, no pensamento de Freud, o amor muda de condição, e passa a ocupar um espaço mais importante. Já o ódio, perde poder, e passa a ser um subproduto da repressão ao amor. Seres frustrados estão mais abertos ao ódio e a comportamentos agressivos e violentos.

 

Revolucionário, como sempre, Erich Fromm derrubou a barreira do amor único, ao afirmar, com extrema propriedade, que é possível amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Como ensina o mestre alemão, não há nada de errado neste comportamento que, por sinal, não possui restrição de gênero.

 

Desta forma, amar é uma conduta natural aos seres humanos, talvez a mais natural de todas. Não escolhe sexo, idade, orientação sexual, condição social ou econômica. É um sentimento primário, que se sobrepõe ao ódio, e assim deveria ser tratado.

 

É por esse motivo que Mandela tem razão ao afirmar que as mesmas pessoas que são ensinadas a odiar também podem ser ensinadas a amar. Ou Gandhi, quando afirma que somente os covardes são incapazes de demonstrar amor, na medida em que a demonstração do amor é um privilégio dos corajosos. Afinal, “o amor e a verdade são as forças abstratas mais poderosas desse mundo”.

 

Assim, em tempos de pedagogia do ódio, de ofensas à honra e à dignidade, escolher e dar preferência ao amor é muito mais do que um ato de coragem, é uma atitude transformadora e verdadeiramente revolucionária!

 

Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado, mestre em ciências sociais.

 

https://sustentabilidadeedemocracia.wordpress.com/2015/07/20/amar-e-um-ato-revolucionario/

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/171341?language=es
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