A difícil liberdade

16/09/2011
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Quando se quer prender uma manada de porcos do mato, os europeus desenvolveram uma técnica milenar de atraí-los, através de grãos de milho espalhados no caminho deles. Cada dia, ao retornarem para seus abrigos naturais, é levantado uma cerca, de forma que lentamente eles serão aprisionados sem se aperceberem por estarem extasiados com os milhos que diariamente comem. Metaforicamente é este o procedimento que muitos países ricos, procuram fazer com aqueles mais pobres, através de empréstimos supostamente generosos.
 
Um conceito de difícil definição é quando se fala da Liberdade. Muito se fala, mas pouco se sabe, inclusive me vejo com enorme dificuldade para interpretá-la. A primeira coisa que nos vem a nossa mente é a visão espacial, por conta de nossa própria limitação. Mas a expressão vai muito alem desta limitação. Na minha concepção só existe um tipo de liberdade: a de escolha. Esta é a única que nos é permitida.  Escolha de aceitar ou não uma ideia, um conceito, uma situação. Vários filósofos tem se debruçado sobre este tema, onde um se destaca, Jean Paul Sartre em "O Ser e o Nada” (livro muito pesado e denso). Um livro de exercício em metafísica.
 
Mas voltando a "terre des hommes", a metáfora dos porcos é um alerta sobre o risco de se direcionar para um totalitarismo de Estado, quando uma elite política fortemente atuante está no poder (aqueles que fecham a cerca na história). Neste tiroteio político que hoje vivenciamos, os diversos programas de tirar o Brasil da miséria através de bolsas e outras medidas simpáticas pela ótica social tem lá seus riscos políticos que acima nos aludimos.
 
Todos os “ismos” políticos como Stalinismo, Nazismo, Fascismo etc. começaram com as benesses de um Estado distribuidor de “milhinhos”, através de promessas socialmente contagiantes. As conseqüências trágicas da história são fartamente conhecidas. 
 
Não há mal algum em fazer uma distribuição de rendas à moda tupiniquim das diversas bolsas que o governo está patrocinando. Realmente está se enfrentando um problema secular, quando uma elite dominante desde os tempos coloniais, levou a uma marginalização colossal de milhões de brasileiros. Pelos atuais programas, as famílias que recebem estas benesses têm um compromisso em troca de que seus filhos devam estudar. Aqui se percebe a parte nobre do projeto. O conhecimento oferece as asas da liberdade.
 
 Pela visão do economista, este contingente começa se deliciar do bolo do PIB, pela participação no consumo da sociedade, criando por efeito um grande mercado interno. A questão que se levanta é quando somente se dá milho aos "porquinhos" e não os ensinar paralelamente de como devem plantar para um dia serem Livres. Assim, corre-se o risco de uma leva de “porquinhos” acomodados, vivendo nas tetas do governo. Ai sim neste caso, o totalitarismo se manifestará, com todas as conseqüências possíveis. Só o tempo nos dirá o que está por trás, em termos de poder, desta gentileza governamental. Se olharmos para diversos países, inclusive os Estados Unidos que tanto evocam a palavra liberdade, no fundo praticam um totalitarismo descomunal. É lógico que se seus cidadãos fizerem tudo direitinho como as lideranças pedem e impõe, através das “cercas”  legislativas, todos terão a garantia do Estado, "o grande Irmão". Ou seja, estão todos cercados, mas comendo o melhor milho possível.  
 
O livro: "A águia e a galinha" de Leonardo Boff, nos oferece um reflexão sobre esta metáfora, o risco que se corre pelo chamado proselitismo de estado, cuja referência (tirado da Internet) diz: "Ao ver uma galinha e uma águia, (...) vai se confrontar com duas dimensões fundamentais da existência humana. A dimensão do enraizamento, do cotidiano, do prosaico, do limitado: o símbolo da galinha. A dimensão da abertura, do desejo, do poético, do ilimitado: o símbolo da águia. Como equilibrar estes dois conflitos? Como impedir que a cultura da homogeneização afogue a águia dentro de nós e nos tolha de voar?  (...) é uma reflexão instigante que provoca entusiasmo na busca da identidade humana através da inclusão das contradições e da superação dos obstáculos a nível pessoal, social e planetário". 
 
A escolha é de cada um: ser galinha subserviente ou águia independente? 
 
- Sergio Sebold – Economista e Professor Independente.  
 
https://www.alainet.org/pt/articulo/152658?language=es

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