A crise internacional do capitalismo e o Brasil
08/08/2011
- Opinión
As informações que chegam todos os dias do hemisfério norte revelam que a crise do capitalismo que emergiu em 2008, não só não se debelou como continua se agravando cada vez mais. Ao contrário do que os jornalistas burgueses pregaram nos últimos dois anos, que o capital daria a volta por cima. Esses jornalistas são bem pagos para mentir e fazer análises sem nenhuma base com a realidade. Mas não têm o direito nem o mérito de fazer a economia de fato funcionar, mesmo como querem os capitalistas.
Os EUA enfrentam a pior crise desde 1930. Um déficit comercial de 500 bilhões de dólares por ano, um déficit de orçamento público federal de 700 bilhões de dólares. Todo esse buraco é bancado pela emissão de dólares, já que eles podem emitir a moeda como querem, sem nenhum controle internacional. A princípio, os governos dos Estados Unidos (Bush, Clinton e Obama), tentaram sair da crise com a fórmula clássica: produzir guerras contra outros povos e assim incentivar a indústria bélica e reativar a economia estadunidense. Estão ao há dez anos em guerra com o Afeganistão, Iraque, Irã... Criaram e mataram o Bin Laden. Transformaram os árabes e o islamismo em inimigos da humanidade. Mataram mais de 600 mil civis, perderam milhares de seus soldados. Mas politicamente já perderam a guerra, pois a invasão não se sustenta e terão que sair de cabeça baixa. Tiveram um custo, nesses dez anos, de 3 a 5 trilhões de dólares. Que todos os povos do mundo pagaram, ao usar dólares em seus intercâmbios comerciais.
Mesmo assim, as contradições estão se agravando e a emissão irresponsável bateu no teto de 13 trilhões de dólares, sem equivalência em produção.
Na Europa, o crescimento econômico está parado desde 2008; as taxas de desemprego atingem 20% na média. E vários países já têm suas economias tecnicamente falidas, como a Grécia, Polônia, Portugal... e agora é a vez da Itália e Espanha. E a juventude começa a mexer-se, ainda que tarde.
Portanto, a crise do capitalismo no centro da hegemonia do capital financeiro e oligopolizado tente a se agravar. E, naturalmente, vai despejar parte de seus custos também para as economias periféricas e dependentes como a brasileira.
O caso brasileiro
A economia brasileira está crescendo. Porém em níveis medíocres de 3 a 4% ao ano. Isso é apenas sufi ciente para manter a economia ativa e gerar parte dos empregos necessários para os 2,5 milhões de jovens que entram no mercado de trabalho a cada ano.
A estrutura econômica como um todo vem sendo afetada pela crise capitalista há muito tempo. E talvez sua natureza e efeitos perversos estejam sendo mascarados pela continuidade do crescimento.
Os efeitos da crise aparecem agora, na pauta de exportações. Em 1990, cerca de 60% das exportações eram produtos manufaturados. Hoje, quase 80% das exportações são matérias primas agrícolas e minerais, sem nenhum valor agregado de mão-de-obra de nosso povo. Voltamos a ser uma economia primaria-exportadora. E nenhum país se desenvolveu, cresceu, resolveu os problemas econômicos de seu povo exportando matérias primas naturais. Nem mesmo os petroleiros.
Desindustrialização
Em 1980, a industria pesava 33% do PIB nacional, no ano passado caiu para apenas 16%. Nossa mão-de-obra em sua maioria se dedica a atividades de serviços, trabalhos informais, que não geram riqueza, apenas se apropriam de parte da mais-valia gerada por um grupo cada vez menor de trabalhadores.
Taxa de câmbio
Em todas as grandes economias, os governos tem controle absoluto da taxa de câmbio. E não o mercado. Só no Brasil é apenas o mercado que decide. E todos os especialistas denunciam que o câmbio está defasado entre 30 a 100%. Ou seja, os preços médios dos bens da economia brasileira comparados com os preços da economia americana, deveriam ter uma paridade de um dólar valendo no mínimo 2, 50 a 3 reais. Mas ele é pressionado para baixo artificialmente pela grande entrada de capitais financeiros que entram no Brasil para especular e para se proteger da crise.
Taxa de juros
O centro de acumulação capitalista agora é o capital financeiro, que acumula e se reproduz através das taxas de juros. E eles pressionam os governos, para lhes garantir altas taxas de juros. O Brasil é a economia que mais paga juros. O governo garante o mínimo de 14% por ano, de juros da taxa Selic, a qualquer capitalista, enquanto o governo estadunidense garante apenas 0,2% ao ano.
E no comércio e indústria, os bancos chegam a cobrar, em média, 56% para empréstimos da produção e até 140% ao ano, nos empréstimos pessoais de cartão de credito. Isto não tem paralelo.
Plano Brasil Maior
O governo anunciou o Plano Brasil Maior. Ora, é apenas um plano político, para dar resposta para a oposição parlamentar e para a burguesia brasileira, de que o governo está preocupado. Mas suas medidas são pífias. Porque apenas desoneraram os capitalistas de pagarem o INSS da folha, que representam ao redor de 8% dos custos. Ou seja, o Estado deixa de recolher para que os capitalistas aumentem suas taxas de lucros. E possam competir com os capitalistas da China. Mas isso não resolve o problema da estrutura de produção, de emprego e da indústria.
A única medida importante é o anúncio de que o governo fará esforços para que o BNDES aplique 500 bilhões de reais até 2014, em investimentos produtivos. Isso pode gerar mais emprego e crescimento econômico.
O governo não vai proteger a economia brasileira da crise internacional, nem vai resolver os problemas da dependência e da estrutura de produção negativa, se não mexer na taxa de câmbio e na taxa de juros. Será que as autoridades entenderão isso, antes que os trabalhadores tenham que pagar mais caro, por sua falta de coragem?
Brasil de Fato – edição 441 - de 11 a 17 de agosto de 2011
https://www.alainet.org/pt/articulo/151770?language=es
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