Centenário de Dom Helder
- Opinión
Nesta semana temos uma data especial a agendar. No dia 7 de fevereiro se completam cem anos do nascimento de D. Helder Camara. Para personagens com dimensão histórica, a roupagem adequada é a dos séculos.
De fato, o arco de um século situa melhor a importância e a grandeza de D. Helder. É muito acertada a iniciativa de se promover um "ano centenário", para recolher a grande herança deixada por ele.
A iniciativa parte de diversas instituições, a começar pela CNBB, com a presença do seu atual Presidente, D. Lyrio Rocha, na missa de abertura do "ano centenário", em Recife, defronte à Igreja das Fronteiras.
A Cáritas Brasileira se sente particularmente ligada à pessoa de D. Helder, que foi o seu fundador, no ano de 1956. Por isto, ela se antecipa, e promove uma homenagem especial ao seu primeiro secretário geral e presidente no dia 06 à noite. Quando a liturgia tem uma data especial a celebrar, ela começa no dia anterior, com as "primeiras vésperas". A Cáritas se incumbe de entoar os primeiros louvores, sinalizando que a celebração é de "primeira classe"!
Entre tantos predicados, D. Helder foi indiscutivelmente um grande profeta e um sonhador das grandes utopias humanas e cristãs.
Para descortinar os amplos horizontes suscitados pelo centenário do seu nascimento, podemos lembrar os dois grandes sonhos de D. Helder. Ambos em vista da passagem do milênio, que ele nem pôde ver. Como Moisés que não chegou a pisar a terra prometida, só a enxergando do alto do Monte Nebo, assim D. Helder deixou este mundo em 1999, antes da chegada do novo milênio, que ele sonhou com a generosidade de suas grandes utopias.
Pois bem, para o mundo, D. Helder sonhou o fim da miséria e da fome. Um mundo justo, em paz, reconciliado e fraterno, onde ninguém precisasse viver na miséria e passando fome. Este o mundo que D. Helder sonhou para o milênio que já estamos vivendo!
Para a Igreja, D. Helder sonhou, e divulgou, sua grande utopia, carregada de profundo simbolismo: a convocação do Segundo Concílio de Jerusalém! Para entender a força deste sonho, é preciso saber o que foi o primeiro concílio, descrito na Bíblia e realizado no começo da Igreja. Os apóstolos se congregaram em Jerusalém e perceberam a universalidade do Evangelho de Cristo, que precisava romper os limites estreitos do judaísmo e de quaisquer outras amarras culturais e religiosas, para ser levado a toda a humanidade, que o aguardava como terra sedenta de verdade e de amor, pronta para produzir os frutos do Reino de Deus.
Agora, um segundo "concílio de Jerusalém" implicaria a predisposição da Igreja em rever sua caminhada, e o convite ao mundo para se abrir ao Evangelho de Cristo, superando preconceitos e confrontos inúteis, e abrindo caminho para um novo tempo de reconciliação e de paz mundial.
Assim sonhava D. Helder. Ele vinculava seus sonhos a uma data, carregada de simbolismo, para dizer que estes sonhos ultrapassam as possibilidades concretas do nosso dia a dia, mas ao mesmo tempo começam a acontecer se lhes damos abrigo em nossas mentes e em nossos corações. Ele insistia na dimensão comunitária das utopias, alertando que um sonho que se sonha só, fica na ilusão, mas um sonho que sonhamos juntos, começa sua encarnação.
O "Ano centenário" é para voltarmos a sonhar como D. Helder, para nos comprometer com a realização concreta de suas grandes utopias. Apesar das nuvens carregadas de pessimismo que se abateram sobre o mundo no alvorecer deste novo milênio.
Em temos de borrascas os profetas precisam anunciar a bonança!
- Dom Demétrio Valentini é bispo de Jales (SP)
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