Saddam Hussein – vivo ou morto?
08/01/2007
- Opinión
Há poucas pessoas que tenham aterrorizado tanto o mundo quanto Saddham Hussein. As atrocidades cometidas em seu ditatorial governo no Iraque até hoje são lembradas e arrastam conseqüências. Líder político e membro do partido Ba´ath, Saddham Hussein tornou-se presidente em 1979. Truculento e ambicioso, usou os recursos petrolíferos do Iraque para construir seu poder militar e conduziu o país a duas monstruosas e sangrentas guerras.
Neste momento, porém, Saddham Hussein, destituído de seu poder, preso e julgado, é apenas um homem que espera pela execução da sentença de morte proferida contra ele. Deverá ser enforcado em poucos dias. Sua execução, esperada com júbilo por alguns, será sempre considerada uma injustiça e uma violação dos direitos humanos por aqueles que acreditam que a vida é o bem maior e por ela lutam sem trégua e sem descanso.
Comecemos pela guerra, da qual, é verdade, Saddham Hussein foi grande entusiasta e promotor. A guerra, levada a cabo pela humanidade desde os seus primórdios e inclusive contemplada na Bíblia como fazendo parte da dinâmica de desvio da liberdade do ser humano, existe quando os interesses de dois ou mais grupos entram em conflito. Não conseguindo resolver suas pelejas pelo diálogo e a negociação a humanidade pega em armas e recorre à violência.
Há que reconhecer, no entanto, que a guerra é sempre um mal. Ainda que, às vezes ela se torne último e derradeiro recurso para que um povo inteiro se liberte de um regime desumano e tirânico, ela não se torna um direito humano. A justiça do motivo pelo qual se faz a guerra não torna essa guerra justa. Pelo contrário, a guerra será sempre injusta, não só pelo que se pode sofrer – a morte, ferimentos graves, seqüelas físicas e psicológicas para toda a vida – mas pelo que se pode fazer sofrer aos outros. Nesse sentido não é apenas terrível ser morto ferido ou despojado em conflito. Seria até mais terrível matar, ferir e causar perdas, especialmente quando não combatentes como mulheres e crianças são atingidos pelo fogo cego e violento da guerra.
Portanto, a guerra só pode ser legitimada e entendida na medida em que seja o menor dos males, mas nunca um bem. Só seria ético guerrear se um discernimento sério e coerente chegar à conclusão que não faze-lo traria conseqüências ainda piores para a humanidade do que faze-lo. A negociação em lugar da guerra devia ser buscada incessante e continuamente como recurso para resolver o conflito. Para que isso resulte, no entanto, seria necessário confiar no inimigo, crer em sua reta intenção, sem achar que a mesma estaria distorcida e buscaria apenas a destruição e não uma solução pacífica para o conflito.
A Saddham Hussein interessava a guerra e ele não hesitava em fazê-la. Vidas humanas foram exterminadas por sua sede de poder e riqueza. No entanto, hoje, quem é Saddham Hussein? Quem tem ainda medo do ditador apavorante cuja simples presença e rosto empedernido levantava o terror nas mentes e corações? Trata-se de um homem vencido por uma potencia estrangeira que no entanto continua a ocupar seu país. Trata-se de alguém que em um momento foi até mesmo útil aos que hoje o condenam por ser uma força contrária aos aiatolás do Irã.
Hoje Saddham Hussein está sozinho e sua sentença de morte pronunciada. É um homem morto ainda estando vivo. No entanto, o que pode sua morte trazer como benefício à humanidade? Qual a contribuição que seu enforcamento pode trazer a uma guerra que continuará, estando ele vivo ou morto? Lembremo-nos das afirmações e dos clamores que afirmavam que o único obstáculo para que a paz e a democracia reinassem no Iraque era Saddham Hussein. Algum de nós, em sã consciência, ainda acredita nisto? A violência que Saddham Hussein cometeu em vida não será sanada ou mesmo minorada com a sua morte, fruto de outra violência. A justiça retributiva já deu bastantes provas de sua inutilidade enquanto recurso. É mais do que tempo de aderir à justiça restaurativa.
Neste momento, porém, Saddham Hussein, destituído de seu poder, preso e julgado, é apenas um homem que espera pela execução da sentença de morte proferida contra ele. Deverá ser enforcado em poucos dias. Sua execução, esperada com júbilo por alguns, será sempre considerada uma injustiça e uma violação dos direitos humanos por aqueles que acreditam que a vida é o bem maior e por ela lutam sem trégua e sem descanso.
Comecemos pela guerra, da qual, é verdade, Saddham Hussein foi grande entusiasta e promotor. A guerra, levada a cabo pela humanidade desde os seus primórdios e inclusive contemplada na Bíblia como fazendo parte da dinâmica de desvio da liberdade do ser humano, existe quando os interesses de dois ou mais grupos entram em conflito. Não conseguindo resolver suas pelejas pelo diálogo e a negociação a humanidade pega em armas e recorre à violência.
Há que reconhecer, no entanto, que a guerra é sempre um mal. Ainda que, às vezes ela se torne último e derradeiro recurso para que um povo inteiro se liberte de um regime desumano e tirânico, ela não se torna um direito humano. A justiça do motivo pelo qual se faz a guerra não torna essa guerra justa. Pelo contrário, a guerra será sempre injusta, não só pelo que se pode sofrer – a morte, ferimentos graves, seqüelas físicas e psicológicas para toda a vida – mas pelo que se pode fazer sofrer aos outros. Nesse sentido não é apenas terrível ser morto ferido ou despojado em conflito. Seria até mais terrível matar, ferir e causar perdas, especialmente quando não combatentes como mulheres e crianças são atingidos pelo fogo cego e violento da guerra.
Portanto, a guerra só pode ser legitimada e entendida na medida em que seja o menor dos males, mas nunca um bem. Só seria ético guerrear se um discernimento sério e coerente chegar à conclusão que não faze-lo traria conseqüências ainda piores para a humanidade do que faze-lo. A negociação em lugar da guerra devia ser buscada incessante e continuamente como recurso para resolver o conflito. Para que isso resulte, no entanto, seria necessário confiar no inimigo, crer em sua reta intenção, sem achar que a mesma estaria distorcida e buscaria apenas a destruição e não uma solução pacífica para o conflito.
A Saddham Hussein interessava a guerra e ele não hesitava em fazê-la. Vidas humanas foram exterminadas por sua sede de poder e riqueza. No entanto, hoje, quem é Saddham Hussein? Quem tem ainda medo do ditador apavorante cuja simples presença e rosto empedernido levantava o terror nas mentes e corações? Trata-se de um homem vencido por uma potencia estrangeira que no entanto continua a ocupar seu país. Trata-se de alguém que em um momento foi até mesmo útil aos que hoje o condenam por ser uma força contrária aos aiatolás do Irã.
Hoje Saddham Hussein está sozinho e sua sentença de morte pronunciada. É um homem morto ainda estando vivo. No entanto, o que pode sua morte trazer como benefício à humanidade? Qual a contribuição que seu enforcamento pode trazer a uma guerra que continuará, estando ele vivo ou morto? Lembremo-nos das afirmações e dos clamores que afirmavam que o único obstáculo para que a paz e a democracia reinassem no Iraque era Saddham Hussein. Algum de nós, em sã consciência, ainda acredita nisto? A violência que Saddham Hussein cometeu em vida não será sanada ou mesmo minorada com a sua morte, fruto de outra violência. A justiça retributiva já deu bastantes provas de sua inutilidade enquanto recurso. É mais do que tempo de aderir à justiça restaurativa.
- Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, é autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros.
https://www.alainet.org/pt/articulo/119452?language=es
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