O Mundo no Kênia
18/01/2007
- Opinión
O Kênia vai acolher o mundo para o Fórum Social Mundial que se inicia dia 20 e vai até 25 de Janeiro. O país é tudo aquilo que se imagina da África e vai além. Aqui estão os parques nacionais mais bonitos, com praticamente todos os animais que nos acostumamos a identificar com o ancestral continente, principalmente os grandes felinos. No espaço de encontro onde estamos têm dois leões e dois tigres empalhados. Penso que são de outra época, já que agora existe todo um trabalho de preservar áreas e a biodiversidade, inclusive em função do turismo. É o país do Kilimanjaro, que divide com a Tanzânia, que hoje tem 82% dos glaciais derretidos por conta do aquecimento global. É lugar também do imenso lago Vitória que divide com outros países africanos. É o berço dos kenianos e kenianas acostumados a vencer a São Silvestre. É também país vizinho da Etiópia e Somália, onde acontece mais uma guerra, muitas vezes atravessando a fronteira. Foi colônia de Portugal, depois foi ocupado por árabes e depois foi colônia inglesa. Grande parte da população, além de sua língua nativa, fala o inglês.
Esse país situado a leste do continente africano, praticamente na linha do equador, tem 560 mil km2, sendo 88% de seu território entre árido e semi-árido, com uma população de aproximadamente 30 milhões de pessoas, das quais 82% ainda vivem no campo. Esse povo é formado por 42 etnias, cada uma vivendo segundo seus costumes. Segundo dados oficiais que circulam por aqui, aproximadamente 50% da população vive abaixo da linha da pobreza. Como a área de cultivo é restrita, há muita pressão sobre o ambiente e disputa pelas terras. Essa situação se agrava consideravelmente quando passa por longas secas ou períodos de terríveis enchentes. A pobreza é regionalizada, está mais concentrada no campo e ao norte do Kênia. Nairóbi, capital onde estamos, é uma belíssima cidade.
Pois bem, os africanos acolhem pela primeira vez o Fórum Social Mundial – já haviam acolhido a Cúpula do Meio Ambiente na África do Sul - para o qual se espera aproximadamente 150 mil pessoas, para alguns previsão exagerada. Nairóbi é a praça escolhida dos que sonham um outro mundo possível. Há quem critique o Fórum, que ele não passa da uma feira de idéias e trocas, mas que não se desdobra em nenhuma estratégia de mudança. Também que já estaria ficando repetitivo. Não quero entrar no mérito da questão, mas foi nos Fóruns Mundiais que desafios globais se socializaram e onde se fortaleceram redes em defesa de tantas questões. Recordo-me muito bem da questão da água. No segundo Fórum em Porto Alegre, quando procurei alguma oficina sobre a questão, acabei encontrando uma na periferia da cidade. Quando cheguei havia umas 30 pessoas, falando inglês e francês, praticamente nenhum brasileiro. Entre os presentes estavam Danielle Miterrand, Ricardo Petrella, Mário Soares e outras personalidades da Social Democracia Européia. Dois anos depois, uma jornalista do Valor Econômico me disse que a questão da água era o assunto mais debatido no Fórum, empatando com educação.
Num mundo de desafios globais é essencial globalizar as experiências, as esperanças e também as frustrações. Quem sabe esse Fórum, no território onde o ser humano deu seus primeiros passos, contribua para restituir esperanças à quebrantada alma da humanidade.
Roberto Malvezzi (Gogó)
Esse país situado a leste do continente africano, praticamente na linha do equador, tem 560 mil km2, sendo 88% de seu território entre árido e semi-árido, com uma população de aproximadamente 30 milhões de pessoas, das quais 82% ainda vivem no campo. Esse povo é formado por 42 etnias, cada uma vivendo segundo seus costumes. Segundo dados oficiais que circulam por aqui, aproximadamente 50% da população vive abaixo da linha da pobreza. Como a área de cultivo é restrita, há muita pressão sobre o ambiente e disputa pelas terras. Essa situação se agrava consideravelmente quando passa por longas secas ou períodos de terríveis enchentes. A pobreza é regionalizada, está mais concentrada no campo e ao norte do Kênia. Nairóbi, capital onde estamos, é uma belíssima cidade.
Pois bem, os africanos acolhem pela primeira vez o Fórum Social Mundial – já haviam acolhido a Cúpula do Meio Ambiente na África do Sul - para o qual se espera aproximadamente 150 mil pessoas, para alguns previsão exagerada. Nairóbi é a praça escolhida dos que sonham um outro mundo possível. Há quem critique o Fórum, que ele não passa da uma feira de idéias e trocas, mas que não se desdobra em nenhuma estratégia de mudança. Também que já estaria ficando repetitivo. Não quero entrar no mérito da questão, mas foi nos Fóruns Mundiais que desafios globais se socializaram e onde se fortaleceram redes em defesa de tantas questões. Recordo-me muito bem da questão da água. No segundo Fórum em Porto Alegre, quando procurei alguma oficina sobre a questão, acabei encontrando uma na periferia da cidade. Quando cheguei havia umas 30 pessoas, falando inglês e francês, praticamente nenhum brasileiro. Entre os presentes estavam Danielle Miterrand, Ricardo Petrella, Mário Soares e outras personalidades da Social Democracia Européia. Dois anos depois, uma jornalista do Valor Econômico me disse que a questão da água era o assunto mais debatido no Fórum, empatando com educação.
Num mundo de desafios globais é essencial globalizar as experiências, as esperanças e também as frustrações. Quem sabe esse Fórum, no território onde o ser humano deu seus primeiros passos, contribua para restituir esperanças à quebrantada alma da humanidade.
Roberto Malvezzi (Gogó)
https://www.alainet.org/pt/articulo/118837?language=es
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