Cinco anos depois

10/09/2006
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Há cinco anos, o mundo vivia um estremecimento como jamais havia vivido. Os aviões que feriram de morte as Torres Gêmeas de Nova York foram como armas pontiagudas enterradas na carne de todos nós. A humanidade sentiu-se para sempre insegura e nunca mais olhou o mundo e a vida, e sobretudo o futuro, da mesma forma depois do dia 11 de setembro de 2001. O Ocidente tomou consciência da existência do Oriente Próximo de maneira até então inédita. Aqueles que apareciam ao longe, cobertos por véus, com exóticos turbantes, visibilizaram sua presença de maneira drástica e dura no rosto de Osama Bin Laden, que passou a ser o inimigo mundial número um. O país mais poderoso do mundo, que confiava integralmente em seu sistema de segurança e orgulhava-se de sua inexpugnabilidade, viu-se de repente de joelhos diante do terror. Nova York e o Pentágono, símbolos mundiais da prosperidade e do poder político, apareceram vulneráveis e atacados no núcleo mais central de seus corpos de pedra, granito e concreto. E outras corporeidades, de carne e osso, que naqueles momentos trabalhavam em suas entranhas transformaram-se em labaredas vivas ou em montanhas de cinza e escombros. Cinco anos depois, olhamos em volta tentando extrair as lições mais profundas daquele sombrio 11 de setembro. E tristemente constatamos que não aprendemos as lições mais elementares e que a violência descomunal daquele dia nunca se apagará de nossa memória. O revide ao ataque foi imediato e tomou formas tão violentas quanto as do ataque recebido. Talvez mais, já que se prolongou no tempo e no espaço, perpetuando uma violência que, respondida na mesma moeda, agigantou-se em nova força. O Iraque pouco depois passou a apresentar o triste espetáculo de civis, homens e mulheres, jovens e crianças, com as vidas destroçadas pela morte, pela viuvez ou pela orfandade mais cruel. O ser humano, que sempre foi mimético, parece que tem sua capacidade de emulação instigada pela violência. Atentados e mortes se multiplicaram. Homens e mulheres bombas continuam explodindo os próprios corpos em um macabro e terrível espetáculo de destruição auto-inclusiva, passando uma mensagem de desespero e exacerbação de fanatismo, além do rastro de morte que deixam. Novas guerras explodiram em outros espaços do planeta. E, recentemente, a guerra de Israel com o Líbano voltou novamente as atenções do mundo todo para o Oriente Médio. O massacre a que se assistiu, envolvendo inclusive crianças e jovens chocou o mundo. Agora, bem perto da sombria celebração dos cinco anos, Israel declara sua decisão de levantar o bloqueio sobre o Líbano, cujos postos emergenciais e posições de controle ficariam a cargo de forças internacionais. Um raio de esperança penetra não apenas no coração do Líbano, mas no de toda a humanidade. O gesto deliberado de retirar as tropas pode ser um primeiro passo na direção da paz tão desejada. Se realmente acontecer, pode ser uma construtiva maneira de celebrar a data macabra. Neste 11 de setembro de tão tristes recordações, é hora de não apenas rezar e pedir para que o terror vivido perca força e não se repita mais na mesma intensidade ou mesmo de todo. É hora, sobretudo, de percebermos como podemos fazer crescer em nossa vida um aprendizado e uma prática diuturna de não-violência. Que nos inspire a frase do Mahatma Gandhi, que fez de sua vida inteira um libelo em favor da paz: “Seja a mudança que você quer no mundo.” - Maria Clara Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. É autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros. (wwwusers.rdc.puc-rio.br/agape)
https://www.alainet.org/pt/articulo/117017?language=es
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