O que nos prepara 2006?

02/01/2006
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Parece mentira mas 2005 acabou. O ano que passou foi realmente pródigo em acontecimentos negativos para toda a humanidade. A violência só fez subir vertiginosamente, no Brasil e no mundo, lambendo com sua língua mortífera a tudo e a todos. Ninguém foi poupado: crianças, jovens, mulheres, velhos. Todos fomos e foram tocados e levamos na pele a ferida ardente de seu toque mortal. Os poderosos parece que se tornaram mais arrogantes e os oprimidos gemem mais sob o peso de sua carga descomunal. A pobreza se agravou em todo o planeta e até a glamurosa e rica França mostrou seu lado sombra, quando os pobres da periferia de Paris encheram as páginas dos jornais incendiando carros para fazer ouvir suas vozes em protesto contra os campos de concentração onde estão confinados. As ricas nações européias centrais não se conformam com a entrada de imigrantes de nações mais pobres e à violência do protesto dos africanos responde a dureza e rigidez do ministro do interior Sarkozy que faz a todos temer um futuro repressor e racista para a Europa. No Brasil, melhor nem falar. Desde julho olhamos obcecados para a telinha esperando a próxima notícia horrível sobre mais um dos parlamentares eleitos com nosso voto acusado da mais sórdida corrupção. O ano de 2005 foi, sem dúvida, de muitas decepções e desilusões para o eleitor brasileiro que apostara todas as suas fichas em mudar o destino do Brasil elegendo um operário para a Presidência da República. Apostara sobretudo no partido de Lula, o PT, que sempre levantou a bandeira da ética. E de repente teve de assistir perplexo aos políticos de seu partido envoltos num mar de lama e atrozes acusações. Houve choro, ranger de dentes, cassações, mudanças de partido, culminando tudo agora, já bem no final do ano, com a cassação de José Dirceu, o ex-homem forte do presidente e seu ministro da Casa Civil. Em um processo controvertido, Dirceu finalmente caiu e teve seus direitos políticos cassados. O PT, por outro lado, tenta recompor-se. Falta menos de um ano para as eleições e o Brasil se pergunta que opções terá. Entre o continuísmo e o risco de um novo não confiável debate-se o povo brasileiro. Mas 2005 foi pródigo não só em catástrofes humanas. Também o foi em catástrofes naturais. Foi o ano em que vendavais, maremotos e tufões derrubaram cidades inteiras, deixando populações imensas ao desabrigo, com saldo de milhões e milhões de mortos. A bela Nova Orleans nos EUA foi destruída pelas águas, deixando um rastro de tristeza e abandono infinito e mostrando a verdadeira face da primeira potência do mundo na qual existe, sim, senhores, pobreza e muita. A tragédia de Nova Orleans desmascara não só a revanche da Mãe Natureza contra os abusos cometidos contra ela como também deixa a nu a terrível política do governo americano, que insiste em ignorar as desgraças quando elas atingem apenas ou sobretudo os pobres. Não vale a pena, por eles, mobilizar recursos financeiros e humanos. Certamente muitas vidas poderiam ter sido salvas em Nova Orleans se o governo do presidente Bush tivesse sido mais rápido na ação. O Rio de Janeiro fechou o ano com o terrível incêndio do ônibus 350, que deixou vítimas inocentes em um macabro ato de vingança, capítulo que vai se tornando corriqueiro na guerra do tráfico. Dentro do ônibus, mães e crianças morreram queimadas. E a cidade se pergunta se afinal quem a governa são os bandidos e se o governo continuará em sua imperdoável omissão. Muita negatividade para um ano só. Ano que na verdade é a continuação de muitos outros, onde injustiça e violência grassaram e ganharam volume. Se vamos nesse ritmo, o que nos preparará 2006? A humanidade se interroga inquieta e o planeta se prepara para novos e mais mortais golpes. Em meio a tudo isso, seria recomendável fazermos uma profunda reflexão que talvez não consiga nos fazer entender 2005, mas possa levar-nos até 2006 melhor preparados e mais bem dispostos para acolher o amor e a misericórdia. - Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro De Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, é autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros. (wwwusers.rdc.puc-rio.br/agape)
https://www.alainet.org/pt/articulo/113962?language=es
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