ALCA
Brasil não será anexado à economia dos EUA
07/08/2001
- Opinión
Em várias oportunidades, tenho deixado claro que a proposta da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas) significa na prática uma espécie de anexação das
economias latino-americanas à economia dos Estados Unidos, causando enormes
prejuízos à nossa indústria, agricultura, comércio, serviços - e à nossa própria
cultura. A situação atual, de agravamento da crise econômica, revela mais uma
vez o quanto o nosso país está vulnerável e enfraquecido. Dá para imaginar como
ficaria se aderisse à ALCA nas condições que está sendo proposta?
O Brasil, se depender da nossa vontade, não vai sofrer nenhum processo de
anexação. O caminho é bem outro: temos de reafirmar nossa soberania e realizar
as nossas potencialidades em nível mundial. Para isso, é preciso acreditar na
nossa capacidade, na tenacidade do nosso povo, na incrível capacidade criativa
que temos para enfrentar e vencer dificuldades.
Os EUA representam cerca de 25% de nossas exportações. Queremos mantê-las e, se
possível, aumentar as nossas vendas. Mas queremos negociar em condições de
igualdade, como deve acontecer entre parceiros comerciais. O Brasil precisa
pensar na nossa indústria e no nosso desenvolvimento. Para que se tenha uma
idéia, enquanto os produtos norte-americanos, com raras exceções, entram
livremente no Brasil, 60% das exportações brasileiras encontram algum tipo de
obstáculo para entrar nos Estados Unidos. Ou são taxas exageradas, como a do aço
e a do suco de laranja, ou são cotas de importação, que limitam a quantidade de
açúcar, por exemplo, que podemos vender. E existem vários outros bloqueios que
reduzem o potencial das exportações brasileiras.
Um estudo feito pela embaixada brasileira em Washington constatou que as
exportações brasileiras para os EUA pagam uma tarifa média de 45%, enquanto as
norte-americanas para o Brasil pagam em média 15%. E a administração Bush quer
discutir a ALCA sem colocar na mesa de negociações essas limitações impostas a
praticamente todos os produtos nos quais o Brasil é mais competitivo. O que
vamos discutir, então? Apenas a redução da TEC (Tarifa Externa Comum do
Mercosul) ou da Lei de Informática, que acabamos de aprovar? O comércio tem de
ser uma estrada de mão dupla, na qual todos saiam ganhando e não somente alguns.
O governo Bush tem tomado medidas protecionistas que ferem os interesses dos
outros países e isso não pode ser consolidado num acordo geral de livre
comércio.
A cada dia novos estudos demonstram que praticamente todos os setores da
economia do Brasil perdem mais do que ganham aderindo à ALCA, nas condições até
agora propostas, principalmente no segmento de produtos industrializados e de
serviços. Essa integração, especialmente se for acelerada, levará também à
redução de direitos sociais e trabalhistas, reforçando o desemprego e a
precarização das condições de trabalho, já que as empresas terão que enfrentar
maior competição reduzindo custos rapidamente.
É por isso que defendemos uma verdadeira integração política, econômica e
cultural dos países latino-americanos para poder negociar em melhores condições
com os Estados Unidos. É por isso que defendemos o fortalecimento e a ampliação
do Mercosul. É por isso também que defendemos uma posição de efetiva
solidariedade à Argentina e aos demais países que vêm sendo tragados pela grave
crise das políticas neoliberais.
Sem o Brasil a ALCA não existe. Vamos combater o protecionismo dos Estados
Unidos, tentar abrir mercado para os produtos brasileiros e sobretudo defender
nossa soberania. Para o Brasil, portanto, é mais interessante neste momento
defender o Mercosul, que passa por uma crise, mas já foi muito importante para a
dinamização do comércio entre seus membros, do que simplesmente aderir a um
acordo sob a hegemonia dos Estados Unidos. Reforçar o Mercosul significa atrair
os países andinos para dentro do acordo, estreitar os laços com a União
Européia, e ampliar o comércio com a China, Índia, com a Ásia de modo geral, com
a África do Sul, e com todos os países onde haja espaço para crescer.
Esclarecer essas questões junto ao povo brasileiro é fundamental para a mudança
de rumo que o nosso País precisa. Elas demarcam nitidamente o campo entre quem
defende a continuidade das políticas neoliberais, de modo claro ou disfarçado, e
quem apresenta alternativas concretas para a construção de um novo projeto de
nação.
O PT vai dar continuidade à luta contra a ALCA e em defesa de uma integração
soberana e democrática das Américas, independentemente do plebiscito que está
sendo convocado e dirigido por importantes entidades da sociedade, sem a
participação institucional de partidos políticos. Para isso, produziremos e
divulgaremos instrumentos próprios de debate e mobilização.
https://www.alainet.org/pt/articulo/106212?language=es
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