Religião é motivo de briga?
04/01/2002
- Opinión
Tem gente que briga por qualquer coisa: um pedaço de bolo, um lugar
na mesa e até para poder ver TV fora de hora. O bicho homem e o bicho
mulher são muito briguentos. Brigam por inveja, ambição ou disputa,
como galinhas que bicam a mesma minhoca ou cães que mordem um único
osso.
Os animais brigam por instinto. O ser humano por egoísmo ou para
conquistar um direito. Muitas vezes um desejo egoísta é confundido
com direito. Foi o caso dos portugueses ao desembarcarem no Brasil,
em 1500. O rei de Portugal queria engordar de terras o seu país, até
formar um império. Julgou-se no direito de ficar dono deste Brasil
que já tinha dono: os povos indígenas.
O mundo será melhor quando não houver brigas. Mas, para isto, é
preciso, primeiro, haver justiça. Não é bom quando reina paz na
família? Deus é amor. Para nos ensinar a amar, Ele inspirou o
aparecimento das religiões. Deus mesmo não tem religião e Ele pode
ser encontrado através de todas elas.
A palavra religião vem do verbo religar, atar os laços que unem a
pessoa a Deus, a seus semelhantes e à natureza. Assim como a água
toma o formato da garrafa que a contém, as religiões trazem marcas
das culturas em que nasceram. Aos poucos, elas ganharam novos fiéis,
superaram as fronteiras de seus países de origem e espalharam-se pelo
mundo.
Ao longo dos séculos houve muitas brigas entre pessoas que
professavam diferentes religiões. Muitas vezes, nem eram por razões
religiosas, e sim políticas e econômicas, como foi o caso dos
cristãos europeus que, interessados em conquistar a África,
combateram as religiões dos povos negros.
Brigas dentro de uma mesma religião deram origem a outras. Foi o caso
do Cristianismo, que nasceu como um galho cortado do tronco do
Judaísmo. Jesus era judeu e freqüentava a sinagoga. Por não ser
reconhecido pelos judeus como o Messias enviado por Deus, Jesus
acabou fundando outra religião, a cristã.
Dentro do Cristianismo houve muitos desentendimentos, fazendo com que
ele se divida, hoje, em três confissões: a católica, a ortodoxa e a
protestante ou evangélica. Todos aqueles que comungam uma mesma fé ou
maneira de crer em Deus julgam que a sua religião, confissão
religiosa ou Igreja é a única verdadeira.
Todas as religiões ensinam o amor como a atitude que nos aproxima
mais de Deus e de nossos semelhantes. Ora, quem ama é tolerante, sabe
compreender e perdoar. Assim, todos nós devemos levar a sério a
religião que abraçamos e, ao mesmo tempo, manter profundo respeito
frente às religiões diferentes da nossa.
É isso que se chama ecumenismo: saber conviver com as religiões,
confissões religiosas e Igrejas diferentes da nossa. Um grande ato
ecumênico ocorreu em S. Paulo no dia 15 de novembro último: Fé no
Voluntariado. Mais de 50 denominações religiosas celebraram, no
estádio da Portuguesa, sua disposição de promover o trabalho
voluntário. Ali todos se abraçaram: católicos e evangélicos, judeus e
muçulmanos, espíritas e afrobrasileiros, budistas e mórmons.
Fala-se muito, hoje, em "fundamentalismo religioso". Fundamentalistas
são aqueles que consideram que a sua maneira de entender uma religião
é a única certa, e que todas as outras maneiras, bem como as demais
religiões, devem ser combatidas. Isso é tão absurdo como pensar que a
língua que falo é a única que expressa o verdadeiro sentido das
palavras.
Fazer da religião motivo de briga é dar as costas para Deus. Quem é
fiel a Deus reconhece no seu próximo, ainda que ele seja ateu (=
aquele que nega a existência de Deus), uma pessoa criada à imagem e
semelhança divinas. Todas as religiões se resumem num único
mandamento: amar.
https://www.alainet.org/pt/articulo/105538?language=es
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