FSM e a articulação dos povos
22/01/2001
- Opinión
O Forum Social Mmundial e a necessaria articulaçao dos povos
João Pedro Stedile
Nos próximos dias 25 a 30 de janeiro estará acontecendo em Porto Alegre, o Fórum
Mundial das sociedades, em contraposição ao Fórum do capital, que se realiza todos anos
em Davos, Suíça. Ele será a continuidade de um longo caminho que estamos percorrendo
em torno da necessidade de criarmos mecanismos de articulação entre os povos de todo
mundo.
O final do século passado nos revelou a falência das articulações internacionais entre
governos. Elas não representam os interesses dos povos, mas apenas do capital. Alguém
de sã consciência acredita que as Nações Unidas representam de fato os interesses de
paz da humanidade? Alguém acredita na Organização mundial do comercio(OMC) na FAO, na
OTAN?
As reuniões dos governos do G-7 decidem mais sobre os destinos da humanidade, do que
dezenas de reuniões e Fóruns internacionais. E o G-7 representa os interesses de
acumulação de capital das grandes empresas transnacionais e do capital financeiro
internacional, que controlam a maior parte da riqueza produzida, o comércio e a
indústria em todo mundo.
A Humanidade nunca esteve tão à mercê da ganância e sobretudo da especulação financeira
como hoje. Os grandes temas da humanidade foram abandonados, na grande imprensa, nas
reflexões acadêmicas, na pesquisa cientifica, simplesmente por que não dão lucro para
quem domina e hegemoniza o mundo.
Algum organismo governamental internacional está seriamente interessado em resolver o
problema da Fome? O problema da exclusão social dos povos da África? Os problemas de
saúde pública? O problema da falta de trabalho para grande parte da população mundial?
O problema da concentração da riqueza e o aumento da desigualdade social? Alguém está
preocupado com a manipulação da informação que as grandes agencias de noticias fazem?
Os temas que a imprensa internacional divulga e que interessa aos donos do mundo são
apenas: taxas de juros, tarifas alfandegárias, oscilações da bolsa, livre comercio,
desregulamentação de direitos trabalhistas, narcotráfico (desde que não se toque nos
depósitos nos bancos americanos), intervenção em países que não se subordinam a lógica
de dominação e controle das fontes de energia.
Mas os povos estão diante de grandes dilemas. Muitos de nossos problemas no hemisfério
sul, somente se resolverão com revoltas populares contra governos despóticos e
neocoloniais, para implantar regimes políticos de democracia popular que tenham a
coragem de reorganizar a economia voltada para os interesses da população.
Outros problemas comuns somente se resolverão se conseguirmos levar adiante mecanismos
de articulação que construam a nível internacional alianças entre os povos. Não mais
entre os governos.
As experiências de mobilizações massivas em Seatle, Washginton, Praga, e outros
localidades, em que se manifestaram pessoas oriundas de diversos setores sociais e de
muitos países, são sintomas importantes de que é possível construir alianças, sem os
governos, e contra os governos e as grandes empresas transnacionais.
Nossa expectativa é de que o Fórum social Mundial contribua para esse caminho de
construção de organismos internacionais verdadeiramente representativos dos povos.
Certamente será um longo caminho. Depende de articular movimentos com
representatividade social e não meramente formais. Depende do exercício da pluralidade
ideológica, étnica e cultural. Da tolerância política. E da sabedoria para pautar os
verdadeiras problemas que a humanidade enfrenta.
O MST seguirá desenvolvendo todos os esforços possíveis em suas relações internacionais
para construir essa grande aliança entre os povos. Seatle, Praga, Porto Alegre são
pontos de encontro e de reflexão. São momentos simbólicos. Mas são insuficientes
ainda.
Esperamos que o Fórum social Mundial expresse também a solidariedade e apoio a todos os
povos do mundo que estão resistindo contra a avalanche do capital e da hegemonia norte-
americana. Como nossos irmãos palestinos, os estudantes da Korea, o povo da Indonésia,
do Timor, da Venezuela, do Peru, da Colômbia.
Em Porto alegre, os movimentos camponeses vindos de todos os continentes, levantaremos
a bandeira da democratização das sementes. Ampliaremos nossa campanha contra os
transgênicos, e pelo direito de cada agricultor cultivar sua semente. As sementes são
um patrimônio da humanidade! E não devem servir apenas de fonte de lucro de algumas
poucas empresas transnacionais que querem monopolizar as sementes. Queremos que os
cientistas continuem pesquisando e desenvolvendo novas variedades. Mas acima de tudo
estão a saúde da população e a preservação do meio ambiente.
Precisamos construir uma grande aliança internacional entre os mais diferentes setores
sociais que representam nossos povos, e a partir deles gerar uma nova correlação de
forças a nível nacional e internacional que nos permite enfrentar o império do capital
financeiro. O Império da ganância. O Império do militarismo. O Império do neo-
colonialismo. O Império da dominação cultural.
A Humanidade não resistirá mais um século de domínio do capital. É preciso recuperar a
trajetória histórica da humanidade e construir nossas sociedades fundamentadas
realmente nos pilares da igualdade, da solidariedade e a justiça social.
João Pedro Stedile es membro da direção nacional do Movimento dos trabalhadores rurais
sem terra-MST, membro da coordenação do Fórum social Mundial, de Porto Alegre.
João Pedro Stedile
Nos próximos dias 25 a 30 de janeiro estará acontecendo em Porto Alegre, o Fórum
Mundial das sociedades, em contraposição ao Fórum do capital, que se realiza todos anos
em Davos, Suíça. Ele será a continuidade de um longo caminho que estamos percorrendo
em torno da necessidade de criarmos mecanismos de articulação entre os povos de todo
mundo.
O final do século passado nos revelou a falência das articulações internacionais entre
governos. Elas não representam os interesses dos povos, mas apenas do capital. Alguém
de sã consciência acredita que as Nações Unidas representam de fato os interesses de
paz da humanidade? Alguém acredita na Organização mundial do comercio(OMC) na FAO, na
OTAN?
As reuniões dos governos do G-7 decidem mais sobre os destinos da humanidade, do que
dezenas de reuniões e Fóruns internacionais. E o G-7 representa os interesses de
acumulação de capital das grandes empresas transnacionais e do capital financeiro
internacional, que controlam a maior parte da riqueza produzida, o comércio e a
indústria em todo mundo.
A Humanidade nunca esteve tão à mercê da ganância e sobretudo da especulação financeira
como hoje. Os grandes temas da humanidade foram abandonados, na grande imprensa, nas
reflexões acadêmicas, na pesquisa cientifica, simplesmente por que não dão lucro para
quem domina e hegemoniza o mundo.
Algum organismo governamental internacional está seriamente interessado em resolver o
problema da Fome? O problema da exclusão social dos povos da África? Os problemas de
saúde pública? O problema da falta de trabalho para grande parte da população mundial?
O problema da concentração da riqueza e o aumento da desigualdade social? Alguém está
preocupado com a manipulação da informação que as grandes agencias de noticias fazem?
Os temas que a imprensa internacional divulga e que interessa aos donos do mundo são
apenas: taxas de juros, tarifas alfandegárias, oscilações da bolsa, livre comercio,
desregulamentação de direitos trabalhistas, narcotráfico (desde que não se toque nos
depósitos nos bancos americanos), intervenção em países que não se subordinam a lógica
de dominação e controle das fontes de energia.
Mas os povos estão diante de grandes dilemas. Muitos de nossos problemas no hemisfério
sul, somente se resolverão com revoltas populares contra governos despóticos e
neocoloniais, para implantar regimes políticos de democracia popular que tenham a
coragem de reorganizar a economia voltada para os interesses da população.
Outros problemas comuns somente se resolverão se conseguirmos levar adiante mecanismos
de articulação que construam a nível internacional alianças entre os povos. Não mais
entre os governos.
As experiências de mobilizações massivas em Seatle, Washginton, Praga, e outros
localidades, em que se manifestaram pessoas oriundas de diversos setores sociais e de
muitos países, são sintomas importantes de que é possível construir alianças, sem os
governos, e contra os governos e as grandes empresas transnacionais.
Nossa expectativa é de que o Fórum social Mundial contribua para esse caminho de
construção de organismos internacionais verdadeiramente representativos dos povos.
Certamente será um longo caminho. Depende de articular movimentos com
representatividade social e não meramente formais. Depende do exercício da pluralidade
ideológica, étnica e cultural. Da tolerância política. E da sabedoria para pautar os
verdadeiras problemas que a humanidade enfrenta.
O MST seguirá desenvolvendo todos os esforços possíveis em suas relações internacionais
para construir essa grande aliança entre os povos. Seatle, Praga, Porto Alegre são
pontos de encontro e de reflexão. São momentos simbólicos. Mas são insuficientes
ainda.
Esperamos que o Fórum social Mundial expresse também a solidariedade e apoio a todos os
povos do mundo que estão resistindo contra a avalanche do capital e da hegemonia norte-
americana. Como nossos irmãos palestinos, os estudantes da Korea, o povo da Indonésia,
do Timor, da Venezuela, do Peru, da Colômbia.
Em Porto alegre, os movimentos camponeses vindos de todos os continentes, levantaremos
a bandeira da democratização das sementes. Ampliaremos nossa campanha contra os
transgênicos, e pelo direito de cada agricultor cultivar sua semente. As sementes são
um patrimônio da humanidade! E não devem servir apenas de fonte de lucro de algumas
poucas empresas transnacionais que querem monopolizar as sementes. Queremos que os
cientistas continuem pesquisando e desenvolvendo novas variedades. Mas acima de tudo
estão a saúde da população e a preservação do meio ambiente.
Precisamos construir uma grande aliança internacional entre os mais diferentes setores
sociais que representam nossos povos, e a partir deles gerar uma nova correlação de
forças a nível nacional e internacional que nos permite enfrentar o império do capital
financeiro. O Império da ganância. O Império do militarismo. O Império do neo-
colonialismo. O Império da dominação cultural.
A Humanidade não resistirá mais um século de domínio do capital. É preciso recuperar a
trajetória histórica da humanidade e construir nossas sociedades fundamentadas
realmente nos pilares da igualdade, da solidariedade e a justiça social.
João Pedro Stedile es membro da direção nacional do Movimento dos trabalhadores rurais
sem terra-MST, membro da coordenação do Fórum social Mundial, de Porto Alegre.
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