Pensando o Brasil

A esperança vencendo a decepção

01/09/2005
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Está difícil pensar o Brasil. Os últimos acontecimentos, desmoralizando o Congresso Nacional -que deveria ser para o povo a grande referência da "ordem e o progresso" e estraçalhando o PT - que parecia ser "a esperança vencendo o medo", tornam difícil pensar o Brasil. Que Brasil temos? Que Brasil queremos? Que Brasil podemos ter já? E que Brasil forjamos para um futuro próximo, um verdadeiro "Brasil de todos"?. Os grandes meios de comunicação e os grandes do dinheiro se refocilam com essa situação do PT e também do Lula, que pelo PT chegou à presidência. Esses grandes são hipócritas e cínicos. A corrupção vem de longe e antes era maior e era a corrupção deles. Só que não aparecia ou não era julgada. Também é necessário sublinhar, para que certos partidos não se considerem agora imaculados e salvadores, que ainda o PT continua a ser o maior partido do povo e para o povo, no Brasil, e que há muito PT, sobretudo nas bases, que não é corrupto. Certamente, o PT (e com ele o Governo de Lula) tem que reconhecer suas culpas e aprender a lição. Certas alianças só levam a certas concessões e a certas claudicações. O fim justo não justifica os meios injustos. E o Partido e o Governo não são o fim. A reeleição não é o fim. Não se deve assegurar o poder para continuar no poder mas, em todo caso, para servir ao povo. Já sabemos, por longa experiência mundial, que o poder facilmente corrompe. Rubem Alves escreve muito sabiamente: "A política, como vocação, é a mais nobre das atividades do ser humano; como profissão, a mais vil". O PT-cúpula tem que entender também que o Brasil povo não precisava nem queria continuar sendo uma colônia do FMI ou do BM, nem um escravo do sistema financeiro, nem uma marionete das elites privilegiadas. Para isso, bastava continuar com os partidos da direita e suas corrupções de sempre. O Brasil-povo necessitava e queria se libertar do sistema neoliberal, das multinacionais espoliadoras, das privatizações entreguistas, do arrocho salarial, da oligarquia sugadora, da política podre, enfim. O Brasil-povo necessitava partir para outra política. Para uma política popular e social, a cujo serviço estaria a política econômica. Já chega de ter que reconhecer que o Brasil está bem quando o povo está mal. A política não é para o governo e o governo não é para o capital; são, devem ser, para o povo, para a vida. Primeiro a mesa de família, depois a exportação. Primeiro as dívidas internas, essenciais; depois a dívida externa. E, no dia a dia, menos publicidade e mais reforma agrária e mais emprego e mais quilômetros de estrada boa e mais SUS eficaz em todos os cantos do País... Os sonhos do povo e as promessas da campanha foram traídos. A esperança estava vencendo o medo, quando a decepção caiu sobre o povo, mais uma vez, como uma fatalidade histórica. Será mesmo que este Brasil de todos os jeitinhos não tem jeito?. Entidades políticas, sociais, sindicais, culturais, religiosas, a cidadania, a sociedade civil, vêm lançando manifestos e programas. "Ética na política. Pelo fim da impunidade, por justiça para todos e todas", é o manifesto de várias entidades ecumênicas, como a CESE, o CONIC, a CLAI. Mais de 50 movimentos sociais lançaram a "Carta ao Povo Brasileiro", "contra a desestabilização política e a corrupção; por mudanças na política econômica, pela prioridade nos direitos sociais e por reformas políticas democráticas". O deputado federal Ivan Valente (PT/SP) escreve oportunamente: "Podemos estar perdendo uma chance histórica de mudança... Se trata de saber se o projeto histórico que levou o Lula ao governo federal foi derrotado em quanto projeto político, por não ter feito a mudança social a que se comprometeu". E o sociólogo Emir Sader concretiza: "É preciso fazer um balanço autocrítico... Retomando os temas fundamentais da esquerda, começando pela ética na política e pela prioridade das políticas sociais, mas, também, por um modelo econômico centrado no mercado interno de consumo popular, pela reforma agrária, pela economia familiar camponesa, pela luta contra os transgênicos, pelos direitos dos povos indígenas, pela defesa da Amazônia, pelo orçamento participativo, por uma reforma política democrática e pluralista, pela integração latino americana e do Sul do Mundo...". Tudo isso? Pois sim, tudo isso, cada dia, vencendo o medo, vencendo a decepção, dando cada um de nós tudo de nossa parte e exigindo de quem pode e tem que dar, porque é autoridade, com responsabilidade maior. Além de vencer a decepção, temos que vencer também o servilismo, limpar a própria corrupção quiçá e reforçar nossa participação na política, que continua a ser "uma das maiores expressões do amor cristão", apesar de tudo o que se passa no Congresso e aparece na televisão e brota no coração da gente.
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