Eleições ganham contorno de decisão no primeiro turno

01/10/2002
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A sensação que a escolha do próximo presidente possa ser definida no primeiro turno criou uma expectativa tal que pode trazer prejuízos a Lula se isso de fato não acontecer. O "governo" ainda não jogou a toalha, mesmo que seja grande o desânimo entre os principais coordenadores e mentores da candidatura José Serra. A candidatura oficial. O boato de hoje foi a sobre a renúncia do candidato Ciro Gomes. Uma pesquisa divulgada pela "Rede Globo" e feita pelo IBOPE, mostra o candidato fora da disputa pelo segundo lugar e consequentemente, por uma eventual vaga no segundo turno. Serra e Garotinho estão tecnicamente empatados e Lula cresceu dois pontos, sem atingir, no entanto, os 50% mais um necessários para a vitória já. Tem 48% dos votos válidos. Ciro Gomes desmentiu a renúncia. Mas é visível o seu abatimento. Quem convive com o candidato fala que a decisão de Brizola de pedir publicamente que saia do páreo e apoie Lula, teve efeito devastador sobre seu ânimo. Serra joga um jogo perigoso. Sem condições de crescer na reta final. Bombardeado de todos os lados por todos os candidatos, aposta que Garotinho tome votos de Lula, principalmente os votos evangélicos, sem no entanto ultrapassá-lo. Conta com isso, entre outras coisas, para chegar ao segundo turno. Há indícios claros que corre o risco de ficar fora e uma eventual disputa entre os dois mais votados seja entre Lula e Garotinho. Nos estados a pretensão de Benedita da Silva de disputar um segundo turno contra Rosinha Mateus só por milagre. O dia de cão vivido ontem pelo Rio teria viabilizado as condições para a candidata do PT se hoje não ficasse provado que o tráfico parou a capital e várias cidades da região metropolitana. O secretário de Segurança jogou a pá de cal. Insinuou que havia uma jogada política para derrotar a governadora, sabendo que gravações feitas pela Polícia mostravam a ação dos traficantes. Isso, todavia, não impede que a jogada política tenha sido feita. O tráfico tem partido e candidatos. O ex presidente Tancredo Neves, todas as vezes que referia-se às mortes seguidas de Juscelino, Jango e Lacerda, não nessa ordem, dizia que "em política não há coincidência. A coincidência nunca é coincidência". O que aconteceu foi uma desastrada manobra do secretário de Segurança e que chegou a ser veiculada pela própria "Globo", interessada em derrotar a mulher de Garotinho (uma das principais concorrentes do grupo Marinho é a "Record", do bispo evangélico Edir Macedo). Lula safa-se no Rio pelo sentimento nacional de mudança. Benedita e sua equipe, desde o início, nunca deixaram de ser um equívoco político. Por maior que seja a boa vontade e por mais importante que seja derrotar o "tráfico de milagres" do projeto de aiatolá brasileiro, Anthony Garotinho. As emoções estão reservadas para o debate na maior rede de televisão do País, na quinta-feira. Todos os principais candidatos lá estarão e alguns jornais falam em bomba de Serra contra Lula. Seria a repetição do estilo Collor, em 1989. A rigor, a única diferença entre Collor e Serra é física, na aparência. No resto, em tudo e por tudo, são iguais: bandidos que atuam na política. A queda do dólar foi apenas um ajuste entre banqueiros e o preposto de Soros, Armínio Fraga. Temeram pelo pior, algo como matar a galinha e depois não ter mais os ovos de ouro. Os ganhos foram absurdos. No mês a cotação da moeda norte- americana subiu 25%. Ou seja, cinco vezes a inflação do ano. Todo o esforço para tentar viabilizar o segundo turno parte dos grupos mais intransigentes da direita brasileira. Apostam tudo em Serra. Várias empresas do setor comercial estão anunciando planos de pagamento com entrada em 45 dias. É o número de Serra na urna eletrônica. Repetem um expediente utilizado nas duas campanhas de FHC por uma grande rede de venda de eletrodomésticos. A direita que come de garfo e faca quer liquidar o assunto de vez para evitar que o caos, conseqüência do desmanche nos oito anos de FHC, Malan e Fraga, chegue de forma inevitável. Mangabeira Unger, principal ideólogo de Ciro Gomes, escreveu um artigo no jornal "Folha de São Paulo", pedindo a eleição de Lula e a renúncia do seu candidato, de todos os candidatos de oposição para evitar que Serra tenha alguma chance. Mangabeira é do PPS, partido de Ciro, mas é amigo de Brizola. No partido de Brizola, o PDT, já foi candidato a deputado federal em 1986. Não conseguiu eleger- se. Há perplexidades nestes últimos momentos. O TSE deu seis minutos do programa de Serra, na quinta-feira, a Lula, a José Dirceu e ao PT, nessa ordem. A decisão veio logo em seguida a outra: a que unanimemente negou o afastamento do presidente daquela Corte, Nelson Jobim, acusado por um grupo de juristas brasileiros de parcialidade. Ou Jobim jogou a toalha, ou a decisão foi para exibir suposta imparcialidade, ou, o mais provável, a confiança na votação eletrônica tranqüiliza a turma. O PT custou a acordar para essa realidade: fraude na votação. Não há como recontar, conferir. Só quem conhece o programa, além do ministro presidente, é a ABIN, antigo e famigerado SNI, da ditadura militar. Está montando, o partido, um esquema para monitorar algumas urnas e tentar inviabilizar, ou pelo menos denunciar qualquer situação duvidosa. José Dirceu, presidente do partido, deu aval a Jobim quando do anúncio do programa de votação, mesmo sem conhecer e advertido por especialistas que aquilo era uma fria. Lula segue sua estratégia sem qualquer mudança. Encerrou a campanha pública com um comício em São Bernardo da Borda do Campo, importante centro industrial paulista e onde começou como metalúrgico e líder sindical. Descansa para o debate na quinta. Quer evitar que o cansaço da campanha atrapalhe caso o encontro entre os candidatos vire um ato pró segundo turno. Garotinho quer e Serra também . O "socialista" para ganhar, como disse a jornalistas, maior poder de barganha num governo Lula: "se eu for para o segundo turno depois negociam comigo. Se não for, vão procurar a cúpula do partido". Quer um ministério. È um cara de pau sem tamanho. Serra porque sabe que mesmo sendo o mais rejeitado e com o País à matroca, o poder econômico vai jogar tudo para que seja o próximo presidente, no seu caso capataz. Como não tem um pingo de escrúpulo está, desde a semana passada, num vale tudo contra Lula e tentando evitar as mordidas de Garotinho no calcanhar. Armando Falcão, um ex ministro da Justiça da ditadura militar e um dos políticos brasileiros mais traiçoeiros (traiu meio mundo em função sempre dos seus interesses) na história do País, costumava dizer que "o futuro a Deus pertence". No caso do Brasil, pertence à tal urna eletrônica de Nelson Jobim, o compadre de Serra. É por aí o principal perigo. O fato mais curioso, no mínimo intrigante, é o comportamento da "Globo". Deu a sensação que queria "ajudar" Benedita, enterrou a candidata. Só milagre repito. Parecia ter "lulado", na terça teve uma recaída. Deve ser duro ter rabo preso e não poder fazer jornalismo independente, sério e sem compromisso com quem dá a grana. No caso os bancos, as grandes corporações e o erário público. É ficar de olho. Nunca se sabe. Foi ela em 1989 quem abriu espaço para Collor e suas manobras torpes e sujas.
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