O triângulo das bermudas e o ministro reconhece Washington como capital
Dia de medo. dia de sem vergonhice
30/09/2002
- Opinión
O que aconteceu no Rio de Janeiro não tem paralelo na história do País. A
cidade não funcionou. Comércio, indústria e escolas fechados, população em
casa temerosa diante da violência, tudo um dia depois que as pesquisas
eleitorais mostram a possibilidade de segundo turno no Estado. A candidata
favorita Rosinha Mateus caiu alguns pontos e a atual governadora, Benedita
da Silva, subiu. Estranho, muito estranho. Só Rosinha beneficia-se disso.
Os advogados dos dois principais traficantes presos, Fernandinho Beira-mar
e Elias Maluco negaram que seus clientes tivessem dado ordem para esse dia
de medo. Ambos estão presos em regime de confinamento, sem qualquer contato
com quem quer que seja, a não ser policiais e advogados. Quem sabe são
telepatas?
O brasileiro tem a natureza dos povos generosos. Acredita. É dado a só
desacreditar diante de fatos consumados, quando já não há mais jeito. Não
avalia os perigos que estão escondidos em caras piedosas e propostas de
mudanças demagógicas. Em termos de governos estaduais são dois: Rosinha
Mateus e Aécio Neves. Se não houver uma reversão nas expectativas criadas
pelas pesquisas dos principais institutos, vai sofrer na própria pele e
aprender assim, mais uma vez, o que significa deixar iludir-se por bandidos
travestidos de políticos.
Se o que aconteceu no Rio teve dimensões absurdas, esse tipo de prática,
naquele Estado, não é novidade. Brizola foi vítima de situação semelhante,
em 1986, quando Darcy Ribeiro perdeu o governo para Moreira Franco. Às
vésperas das eleições o principal traficante José Carlos dos Reis Encina, o
Escadinha, com a colaboração de policiais, fugiu do presídio da rua Frei
Caneca num helicóptero. O fato foi decisivo para vitória de Moreira
Franco. É difícil acreditar que o carioca se deixe iludir por uma dupla de
políticos corruptos, que fazem da fé um instrumento de banditismo.
Garotinho e sua mulher Rosinha Mateus.
Esse foi o dia do medo.
Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco só não se beijaram porque ficaria
mal. Trocaram juras de amor na reconciliação, falaram em grandeza, em
sacrifício pelo País, coisas de um "presidente" em final de mandato e
tentando salvar a própria pele, vender a imagem de estadista e de um
governador, ex presidente, que se não é louco beira a loucura. FHC foi a
Minas pedir votos para Serra e liberou 500 milhões de reais para que Itamar
Franco possa pagar o 13º mês de salário dos servidores públicos. Itamar
apoia Aécio Neves para o governo estadual e, segundo ele, também a Lula.
Há cerca de dois meses atrás, em conversa com jornalistas, o governador e
ex presidente disse que se fosse eleito presidente, era pré candidato, "o
senhor Fernando Henrique vai para a cadeia por corrupção".
Esse foi o dia da sem vergonhice.
São Paulo, Minas Gerais e o Rio de Janeiro são conhecidos como o "Triângulo
das Bermudas". Em termos de eleições. Quem afunda ali afunda no resto do
Brasil, não vence eleições. O próprio presidente do IBOPE disse isso numa
entrevista à imprensa. Serra perde nos três estados. Lula ganha em dois,
São Paulo e Minas e está empatado com Garotinho no Rio. Pelo menos é o que
dizem as pesquisas.
Uma das futuras dificuldades de Lula, confirmada sua eleição, resulta do
fato que naqueles estados são favoritos dois candidatos do PSDB (partido de
FHC) e uma do PSB, a mulher de Anthony Garotinho. Em São Paulo e Minas os
tucanos e no Rio a "socialista".
As últimas pesquisas indicam que José Genoíno do PT pode disputar um
segundo turno contra o tucano Geraldo Alckimin e que Benedita da Silva tem
chances de conseguir o mesmo contra Rosinha Mateus. Em Minas só agora o PT
acordou para o conto do Itamar e viu que o sapato não cabe no pé da
Cinderela. O governador fala uma coisa, aparece para dizer que é assim, na
hora agá arranja uma tal confusão que ninguém fica sabendo direito o que
ele deseja. Uma coisa é certa: Itamar é só um projeto pessoal e fecha de
forma melancólica sua carreira política. Uma lástima.
A derrota em Minas é injustificável. O candidato do PT, Nilmário Miranda, é
de longe o melhor de todos os que disputam o governo do Estado e teria
melhores chances hoje se a direção nacional não ouvisse o canto da sereia
de Itamar. A essa altura do campeonato é quase impossível vencer Aécio que
ganha exclusivamente por ser neto de Tancredo Neves. Ganha no vácuo do
nome. É outro embuste e os mineiros só vão perceber o embuste, salvo
milagre, quando estiverem sofrendo na própria pele o desastre tucano. Esse
é o dia das incertezas. Segunda-feira próxima, dia 7, pode vir a ser o do
arrependimento.
O efeito do dia do medo no eleitorado do Rio não sei, é difícil medir.
As eleições serão realizadas no domingo.
O efeito do abraço de Itamar e FHC, esse então, inimaginável, embora as
primeiras reações sejam de asco diante de tanta falta de pudor.
O que vai acontecer nas eleições em Minas e São Paulo, ou no Rio, no
Triângulo das Bermudas é uma incógnita. Mas Rio e Minas são resultado dos
equívocos da direção nacional do PT e podem representar problemas futuros
se forem confirmadas as previsões.
No mais, o dólar baixou. O apetite dos especuladores não diminuiu mas
prevaleceu a esperteza. Ganharam uma fábula em poucos dias e hoje ficou
difícil atribuir a culpa a Lula. As bolsas despencaram em todo o mundo e a
razão principal está na Casa Branca.
Ali, todo dia é dia de loucura.
Ou cretinice. Pedro Malan foi a Washington defender a permanência de
Armínio Fraga na presidência do Banco Central durante a transição, até
março. Não é um ato simbólico. É o reconhecimento de fato que, para ele,
como para esse "governo", a capital é Washington.
O "Vox Populi" diz que Lula subiu dois pontos, chegou a 43%. Serra caiu um
ponto, ficou com 18%. Garotinho tem 15% e Ciro tem 13%. Lula, a julgar por
esses números, tem 47,25% dos votos válidos. Vai ser essa guerra a semana
inteira. Faz parte do esquema. A turma não joga a toalha antes de jeito
nenhum. Tem muita coisa em jogo.
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