ALCA, Alcântara, Patônia e Colômbia – o poder do império
13/07/2002
- Opinión
Zenaldo Coutinho é um deputado do estado do Paraná e nem sei a que partido
pertence. Deu um parecer contrário ao acordo militar Brasil-Estados Unidos, e uma
semana depois modificou-o: deu outro favorável. Se alguém perguntar quem é
Zenaldo Coutinho, a exceção do seu ambiente eleitoral, ninguém sabe, ninguém
conhece e, provavelmente, no Congresso Nacional, será daqueles deputados
inexpressivos, convocados todas as vezes que é necessário um pilantra para
corroborar qualquer pilantragem dos grandes, quando os grandes não querem sujar as
mãos de forma explícita.
O roteiro desse filme é bem conhecido: na era FHC vem precedido de uma conversa ao
pé do ouvido, um acerto de verba aqui, outro ali, sobretudo em ano de eleição e
gente como Zenaldo Coutinho, sem qualquer caráter, ou resquício de dignidade, faz
qualquer negócio numa hora dessas, todas as horas.
Há uma história antiga que corre as redações de jornais, sobre o início da
carreira de Assis Chateaubriand, antes de ser o todo poderoso que foi, o Chatô.
Contam que modesto redator foi solicitado pelo editor a escrever um artigo para a
edição de sexta-feira da Paixão. Chatô teria perguntado: “contra ou a favor de
Cristo?”
Zenaldo Coutinho é isso aí. Sem o brilho canalha de Chatô. Só a sombra podre da
penumbra dos negócios escusos.
O plebiscito previsto para setembro, convocado por entidades do movimento popular,
com ampla participação da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – vai,
como aconteceu no plebiscito da dívida externa, coroar uma mobilização nacional,
cercada de um intenso debate, sobre ALCA – Associação de Livre Comércio das
Américas – e suas conseqüências para o Brasil. Com todas as dificuldades que esse
de tipo de iniciativa enfrenta.
A ALCA, na verdade, já existe. É o avanço sistemático e organizado do império
norte-americano sobre a América Latina, na conjuntura atual sobre o mundo inteiro.
Sem freios e respaldados pelo poder militar daquele país.
Isso começou, para marcarmos um referência, logo após o término da II Grande
Guerra, com a política dos irmãos Dulles para essa parte do continente americano.
Seguiu-se com nas tentativas sedutoras de John Kennedy (solertes, traiçoeiras,
como a Aliança para o Progresso), passou Johnson e Nixon, o período das ditadura
militares (a doutrina de segurança nacional, o tal efeito dominó) e desembocou na
democracia burguesa e no neo liberalismo dos dias de hoje.
A barbárie imposta às nações latino americanas, o regime de servidão, o neo
colonialismo como definem alguns estudiosos, atinge seu ápice com a soma de ALCA
mais bases militares, algo como uma rede atirada ao mar e que recolhe todos os
peixes naquela determinada área.
Para isso, lógico, contaram e contam com a ajuda de governantes corruptos, sem
nenhum escrúpulo, como foi o caso de Menem, é o caso de FHC, de Fox no México,
Toledo no Peru, Duahalde agora na Argentina e assim, a exceção de Hugo Chaves e
Fidel Castro, na Venezuela e em Cuba, em todo o resto da América Latina.
As bases idealizadas pelos norte-americanos situam-se na Colômbia, no Brasil e na
Patagônia, na Argentina. Um cerco completo sobre a América do Sul,
especificamente, já que a América Central é mera possessão (Cuba não) e a América
do Norte, desde muito, é deles (O México é uma espécie de quarto de despejo dos
Estados Unidos).
Quebra das barreiras alfandegárias. Suspensão de qualquer obstáculo ao comércio
entre países da América como um todo. Bases militares em regiões chaves permitindo
controle total para quem porventura ameace sair dos eixos e governos monitorados
por Washington. A corrupção é o instrumento preferido pelas classes dominantes
latino- americanas para cumprir ordens e executar tarefas quaisquer que sejam.
Só que, os Estados Unidos cercam de garantias os produtos que entendem sejam
essenciais ou indispensáveis à, digamos, ordem econômica interna. O caso do aço
brasileiro, ou da laranja, do suco, do calçado, todos sobretaxados.
O embaixador do Brasil nos Estados Unidos queixou-se da ausência de ação do
Ministério das Relações Exteriores brasileiro, no caso do aço, afirmando
taxativamente que a sobretaxa para importação já teria sido revogada se tivesse
havido o mínimo de empenho da chancelaria. Não houve nenhum. O chanceler
brasileiro, Celso Láfer, é aquele que tirou as calças e os sapatos quando chegou a
New York, numa vergonhosa e humilhante revista que aceitou como compreensível e
ainda justificou quando perguntado sobre o assnto.
O acordo militar que cede a base de Alcântara (Maranhão) aos Estados Unidos é um
crime de lesa pátria e de traição. Fernando Henrique sabe disso e tanto é assim
que os meios de comunicação sequer debatem o assunto, refiro-me aos grandes, que
passa batido no Congresso, por conta de deputados como Zenaldo Coutinho. Sem
qualquer preocupação que não seja a da conta bancária.
O deputado Waldir Pires, um dos grandes parlamentares do País, tem feito o diabo
para mostrar o quão nocivo ao País é o acordo. Total e completo domínio de um
setor indispensável ao futuro do Brasil, caso tenhamos alguma pretensão de
transformarmo-nos em nação próspera, em deixarmos de ser um grande país periférico
do capital internacional.
Esbarra na derrama de dólares sobre a maioria de pilantras do Congresso,
denominação que, originariamente, foi de Lula e que hoje o grupo do candidato
petista sequer quer ouvir falar.
Um amplo debate sobre o acordo e as suas conseqüências seria o natural e correto
numa democracia. Não a temos. Vivemos sob a égide do Executivo que, por sua vez, é
mero instrumento de gente como George Soros, da banca internacional e da vontade
absoluta do império corrupto de George Bush, o marionete preferido dos terroristas
que colocaram-no na Casa Branca (e por meio de fraude).
Há dificuldades para isso até dentro do próprio PT, já que, na ânsia de parecer
confiável ao capital internacional, Lula não quer saber do assunto, muito menos no
plebiscito sobre a ALCA. Corre, o debate, nos setores que resistem ao grupo
dominante no principal partido da esquerda brasileira.
ALCA, Alcântara, a base pretendida na Patagônia, a base na Colômbia, são meros
instrumentos militares de opressão e dominação de toda a América do Sul. Deixamos
definitivamente de sermos nação soberana e voltamos ao estágio de colônias.
Não é por outra razão que tenta-se a todo custo derrubar o presidente da
Venezuela. Que disparates como o de que Cuba produz armas químicas são plantados
por um terrorista maluco como Bush. Que presidentes venais como FHC são
transformados em governadores gerais, ou gerentes dos interesses dos Estados
Unidos.
É um processo agudo neste momento. O avanço dos Estados Unidos sobre a América
Latina é total, sem qualquer tentativa de dissimulação e a conivência de políticos
e governantes como FHC, Zenaldo Coutinho é revoltante.
A constante afirmação que estamos diante da perspectiva de barbárie torna-se, com
esse quadro, real e palpável.
Não pode, esse tipo de debate, por interesses eleitorais confusos e equivocados,
que são muito mais vontades pessoais e vocações autoritárias em setores da
esquerda, deixar de ser feito e da maneira mais transparente possível. Não há um
só mandato, qualquer que seja, que justifique o acordo militar com os Estados
Unidos, como a adesão a ALCA, sob pena de qualquer presidente, qualquer
presidente repito, não conseguir ser mais que gerente geral.
Humanizar o capitalismo como costumam afirmar alguns, isso não existe. Capitalismo
é ganância hoje, como sempre foi. O que vivemos é apenas a consecução do estado de
barbárie. Passos largos nessa direção.
Não é um debate de excelência para lá, excelência para cá. É questão de
sobrevivência nacional.
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