Cultura indígena

04/02/2002
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Por que o governo brasileiro não salva a única índia xipaia, já idosa, que resta no Pará? Caso contrário, com a morte dela desaparecerá mais uma das 3.000 línguas indígenas faladas quando aqui aportaram os portugueses, das quais estão vivas cerca de 160, faladas por 225 etnias. Às margens do rio São Miguel, em Rondônia, habitavam os índios puruborás, que dominavam o idioma do mesmo nome. Tanto o grupo indígena quanto a língua chegaram a ser considerados extintos. Porém, pesquisadores do museu paraense Emílio Goeldi encontraram, recentemente, os últimos remanescentes - dois primos que não falam o idioma há 30 anos. Na Amazônia, predomina o ticuna, falado por cerca de 18 mil pessoas. Outros idiomas são o ge, o caripi e um dialeto, o nheengatu, resultado da fusão do tupinambá com o português, usual na região do Alto Rio Negro. Para preservá-los é preciso investir em pesquisa e documentação, o que o governo brasileiro não faz. O pouco que se faz é graças ao esforço heróico do Grupo de Línguas Indígenas do museu Emílio Goeldi, em Belém, cujas pesquisas obtêm financiamentos dos EUA e da Holanda. No Brasil, laboratórios estrangeiros apropriam-se de matéria-prima da flora nacional e de conhecimentos tradicionais das nações indígenas. No fim de 2001, 23 países reuniram-se com representantes do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Foi solicitado que as empresas remunerem as comunidades indígenas ao utilizarem seus conhecimentos e plantas. O documento foi entregue à OMPI (Organização Mundial de Propriedade Intelectual), agência da ONU. Nos últimos cinco anos, 97% das 4.000 solicitações de patentes feitas no Brasil vieram de empresas estrangeiras que pesquisam plantas, fungos e microorganismos desenvolvidos graças a conhecimentos indígenas. Embora o Brasil tenha a maior diversidade biológica do planeta, foi responsável por apenas 3% do total de pedidos de patente. Para os índios, seus conhecimentos são coletivos. Para as empresas, uma mercadoria que deve render lucros. Há séculos, usa-se no Brasil a espinheira santa para tratar problemas de estômago. Caso você não tenha a planta e recorra ao remédio, saiba que estará pagando ao laboratório Nippon Mektron Japan, dono da patente da planta. A substância captopril, obtida do veneno da jararaca, ajuda a controlar a pressão arterial. A patente pertence ao laboratório americano Squibb. Outro exemplo é o curare, que os índios utilizam na ponta de suas flechas e lanças para imobilizar suas presas. O uso do curare revolucionou as técnicas de anestesia cirúrgica. É usado também como relaxante muscular. A patente pertence aos laboratórios americanos Wellcome, Abbot e Eli Lilly. O curare é retirado do país em flechas supostamente levadas como ornamento. Bem faz a Igreja católica ao dedicar a Campanha da Fraternidade deste ano aos povos indígenas. Eles são a raiz de nossa brasilidade e, no geral, mais civilizados do que nós, habitantes do asfalto.
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