Após fortalecerem aliança no segundo turno das eleições, organizações querem sinalização do governo de que vai priorizar os pobres
Movimentos sociais querem "cobrar a fatura"
16/11/2006
- Opinión
Mudanças na política econômica e democratização dos meios de comunicação. Essas serão duas prioridades para 25 organizações populares brasileiras nos próximos meses. A definição foi tomada na 5ª Plenária da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), realizada em São Paulo no sábado (11).
No encontro, representantes das organizações de 14 estados avaliaram que o ponto alto da vitória do presidente Lula nas eleições foi o fortalecimento da aliança dos movimentos sociais. "Houve uma polarização no segundo turno que permitiu uma ação mais organizada dos movimentos. Agora, temos mais autoridade para cobrar", opinou o jornalista Altamiro Borges, convidado para fazer a análise de conjuntura no encontro. O calendário das mobilizações da CMS define duas atividades já para dezembro. No dia 4, a UNE promoverá um ato, em São Paulo, cobrando mudanças na política econômica. Já nos dias 6 e 7, a CUT organizará uma mobilização nacional pela valorização do salário mínimo. Os trabalhadores cobram aumento para R$ 420 e correção da tabela do Imposto de Renda de 7,7% (veja o calendário completo da CMS). Para o próximo ano, os movimentos prometem fazer intensas mobilizações nos meses de fevereiro, março e abril.
A avaliação na 5ª Plenária foi de que a derrota de Geraldo Alckmin, o fiasco da campanha da mídia contra a reeleição de Lula e o fracasso eleitoral do discurso tucano - de mais privatizações e corte de gastos públicos - construíram um cenário distinto para esse segundo mandato. Em 2002, a vitória do petista veio no rastro da Carta ao Povo Brasileiro e da postura defensiva em relação ao mercado financeiro.
Uma janela aberta, nesta nova conjuntura, é a oportunidade de denunciar o poder midiático, segundo os movimentos. "Devemos entrar com tudo neste debate, defender a criação de uma rede de comunicação pública (como diz a Constituição), rediscutir as políticas que orientam o uso das verbas publicitárias do governo e a repressão às rádios comunitárias", sugeriu Borges.
Em tempo: no primeiro mandato, a revista Veja e as Organizações Globo foram as maiores beneficiadas pela publicidade do governo federal, como publicação impressa e meio televisivo; já a atuação da Polícia Federal contra as rádios comunitárias foi mais intensa do que a no governo Fernando Henrique Cardoso. "Não se trata de censurar, mas precisamos dar voz a quem não tem. Queremos estimular um grande debate nacional sobre a democratização dos meios de comunicação e pela cobrança de uma rede pública", enfatizou João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional MST.
Mudanças na economia
Outro ponto a ser fortalecido pela CMS é a mudança na política econômica. "Precisamos ampliar a mobilização popular para reverter essa idéia de que neoliberalismo é um destino, de que não há alternativas", disse Sônia Coelho, da Marcha Mundial das Mulheres (MMS). Para Gustavo Petta, presidente da UNE, embora a direita tenha sido derrotada, falta convicção política do governo Lula sobre o projeto a implementar. "Só a pressão popular pode reverter isso. Queremos mudanças na política econômica, que é inconciliável com a promessa de ampliar o investimento em educação", disse. A organização fará um ato neste sentido no dia 4, no Largo São Francisco.
O secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício, acrescentou que, embora o voto em Lula não tenha sido ideológico, o momento é propício para a radicalização da ação política porque, desta vez, a esquerda ficou com a maioria pobre da população nas eleições. "Não vamos bater para fazer o jogo da direita, mas precisamos ter uma interferência nesse processo com mais força senão a direita vai levar", disse em referência à pressão exercida sobre o governo para cumprir a agenda conservadora (leia reportagem sobre o assunto).
Para o sindicalista, parte do movimento social teve excessiva cautela no primeiro mandato. "O segundo turno mostrou que a luta de classes não acabou. Lula precisa entender isso", afirmou. A posição da CUT é que a expectativa gerada pelo resultado das eleições aponta para um grande empenho para termos avanços em conquistas sociais, como a valorização do trabalho e a distribuição de renda. "Precisamos de ações conjuntas dos movimentos, como greves, paralisações", disse o secretário-geral da central, Quintino Severo. As organizações reunidas na CMS rejeitam a ortodoxia do Banco Central e cobram a retirada dos quadros da "direita tucana", que dão as cartas na autoridade monetária.
Vale do Rio Doce e Assembléia Popular
A 5ª Plenária da CMS também manifestou apoio à campanha pela anulação do leilão da Vale do Rio Doce, considerando a venda da estatal "um processo criminoso e ilegal que alienou esse estratégico patrimônio brasileiro", registrou a carta divulgada ao final do encontro. Outra definição foi o apelo para que as entidades da CMS passem a integrar também a Assembléia Popular, outra articulação dos movimentos sociais que conta também com setores da igreja e ONGs no intuito de discutir um projeto popular para o país.
Todas essas iniciativas buscam ampliar a articulação dos movimentos sociais no segundo mandato de Lula. João Paulo Rodrigues, do MST, acrescentou: "A conjuntura exige a construção da unidade em dois campos: na ação, com greves, manifestações, ocupações; e na questão programática, apresentando alternativas fundamentadas teoricamente e politicamente com as bases, como a construção do Projeto Brasil." Segundo ele, as organizações populares precisam ter o cuidado de manter o diálogo para o próximo período. "Não podemos queimar pontes; é melhor errar coletivamente do que acertar sozinho", avaliou.
João Pedro Stedile, também do MST, alertou que a reeleição de Lula não refletiu a vitória de um projeto popular, e ocorreu mais devido a uma identificação dos pobres e ao carisma do presidente. O sucesso eleitoral tampouco alterou o quadro político de hegemonia do capital financeiro e internacional. "Nosso desafio de fundo é reverter o refluxo dos movimentos de massas e estimular a luta social, com a formação de quadros dialogando no potencial da juventude excluída do meio urbano", avaliou.
- Jorge Pereira Filho, Brasil de Fato
No encontro, representantes das organizações de 14 estados avaliaram que o ponto alto da vitória do presidente Lula nas eleições foi o fortalecimento da aliança dos movimentos sociais. "Houve uma polarização no segundo turno que permitiu uma ação mais organizada dos movimentos. Agora, temos mais autoridade para cobrar", opinou o jornalista Altamiro Borges, convidado para fazer a análise de conjuntura no encontro. O calendário das mobilizações da CMS define duas atividades já para dezembro. No dia 4, a UNE promoverá um ato, em São Paulo, cobrando mudanças na política econômica. Já nos dias 6 e 7, a CUT organizará uma mobilização nacional pela valorização do salário mínimo. Os trabalhadores cobram aumento para R$ 420 e correção da tabela do Imposto de Renda de 7,7% (veja o calendário completo da CMS). Para o próximo ano, os movimentos prometem fazer intensas mobilizações nos meses de fevereiro, março e abril.
A avaliação na 5ª Plenária foi de que a derrota de Geraldo Alckmin, o fiasco da campanha da mídia contra a reeleição de Lula e o fracasso eleitoral do discurso tucano - de mais privatizações e corte de gastos públicos - construíram um cenário distinto para esse segundo mandato. Em 2002, a vitória do petista veio no rastro da Carta ao Povo Brasileiro e da postura defensiva em relação ao mercado financeiro.
Uma janela aberta, nesta nova conjuntura, é a oportunidade de denunciar o poder midiático, segundo os movimentos. "Devemos entrar com tudo neste debate, defender a criação de uma rede de comunicação pública (como diz a Constituição), rediscutir as políticas que orientam o uso das verbas publicitárias do governo e a repressão às rádios comunitárias", sugeriu Borges.
Em tempo: no primeiro mandato, a revista Veja e as Organizações Globo foram as maiores beneficiadas pela publicidade do governo federal, como publicação impressa e meio televisivo; já a atuação da Polícia Federal contra as rádios comunitárias foi mais intensa do que a no governo Fernando Henrique Cardoso. "Não se trata de censurar, mas precisamos dar voz a quem não tem. Queremos estimular um grande debate nacional sobre a democratização dos meios de comunicação e pela cobrança de uma rede pública", enfatizou João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional MST.
Mudanças na economia
Outro ponto a ser fortalecido pela CMS é a mudança na política econômica. "Precisamos ampliar a mobilização popular para reverter essa idéia de que neoliberalismo é um destino, de que não há alternativas", disse Sônia Coelho, da Marcha Mundial das Mulheres (MMS). Para Gustavo Petta, presidente da UNE, embora a direita tenha sido derrotada, falta convicção política do governo Lula sobre o projeto a implementar. "Só a pressão popular pode reverter isso. Queremos mudanças na política econômica, que é inconciliável com a promessa de ampliar o investimento em educação", disse. A organização fará um ato neste sentido no dia 4, no Largo São Francisco.
O secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício, acrescentou que, embora o voto em Lula não tenha sido ideológico, o momento é propício para a radicalização da ação política porque, desta vez, a esquerda ficou com a maioria pobre da população nas eleições. "Não vamos bater para fazer o jogo da direita, mas precisamos ter uma interferência nesse processo com mais força senão a direita vai levar", disse em referência à pressão exercida sobre o governo para cumprir a agenda conservadora (leia reportagem sobre o assunto).
Para o sindicalista, parte do movimento social teve excessiva cautela no primeiro mandato. "O segundo turno mostrou que a luta de classes não acabou. Lula precisa entender isso", afirmou. A posição da CUT é que a expectativa gerada pelo resultado das eleições aponta para um grande empenho para termos avanços em conquistas sociais, como a valorização do trabalho e a distribuição de renda. "Precisamos de ações conjuntas dos movimentos, como greves, paralisações", disse o secretário-geral da central, Quintino Severo. As organizações reunidas na CMS rejeitam a ortodoxia do Banco Central e cobram a retirada dos quadros da "direita tucana", que dão as cartas na autoridade monetária.
Vale do Rio Doce e Assembléia Popular
A 5ª Plenária da CMS também manifestou apoio à campanha pela anulação do leilão da Vale do Rio Doce, considerando a venda da estatal "um processo criminoso e ilegal que alienou esse estratégico patrimônio brasileiro", registrou a carta divulgada ao final do encontro. Outra definição foi o apelo para que as entidades da CMS passem a integrar também a Assembléia Popular, outra articulação dos movimentos sociais que conta também com setores da igreja e ONGs no intuito de discutir um projeto popular para o país.
Todas essas iniciativas buscam ampliar a articulação dos movimentos sociais no segundo mandato de Lula. João Paulo Rodrigues, do MST, acrescentou: "A conjuntura exige a construção da unidade em dois campos: na ação, com greves, manifestações, ocupações; e na questão programática, apresentando alternativas fundamentadas teoricamente e politicamente com as bases, como a construção do Projeto Brasil." Segundo ele, as organizações populares precisam ter o cuidado de manter o diálogo para o próximo período. "Não podemos queimar pontes; é melhor errar coletivamente do que acertar sozinho", avaliou.
João Pedro Stedile, também do MST, alertou que a reeleição de Lula não refletiu a vitória de um projeto popular, e ocorreu mais devido a uma identificação dos pobres e ao carisma do presidente. O sucesso eleitoral tampouco alterou o quadro político de hegemonia do capital financeiro e internacional. "Nosso desafio de fundo é reverter o refluxo dos movimentos de massas e estimular a luta social, com a formação de quadros dialogando no potencial da juventude excluída do meio urbano", avaliou.
- Jorge Pereira Filho, Brasil de Fato
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