“Papa desafia sonhos dos jovens”, diz Boff

22/07/2013
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Aos 74 anos, o teólogo da libertação Leonardo Boff está entusiasmado com as possíveis transformações da Igreja Católica. Segundo ele, desde que Jorge Mario Bergoglio tornou-se o papa Francisco, muita coisa mudou na estrutura milenar da instituição. “Os dois papas anteriores eram centrados na disciplina, agora o centro são os pobres”, define.
 
Em entrevista ao Brasil de Fato, o teólogo não economiza elogios ao papa argentino.“Ele é diferente. Papa Francisco vem de um cristianismo engajado nas transformações sociais”. Em tempos de Jornada Mundial da Juventude (JMJ), Boff também condenou a possibilidade de redução da maioridade penal, denunciou o extermínio da juventude pobre nas periferias do país e criticou os movimentos carismáticos da Igreja Católica.
 
Confira a entrevista:
 
Brasil de Fato - O papa Francisco defende que pobreza não se combate com filantropia, mas com justiça social. Qual o potencial que essa visão tem de transformar a Igreja?
 
Leonardo Boff - Essa é a tese da Teologia da Libertação, de Paulo Freire, e de todos os que trabalham na base com o pobre. Ou seja, nenhuma solução é eficaz se não incluir os pobres. O papa entendeu isso e está seguindo a tradição da Igreja latino-americana. Isso pode modificar muita coisa e significar um desafio para movimentos carismáticos que não seguem o evangelho social. As declarações de Francisco mostram esse rompimento: ele disse que o verdadeiro cristão tem que ser revolucionário, que todos têm que atuar na política. Ele também disse que preferia uma Igreja machucada porque foi à rua, do que uma Igreja doente e asfixiada que ficou no templo. Eu estou muito entusiasmado.
 
O Papa disse que “Cristo bota fé na juventude”. Que papel a Jornada Mundial da Juventude pode desempenhar na melhoria da qualidade de vida dos jovens?
 
Grande parte da juventude é conservadora, porque os movimentos carismáticos trabalhavam apenas com o conceito de piedade, e nunca falavam de desempregados, das desigualdades, da matança de índios, da destruição das hidrelétricas, por exemplo. É só “o pai nosso e nunca o pão nosso”. Agora com esse papa é diferente. Ele vem de um cristianismo engajado nas transformações sociais. Ele tem clara mensagem para o cristianismo comprometido e quer desafiar a capacidade de sonho dos jovens. Não basta ser cristão, tem que começar a refletir, tem que ser anti-sistema, anti-consumista, não pode ser vítima do marketing. É como o peixe de piracema que nada contra a corrente: cristão verdadeiro tem que ser contra esse sistema.
 
Ao mesmo tempo que o Brasil promove a JMJ, congressistas avaliam a possibilidade de reduzir a maioridade penal. Qual sua opinião sobre o encarceramento de jovens na prisão?
 
Na prisão quem não é bandido, vira bandido. É a pior escola de integração da sociedade. Reduzir a maioridade penal significa prender pobres e colocar junto com bandidos. É dentro das carceragens que se tramam assaltos e se aprende a estratégia de criminalidade. No sentido humanitário, precisamos criar alternativas, punindo de outras maneiras.
 
A Pastoral da Juventude denuncia o extermínio da juventude, sobretudo pobre e negra. Como essa pauta pode avançar com a JMJ?
 
Durante a jornada, o papa vai defender a vida. Ele conhece de perto esta situação da criminalização da juventude, até porque isso também acontece na Argentina, e o cenário é até pior do que no Brasil. Aqui, especialmente a polícia no Rio e em São Paulo, sobe o morro e não prende mais, eles matam. Pequisas mostram que a maioria dos jovens mortos levam tiro na cabeça, são execuções, ou seja, crimes contra a humanidade. O Estado não pode tolerar isso.
 
Sobre as recentes manifestações populares, papa Francisco comentou que são justas e que seguem o evangelho. Por que este discurso inova diante da antiga conjuntura da Igreja Católica?
 
Os dois papas anteriores eram centrados na disciplina, agora o centro são os pobres. Isso fica bem claro em seu discurso. Ele não se entende como papa, mas como bispo de Roma. Isso significa que é um bispo entre outros bispos. Ele preside na caridade e não no direito canônico. A grande novidade é que ele se propõe a fazer uma reforma da Cúria, uma instituição de mais de mil anos. Agora são oito cardeais para governar junto com ele e fazer as reformas necessárias.
 
- Vivian Virissimo, do Rio de Janeiro (RJ)
 
 
https://www.alainet.org/fr/node/77900?language=en
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