Venezuela: o triste e solitário final dos rambos de Trump
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O presidente venezuelano Nicolás Maduro descreveu como uma mentira o fato de seu colega estadunidense, Donald Trump, afirmar que não tinha conhecimento do que aconteceu em Macuto no domingo (3/5), quando as forças de segurança do Estado detectaram e impediram uma invasão marítima na qual havia soldados do país norte-americano envolvidos.
“Os mercenários estadunidenses estão detidos e já confessaram... Foram capturados em flagrante e estão sendo julgados em um processo justo”, garantiu Maduro, depois de mostrar um vídeo da confissão de um dos norte-americanos presos que participou da operação: Luke Alexander Denman, que confirmou o plano de ataque que estava em andamento, com o apoio do governo dos Estados Unidos.
“Os fatos falam por si. Surgiram testemunhos de primeira mão que demonstram a participação do dono da empresa Silvercorp (registrada no estado da Flórida), Jordan Goudreau, que já prestou serviços de guarda-costas a Trump em várias ocasiões (…) vamos solicitar a extradição de Jordan Goudreau ao governo dos Estados Unidos”, afirmou o presidente venezuelano.
Maduro confirmou a responsabilidade do autoproclamado presidente interino Juan Guaidó na chamada Operação Gideon. “O documento final da operação foi assinado pelos (empreendedores mercenários) Jordan Goudreau e Juan Guaidó. O Ministério Público e os tribunais de Justiça deverão determinar se ele deve ser capturado ou não”, disse o presidente.
“O contrato para a invasão da Venezuela já é público, notório e difundido comunicacionalmente. Se trata de um crime muito sério. Aguardo as ações do Poder Judiciário da Venezuela”, afirmou Maduro, que especificou que o contrato assinado com Goudreau tinha um valor de 212 milhões de dólares.
Ele também explicou que o ex-militar dos EUA Jordan Goudreau trabalhou por vários anos com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e foi escolhido pelo Departamento de Estado como chefe de segurança do show beneficente que foi organizado em Cúcuta, há um ano, como estratégia para invadir a Venezuela – e que terminou sendo outra operação frustrada.
Maduro também acrescentou que “logo, o Departamento de Estado entrou em negociações com a oposição venezuelana, liderada por Juan Guaidó, que por sua vez delega a Juan José Rendón, um fugitivo da justiça venezuelana, e a Sergio Vergara, o poder para contratar os serviços de uma empresa de segurança militar para realizar uma invasão militar à Venezuela. Essa negociação terminou em setembro de 2019”.
“As negociações para derrubar o governo venezuelano, e o contrato sobre a realização do serviço, foram solicitados por Mike Pompeo”, completou Maduro, mencionando o secretário de Estado dos Estados Unidos, depois de destacar que, até agora não há colombianos detidos na tentativa de invasão da Venezuela.
Maduro indicou que “os mercenários pensavam que seriam recebidos como heróis”, e afirmou que “Trump deu a ordem a (Iván) Duque para iniciar uma operação contra a Venezuela”, em referência ao presidente colombiano. Ele também anunciou que Alexander Ruso, Juvenal Sequea e Hernán Alemán (este último, deputado da oposição) “serão deportados e expulsos da Colômbia porque o senhor Duque se cansou do fracasso desses senhores”.
“Se houvesse uma mínima investigação na Colômbia, eles poderiam estabelecer rapidamente todos os vestígios e evidências de como Iván Duque, através do exército, ordenou o apoio a esses grupos”, disse o presidente da Venezuela.
Maduro garantiu que a DEA (sigla em Inglês do Departamento de Controle de Drogas dos Estados Unidos), através de cartéis e chefões da droga na Colômbia e na Venezuela, foram, supostamente, os responsáveis pela parte operacional e logística da “conspiração”, e especificou que os eventos que ocorreram em Petare (cidade no leste de Caracas, com mais de meio milhão de habitantes) nos últimos dias foram coordenados pela DEA, como parte da Operação Gideon.
Por outro lado, o líder venezuelano ordenou que seu ministro das Relações Exteriores Jorge Arreaza, enviasse vários informes com vídeos e contratos correspondentes sobre a suposta agressão norte-americana, para que essas evidências da “invasão marítima” sejam adicionadas ao processo que o país apresentou no TPI (Tribunal Penal Internacional). O presidente informou que irá ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), apresentar uma “denuncia contundente” sobre a Operação Gideon.
Os rambos de Trump?
Por meio do Departamento do Exército dos Estados Unidos, o jornalista venezuelano Rafael Fuenmayor obteve verificações de serviço dos sargentos aposentados Airan Berry e Luke Denman, presos na Venezuela, e Jordan Goudreau, que assume a responsabilidade pela operação.
Airan Berry serviu o Exército como Sargento de Engenharia das Forças Especiais (Boinas Verdes) de junho de 1996 a outubro de 2013. Ele esteve no Iraque três vezes. O sargento-mor Luke Denman serviu as forças especiais como sargento de comunicações de outubro de 2006 a dezembro de 2011, até passar à reserva em 2014. Ele esteve no Iraque por um semestre, no ano de 2010.
O sargento de primeira classe Jordan Goudreau serviu nas forças especiais do exército como sargento médico e bombeiro indireto entre fevereiro de 2001 a fevereiro de 2016. Durante esses 15 anos, ele foi destacado em quatro oportunidades.
Repercussões
Há poucas dúvidas no mundo de que os Estados Unidos estão por trás da nova tentativa terrorista que pretendia ser a ponte para uma intervenção militar em larga escala na Venezuela. Washington passou 18 anos tentando derrubar o governo revolucionário venezuelano. Em 2002, ele planejou e apoiou militares traidores – juntamente com a comunidade empresarial – para prender o presidente de Hugo Chávez, que ficou sequestrado por 47 horas.
Enquanto isso, Donald Trump disse que “o governo dos EUA não está envolvido no ataque”, mas um porta-voz do Departamento de Estado observou que "Washington analisará o papel de seu governo no `melodrama´”.
Roger Noriega, vice-secretário de Estado de George W. Bush, expressou preocupação de que os diplomatas dos Estados Unidos devem estar cientes da operação, relata o The American Conservative. “É inaceitável que eles digam que não sabiam", disse Noriega, devido às várias reuniões que Jordan Goudreau teve com funcionários do governo de Trump.
Enquanto isso, Luke Denman, um dos mercenários detidos nas costas de Aragua, pediu ao governo dos Estados Unidos que usasse “todos os seus recursos necessários para levá-lo a casa”, segundo relata o diário “Daily Mail”. Luke Denman e Airan Berry treinaram o grupo da Operação Gideon na Colômbia.
Na Venezuela, o opositor Enrique Ochoa Antich, em uma carta aos líderes da direita cmo Henry Ramos Allup, Manuel Rosales e Henrique Capriles Radonsky, destacou que a presença de conselheiros militares dos Estados Unidos na operação revela os extremos degradantes que a oposição ultra reacionária pode alcançar. “Nenhum venezuelano com um senso mínimo de nação pode não repudiar essa tentativa de invasão, junto com suas ambiguidades”, comentou.
Ochoa Antich também pergunta aos demais setores da oposição, que têm apoiado as medidas de Guaidó, por quanto tempo mais vai durar esse apoio. “Eles percebem o papel de secundários do extremismo que estão cumprindo? O extremismo de oposição arrastra todo o setor da direita a uma explosão de violência, derrotas sociais, desmoralização e desmobilização”, acrescentou o líder do Partido Socialista Liberal da Venezuela.
- Álvaro Verzi Rangel é sociólogo venezuelano, codiretor do Observatório de Comunicação de Democracia, e do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE)
*Publicado originalmente em estrategia.la | Tradução de Victor Farinelli
07/05/2020
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