O sonho da revolução não acabou
- Opinión
No dia 7 de novembro (25 de outubro, no calendário juliano), comemorou-se os 99 anos da revolução bolchevique, liderada por Lenin, que rompeu com o passado czarista na Rússia e abriu portas para uma nova etapa do desenvolvimento da humanidade.
Em 1921, por ocasião do quarto aniversário da Revolução de 1917, Lenin fez um breve balanço desses primeiros anos. Para ele, “a tarefa imediata e direta da revolução na Rússia era uma tarefa democrático-burguesa: derrubar os restos do medievalismo, limpar a Rússia dessa barbárie, dessa vergonha, desse enorme entrave para toda a cultura e todo o progresso no nosso país”.
E seguia: “Esta primeira vitória não é ainda a vitória definitiva e a nossa Revolução de Outubro alcançou-a com privações e dificuldades inauditas, com sofrimentos sem precedentes, com uma série de enormes insucessos e erros da nossa parte. Como poderia um povo atrasado conseguir vencer sem insucessos e sem erros as guerras imperialistas dos países mais poderosos e avançados do globo terrestre? Não receamos reconhecer os nossos erros e encará-los-emos serenamente para aprender a corrigi-los”.
Mas Lenin reconhecia que “a tarefa mais importante, e a mais difícil e a menos acabada — é a construção econômica, o lançamento dos alicerces econômicos do edifício novo, socialista”. E exatamente nessa tarefa ele alertava: “Como se poderia começar sem insucessos e sem erros uma obra tão nova para todo o mundo?”.
Sete décadas após, o final dos anos 1980 e início dos anos 1990, reservaram ao socialismo real no Leste Europeu uma derrocada política e econômica generalizada. Apesar disso, a experiência socialista a partir da Revolução Russa desempenhou um protagonismo mundial histórico ao imprimir nova dinâmica ao desenvolvimento dos povos, produzindo exemplos excepcionais nas áreas de educação, saúde e proteção social e propiciando menor desigualdade e maior solidariedade. Isso provocou mudanças no mundo capitalista a partir de experiências socialdemocratas.
Vários fatores influenciaram para a derrocada: a ausência de pluralismo político, o planejamento econômico ultracentralizado e a frágil capacidade competitiva da indústria socialista frente à economia capitalista desenvolvida que conseguiu uma apropriação mais adequada da revolução tecnológica para satisfação da demanda mundial.
A guerra fria funcionou como um freio ao desenvolvimento do mundo socialista, tornando a União Soviética, principal país do então bloco socialista, prisioneira da lógica bipolar voltada para a corrida armamentista e a luta ideológica. A abertura política e a tentativa de reestruturação econômica fracassaram, espremidas, de um lado, pela profunda crise econômica interna e, de outro, pela radicalização política entre o bloco conservador do partido comunista e o bloco liberal-reformista que insistia em destruir o ordenamento institucional e as conquistas socialistas.
A partir do fracasso socialista, o mundo capitalista desenvolvido, liderado pelos Estados Unidos, passou a viver a euforia de sua hegemonia econômica, política e militar, anunciando o fim da história. Mas o capitalismo neoliberal, a par de produzir riquezas, passou a destruir o estado de bem-estar social, produzindo conflitos sociais e imensas desigualdades. A globalização provoca exclusão social não só nos países pobres e em desenvolvimento, mas também nos países desenvolvidos, cujo desemprego estrutural causa uma apartação social sem precedentes na história da humanidade.
Mas o sonho não acabou e outro mundo é possível. A humanidade inclui todos os indivíduos e não apenas alguns. A sua sustentabilidade constitui responsabilidade de todos, os benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico não podem privilegiar somente poucos – devem ser socialmente distribuídos a todos. A política, a cultura e a cidadania devem ser universalizadas e expandidas, a democracia deve ser radicalizada. Todos devem ter os seus direitos básicos e de expressão garantidos. O Estado, o mercado e os organismos da sociedade civil devem ser democratizados. A economia deve atender as necessidades da sociedade e não ao mero interesse individual. A propriedade privada dos meios de produção deve cumprir a sua obrigação social.
Hoje, impõe-se uma nova ordem mundial onde a centralidade do desenvolvimento se oriente pelos valores humanos e democráticos, pela preservação do meio ambiente, da liberdade, da igualdade, da paz e da justiça. A fome e a pobreza devem ser erradicadas por todos os países com a solidariedade de todos. A partir de um novo fazer político mais generoso, é preciso construir uma nova revolução – democrática – que pavimente no presente o socialismo do futuro - humanista, universal, libertário e sem dogmas – moldado pela harmonia entre os povos e o respeito aos indivíduos e coletividades.
- Osvaldo Russo é conselheiro da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra), foi presidente do Incra e secretário nacional de Assistência Social.
Artigo publicado no Brasil Popular – 09/11/2016.
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