Terrorismo com face humana: a história dos esquadrões da morte dos Estados Unidos
15/01/2013
- Opinión
O recrutamento de morte-esquadrões, ou seja, esquadrões da morte, faz parte de uma agenda de inteligência militar bem establecida, nos Estados Unidos. Há uma longa história de fundação e apoio, dissimulado, as brigadas de terror e aos assassinatos de alvos políticos, que vêem do tempo da guerra do Vietnam.
As forças governamentais sírias, ainda hoje estão confrontando o auto-proclamado “Exército Livre da Síria” –FSA. No contexto atual isso exige o focusar das raízes históricas da guerra, por já encoberta, do ocidente contra a Síria, guerra essa que já resultou em inúmeras atrocidades. As raizes históricas da situação serão então aqui estruturadas e encaradas.
Desde o começo, em março de 2011, os Estados Unidos e seus aliados tem apoiado a formação de esquadrões da morte, assim como a invasão do território da Síria por brigadas terroristas. Trata-se de um trabalho organizacional, cuidadosamente planejado.
O recrutamento e o treino de brigadas terroristas tanto no Iraque quanto na Síria, foram modelados na denominada “Salvador Option”, aqui traduzida como “A Opção de El-Salvador”. Esse é um m modelo terrorista, para mortes e assassinatos em massa, efetuados por um governo estabelecido. Em El-Salvador, na América Central, o cenário visualizado pelo modelo “Salvador Option” foi implementado pelos esquadrões da morte patrocinados pelos Estados Unidos.
Esse modelo de recrutamento e treino de brigadas terroristas, por governos constituidos, foi implementado no próprio El Salvados no apogeu da resistência contra a ditadura militar no país. O resultado final foi avaliado em cerca de 75.000 mortes.
Os esquadrões da morte hoje na Síria fazem parte desse contexto. Tendo começado em El Salvador, o modelo foi desenvolvido no Iraque. Os esquadrões da morte hoje então na Síria foram construidos baseados na história e na experiência das brigadas terroristas do Iraque. Brigadas terroristas essas patrocinadas, como dito, pelos Estados Unidos.
O Pentágono denominou esse seu programa de “contra-insurreição”- “counterinsurgency”.
[Definindo termos: Favor observar aqui a necessidade de se exigir definições rigorosas, e convincentes, dos termos usados:- qual é a validade de se invadir um país e depois denominar a reação dos habitantes alternativamente como insurreição, rebelião, ou mesmo “terrorismo”?]
O estabelecimento dos esquadrões da morte no Iraque
Os esquadrões da morte patrocinados pelos Estados Unidos foram recrutados no Iraque em 2004-2005 numa iniciativa lançada abaixo da direção do embaixador americano John Negroponte, que foi mandado para Bagdá pelo Departamento do Estado Americano, em junho de 2004.
Negroponte era o homem certo para o trabalho, uma vez que tinha sido embaixador para Honduras de 1981 a 1985. Negroponte fez um papel central em apoiar e em supervisionar os Contras de Nicaragua, que estavam baseados em Honduras. Ao mesmo tempo ele também supervisionava as atividades dos esquadrões da morte – militares- de Honduras.
“No governo do general Gustavo Alvarez Martinez, o governo militar de Honduras era tanto um aliado íntimo da administração de Reagan quanto “fazia desaparecer” muitos oponentes políticos. Isso na clássica forma de trabalho usada por esquadrões da morte.”
Em janeiro de 2005, o Pentágono confirmou que estava considerando:
“formar esquadrões de ataque de combatentes Shia e Curdos , para atacar líderes da resistência iraquiana. Isso numa mudança estratégica vinda da experiência da luta contra as guerrilhas de esquerda da América Central, a 20 anos atrás” .
Abaixo da denominada “Opção El Salvador” forças iraquianas e americanas deveriam ser mandadas a matar ou sequestrar líderes da insurreição, mesmo na Síria, onde alguns dos insurgentes teriam tido então abrigo.
Esquadrões de ataque sendo controversiais, deveriam provavelmente ter de ser mantidos secretos.
A experiência dos “esquadrões da morte” na América Central continua a ser uma experiência brutal para muitos, e ainda continuam contribuindo para sujar a imagem dos Estados Unidos na região.
Tem se ainda que a administração de Reagan deu fundos e treinou times de forças nacionalistas para neutralizar os líderes rebeldes salvadorenhos, assim também como os que com eles simpatisavam.
John Negroponte, o embaixador americano em Bagdá, tinha um lugar privilegiado de observação dado o seu tempo como embaixador em Honduras de 1981-85.
Esquadrões da morte era uma parte brutal da política latino-americana de então...
No começo dos anos oitenta a administração de Reagan, deu fundos e treino aos Contras de Nicaragua baseados em Honduras, com o objetivo de derrubar o regime sandinista de Nicaragua. Os Contras foram equipados com o dinheiro obtido pela venda americana, ilegal, de armas ao Irã. Esse foi um escândalo que poderia ter derrubado Reagan do poder.
O impulso da proposta do Pentágono no Iraque... era o de seguir esse modelo...
Não ficou claro se o objetivo principal da missão seria o de matar os rebeldes ou sequestrá-los para levá-los a interrogatórios, no Iraque...mas.. Qualquer missão na Síria seria provavelmente feita pelas Forças Especiais dos Estados Unidos.
Também não ficou claro quem iria ter a responsabilidade pelo programa, se o Pentágono ou a Agência Central de Inteligência, ou seja, a CIA. Essas operações feitas abaixo de panos – encobertas, tem tradicionalmente sido feitas pela CIA, a um braço de distância da administração em poder, dando aos oficiais americanos a possibilidade de negar conhecimento da situação. (El Salvador-style “death squads” to be deployed by US against Iraq militants – Times Online, January 10, 2005, emphasis added – as ênfases foram acrescentadas)
Enquanto o objetivo especificado da “Opção Salvadorenha para o Iraque” seria a de acabar com a resistência, na prática as brigadas terroristas patrocinadas pelos Estados Unidos se envolveram em matanças rotineiras de civís, tendo em visto o atiçar uma violência sectária.
Por seu turno, a CIA assim como a MI6 estavam superintendendo unidades da “Al Qaeda no Iraque” envolvidas em assassinados de alvos demarcados e dirigidos contra a população Shiite. É importante de se ressaltar que os esquadrões da morte foram integrados assim como aconselhados, encoberta e dissimimuladamente, pelas Forças Especiais dos Estados Unidos.
Robert Stephen Ford – ..Depois apontado como embaixador dos Estados Unidos na Síria, fazia parte do time de Negroponte em Bagdá, durante o período de 2004-2005. Em janeiro 2004 ele foi mandado como representante americano para a cidade Shiite de Najaf, que era um foco forte do exército “Mahdi, com o qual ele fez contactos preliminares.
Em janeiro de 2005, Robert S. Ford foi apontado como Ministro Conselheiro para Assuntos Políticos – Minister Counsellor for Political Affairs- na Embaixada dos Estados Unidos, abaixo da direção do embaixador John Negopronte. Ele não sómente fazia parte do círculo mais próximo e fechado de Negroponte. Ele era também o associado dele no estabelecimento da “Opção Salvadorenha” no Iraque. O terreno já tinha então sido preparado em Najaf, antes da transferência de Ford a Bagdá.
John Negroponte e Robert Stephen Ford foram encarregados de recrutar os esquadrões da morte iraquianos. Enquanto Negroponte coordenava as operações a partir de seu gabinete na Embaixada dos Estados Unidos, Robert S. Ford que falava fluentemente tanto árabe como a lingua turca, teve a incumbência de estabelecer contactos estratégicos com os grupos militantes Shiite e Curdos, fora da “Zona Verde”-“Green Zone”.
Dois outros oficiais da embaixada, nomeadamente Henry Ensher – auxiliar ou deputado de Ford, assim como um oficial mais jovem da secção política, Jeffrey Beals, tiveram um papel importante no time que então “falava com alguns segmentos iraquianos, incluindo estremistas”. (Veja The New Yorker, March 26, 2007). Uma outra pessoa-chave no time de Negroponte era James Franklin Jeffrey, embaixador dos Estados Unidos, na Albânia 2002-2004. Jeffrey veio a tornar-se embaixador dos Estados Unidos para o Iraque, entre 2010-2012.
Negroponte também trouxe para dentro do time um de seus antigos colaboradores, o Coronel James Steele, retirado dos seus dias de apogeu em Honduras.
Durante a “Opção El Salvador” no Iraque, Negroponte foi assistido por um colega dos anos oitenta, ou seja, dos seus dias na América Central. Esse colega de Negroponte no Iraque era então o aposentado Coronel James Steele.
Steele, que recebeu em Bagdá o título de Conselheiro das Forças de Segurança Iraquianas -Counselor for Iraqi Security Forces- supervisionou a seleção e o treino dos membros da Organização Badr e do Exército Mahdi, as duas maiores milícias Shiitas, no Iraque. Isso com a intenção de fazer de alvo a direção e a rede de apoio da resistência, primordialmente Sunni, do Iraque. Tenha sido planejado, ou não, esses esquadrões da morte logo ficaram fora de controle e se tornariam na causa de morte número 1, no Iraque.
Se foi a intencão original ou não, o número de corpos torturados e mutilados surgindo nas ruas de Bagdá todos os dias foram obras dos esquadrões da morte, que por sua vez eram impulsionados por John Negroponte. E, foi a violência sectária apoiada pelos Estados Unidos que levou em muito grande parte ao infernal desastre que é o Iraque de hoje. (Dahr Jamail, Managing Escalation: Negroponte and Bush´s New Iraq Team. Antiwar.com, January 7, 2007)
De acordo com o Republicano Dennis Kucinich o coronel Steele era o responsávle, pela implementação do plano em El Salvador, onde dezenas de milhares salvadorenhos “desapareceram” ou foram assassinados, inclusive então também o Arquebispo Oscar Romero, assim também como quatro freiras americanas.
Logo do seu apontamento para Bagdá, o Coronel Steele foi encaminhado para a unidade de contra-insurreição, unidade essa conhecida como o Comando Policial Especial- “Special Police Commando”, abaixo do Ministério do Interior do Iraque. (Veja ACN, Havana, 14 de junho 2006).
Relatórios confirmam que “os militares americanos entregaram muitos prisioneiros para a Wolf Brigade – o temido 2º batalhão dos comandos especiais do ministério do interior” , que então estavam abaixo do comando do Coronel Steele. Os prisioneiros foram entregados para “interrogatórios adicionais”. . Peter Mass do New York Times confirma que:
“US soldados, conselheiros dos EUA, estavam em posição observando, sem fazer nada,” enquanto membros da “Wolf Brigade” batiam, assim como torturavam os prisioneros. Os comandos do Ministério do Interior do Iraque teriam então também tomado a biblioteca pública de Samara para a transformar num centro de detenção.
Uma entrevista conduzida por Mass em 2005 nesse local tranformado em prisão e em companhia do conselheiro militar americano da “Wolf Brigade”, o coronel James Steele, foi interrompida pelos gritos aterrorisados de um prisioneiro fora do local, disse ele. Steele como consta do protocolo foi empregado anteriormente como conselheiro para ajudar a esmagar a resistência em El Salvador.” (Ibid)
Um outro elemento notório que teve um papel no programa da contra-insurreição no Iraque foi o ex-Comissionário da Polícia de Nova Iorque, Bernie Kerik que em 2007 foi indicado em corte federal por 16 acusações judiciais.
Kerik foi o enviado pela administração de Bush, no começo da ocupação do Iraque, para organizar e treinar a força policial do Iraque. Durante o seu curto termo em 2003, Kerik –que preencheu o posto de interim Ministro do Interior- trabalhou para organizar unidades de terror dentro da Força Policial do Iraque:
Mandado para o Iraque para por as forças de segurança iraquiana em forma, Kerik usava a denominação “ministro interim do interior do Iraque”. Entretanto, conselheiros policiais britânicos o chamavam de o “exterminador de Bagdá”, (Salon, 9 de dezembro de 2004)
Abaixo da direção de Negroponte, da Embaixada dos Estados Unidos em Bagdá, uma onda de assassinatos encobertos de civís, assim também como assassinatos de pessoas entendidas como alvos, foi deslanchada. Engenheiros, médicos, cientistas e intelectuais foram alvos. O autor e analista geopolítico Max Fuller, documentou em detalhe as atrocidades cometidas abaixo do programa de contra-insureição patrocinado pelos Estados Unidos.
O aparecer dos esquadrões da morte entraram primeiramente em foco em maio de 2005 quando foi reportado que...dezenas de corpos tinham sido depositados...em terrenos baldios ao redor de Bagdá. Todas as vítimas tinham as mãos presas em algemas, estavam com os olhos vedados e tinham sido baleadas na cabeça. Muitos deles mostravam sinais de terem sido brutalmente torturados...
A evidência foi suficiente para motivar a Associação de Acadêmicos Muçulmanos –Association of Muslim Scholars, AMS, uma conhecida e importante organização Sunnita a fazer declarações públicas na qual acusavam as forças de segurança ligadas ao Ministério do Interior, assim como a Badr Brigade, a ex-ala armada do Conselho Supremo da Revolução Islâmica no Iraque –Supreme Council for Islamic Revolution in Iraq, SCIRI, por estar por detrás dessas mortes. Eles também acusaram o Ministério do Interior de estar conduzindo terrorismo de estado (Financial Times).
Os Comandos Policiais assim como a “Wolf Brigade” eram supervisionadas pelo “programa de contra-insurreição”, no Ministério do Interior do Iraque.
Os Comandos Policiais eram formados abaixo da experiência, tutelagem e supervisão de combatentes americanos, veteranos de contra-insurreição. Os comandos policiais iraquianos então, desde o começo conduzindo operações conjuntas com as unidades de forças de elite, altamente secretivas.(Reuters, National Review Online).
...James Steele foi uma figura chave no desenvolver dos Comandos Especiais da Polícia - Special Police Comandos do Iraque. Ele foi um operativo das forças especiais do Exército dos Estados Unidos, que tendo começado no Vietnam foi depois mandado para dirigir a missão militar dos Estados Unidos em El Salvdor, no auge da guerra civil, no país...
Outro contribuinte no desenvolver dos Comandos Especiais da Polícia, no Iraque, foi o mesmo Steven Casteel que como o mais experiente conselheiro dos Estados Unidos no Ministério do Interior afastou sem maiores considerações as bem substanciadas acusações de apavorantes violações dos direitos humanos como “rumores e insinuações”.
Assim como Steele, Casteel também ganhou considerável experiência na América Latina, no caso dele através de participar na perseguição do barão da cocaina, Pablo Escobar, nas narco-guerras da Colômbia, nos anos noventa...
O cenário da história pessoal de Casteel é importante nesse caso, porque o tipo de papel de apoio na colheita de informação e na produção de listas de morte, nas quais as suas experiências na América Latina foram baseadas então, são características do envolvimento dos Estados Unidos em programas de contra-insurreição, constituindo um elemento básico no que se poderia perceber como acaso, ou orgias de carnificinas desconexadas.
Comentários do Departamento de Defesa dos Estados Unidos em 2005...Esses tipos de genocídios planificados de forma centralizada são consistentes com os acontecimentos no Iraque...Isso é também consistente com o pouco que sabemos a respeito dos Comandos Especiais da Polícia, que foi projetada para prover o Ministério do Interior com uma força de capacidade de ataque especial. (Departamento de Defesa dos Estados Unidos).
Max Fuller comentou, no contexto, que em mantendo esse papel os quartéis de Comando da Polícia tinham se tornado no centro de um comando nacional de controle, comunicação, informática e inteligência – Cortesia dos Estados Unidos. (Max Fuller, op cit)
Essa inicial preparação de terreno, estabelecida abaixo da direção de Negroponte, em 2005, permitiu a implementação das atividades abaixo de seu sucessor, o embaixador Zalmay Khalilzad. Robert Stephen Ford garantiu a continuidade do projeto antes do seu apontamento como embaixador dos Estados Unidos na Algéria em 2006, assim também como depois do seu retorno a Bagdá, como Chefe Deputado da Missão –Deputy Chief of Mission, em 2008.
Síria: “aprendendo pela experiência do Iraque”
A macabra versão iraquiana da “Opção El Salvador” abaixo da direção do embaixador John Negroponte serviu como modelo para a construção dos Contras do “Exército Livre da Síria”. Robert Stephen Ford esteve muito provavelmente envolvido na implementação do projeto dos Contras na Síria, depois doseu apontamento como Chefe Deputado da Missão –Deputy Head of Mission em Bagdá, 2008.
Na Síria o objectivo era o de criar divisões faccionais entre as comunidades Sunnitas, Shiitas, Curdas e Cristãs. Conquanto o contexto da Síria seja completamente diferente da do contexto do Iraque, existem também surpreendentes similaridades ao que diz respeito aos procedimentos pelos quais as atrocidades e matanças foram, e continuam sendo conduzidas.
Uma reportagem publicada pelo Der Spiegel em relação as atrocidades cometidas na cidade síria de Homs confirma um processo sectário de assassinatos em massa e mortes extra-judiciais, ou seja assassinatos, comparáveis as conduzidas pelos esquadrões da morte no Iraque, esquadrões patrocinados pelos Estados Unidos.
As pessoas em Homs eram de forma rotineira categorizadas como “prisioneiros” (Shia, Alawita) e “traidores”. Os traidores eram os civís Sunnitas, dentro da área urbana ocupada pelos rebeldes, que expressavam discordância ou oposição ao reino de terror do Exército Livre da Síria -“Free Syrian Army” –FSA:
“Desde o último verão [2011], nós executamos pouco menos que 150 homens, o que representa cerca de 20% dos nossos prisioneiros,” disse Abu Rami.... Mas os executores de Homs estiveram mais ocupados com traidores dentro de suas próprias falanges do que com prisioneiros de guerra. “Se pegamos um Sunnita espionando, ou se um cidadão trai a revolução, fazemos o processo curto, disse o combatente. De acordo com Abu Rami, “Hussein´s burial brigade” teria posto entre 200 a 250 traidores a morte, desde o começo da sublevação.” (Der Spiegel, March 30, 2012)
Projeto em andamento avançado
Preparações ativas para a operação síria teriam certamente sido iniciadas quando da chamada de Ford da Algéria, nos meados de 2008 para um novo apontamento na embaixada dos Estados Unidos no Iraque.
O processo exigia um programa inicial de recrutamento e treino de mercenários. Esquadrões da morte, incluindo unidades Salafistas do Líbano e da Jordânia entraram pela fronteira sul da Síria -com a Jordânia, nos meados de março de 2011. Muito da preparação do terreno estava já pronta antes da chegada de Robert Stephen Ford a Damasco, em janeiro de 2011.
Embaixador Ford em Hama no começo de julho 2011
O apontamento de Ford como embaixador da Síria foi anunciad no começo de 2010. As relações diplomáticas estiveram cortadas desde 2005 após o assassinato de Rafik Hariri, do qual os Estados Unidos acusaram a Síria. Ford chegou em Damasco apenas dois meses antes do começo da insurreição.
O exército livre da Síria - Fsa
Washington e seus aliados replicaram na Síria as características essenciais da “Opção El Salvador –do Iraque”, levando a criação do Exército Livre da Síria -FSA- e as suas várias facções incluindo a brigada “Al Nusra”, afiliada a Al Qaeda.
Apesar da criação do Exército Livre da Síria –FSA ter sido anunciad em junho de 2011, o recrutamento e treino dos mercenários, vindos de fora do país, foram iniciados muito anteriormente.
Em muitos aspectos, o Exército Livre da Síria é uma cortina de fumaça, usada para enublar e desvanecer os contornos da realidade. O denominado Exército Livre da Síria é apresentado pela mídia ocidental como uma entidade de boa fé, estabelecida como resultado de defecções em massa das forças governamentais. O número das defecções no entanto, não foram nem significantes, nem suficientes para estabelecer uma estrutura militar coerente, com os devidos comandos e controles de função.
O Exército Livre da Síria não é uma entidade militar profissional, é mais uma rede não estruturada, constituida por diversas brigadas terroristas, as quais por seu turno, são constituidas por muitas células paramilitares, agindo em diversas partes do país.
Cada uma dessas organizações opera independentemente. O Exército Livre da Síria- FSA, não exerce funções de controle ou comando efetivos e isso inclui também não efetividade nas suas ligações e contactos com as entidades paramilitares. Essas entidades paramilitares estão em sua grande parte controladas pelas forças especiais, assim como profissionais da inteligência, patrocinados pelos EUA-OTAN. Tanto as forças especiais como os profissionais da inteligência são encaixados, ou incrustados, nas alas das várias formações terroristas.
Essas forças especiais “no solo” – muitas das quais contratadas de companhias particulares de segurança, estão de forma rotineira, em contacto com EUA-OTAN, assim também como com unidades de comando da inteligência militar dos outros envolvidos. As Forças Especiais estão, muito provavelmente, também envolvidas nos ataques devastadores, muito cuidadosamente planejados, dirigidos contra as instalações governamentais, conjuntos militares, e muitos outros objetos centrais e sensíveis.
Os esquadrões da morte são mercenários recrutados e treinados pelos EUA-OTAN, e seus aliados do Golfo Pérsico, GCC. Eles são supervisionados pelas forças especiais aliadas, assim como por companhias particulares de segurança -em contrato com a OTAN e o Pentágono. Relatórios confirmam o emprisionamento pelas forças governamentais da Síria, de cerca de 200-300 contratados de firmas particulares de segurança, contratados esses que estavam integrados nas alas dos rebeldes.
A Fronte Al Nusra
A Fronte Al Nusra -que se entende como afiliada a Al Qaeda- é descrita como o grupo rebelde mais efetivo na luta da oposição. Al Nusra é o grupo responsável por muitos dos maiores –high profile- ataques de bombas. O grupo Al Nusra é apresentado como um inimigo dos Estados Unidos, e está na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado.
Entretanto, as acções da Al Nusra apresentam as características, ou impressões digitais, dos treinos e das tácticas paramilitares dos Estados Unidos. As atrocidades cometidas contra civís pelo grupo Al Nusra são similares a aquelas feitas pelos esquadrões da morte patrocinados pelos EUA no Iraque.
Nas palavras do líder da Al Nusra, Abu Adnan, in Aleppo:- “Jabhat al-Nusra conta com veteranos sírios da guerra do Iraque entre seus números, homens que trazem perícia – especialmente na construção de dispositivos explosivos (IEDs) para o fronte na Síria.”
Como no Iraque, violência entre facções e limpeza étnica foram ativamente promovidas. Na Síria as comunidades Alawita, Shia e Cristãs foram alvo dos esquadrões da morte patrocinados pelos EUA-OTAN. A comunidade cristã foi um dos alvos centrais no programa de assassinatos.
Relatórios confirmam o influxo de Salafistas e esquadrões da morte afiliados a Al Qaeda abaixo dos auspícios da Irmandade Muçulmana para dentro da Síria, desde o começo da insurreição, em março 2011.
Ainda mais, reminiscente do enlistamento dos Mujahideen para lutar a jihad –guerra santa- da CIA no auge da guerra União Soviética-Afeganistão, guerra essa que a OTAN e a Turquia (the Turkish High command) tinham iniciado...
... “uma campanha para enlistar milhares de voluntários Muçulmanos nos países do Oriente Médio e no Mundo Muçulmano para lutar lado a lado com os rebeldes sírios. O Exército turco iria acomodar esses voluntários, treiná-los e assegurar a passagem dos mesmos para dentro da Síria. (DEBKAfile, NATO to give rebels anti-tank-weapons, August 14, 2011).
De acordo com o que foi relatado, companhias particulares de segurança operando dos países do Golfo estão envolvidas em recrutamento e treino de mercenários.
Apesar de não especialmente marcadas para o recrutamento dos mercenários dirigidos contra a Síria, relatórios apontam para uma criação de campos de treinamento em Qatar e no Emirados Árabes Unidos –UAE. Na cidade militar de Zaved –Zaved Military City, UAE, “um exército secreto está sendo construido”, operado por Xe Services, antes denominado Blackwater. O acordo da UAE para estabelecer um campo militar para treino de mercenários foi assinado em julho de 2010, nove meses antes dos furiosos ataques contra a Líbia e a Síria.
Em desenvolvimentos recentes, companhias de segurança em contrato com a OTAN e o Pentágono estiveram envolvidas em treinar os esquadrões da morte no uso de armas químicas.
“Os Estados Unidos e alguns aliados europeus estão usando contratados da defesa para treinar os rebeldes sírios em como assegurar provisões de armas químicas na Síria, um senior oficial dos Estados Unidos, e diversos diplomatas informaram a CNN, domingo” (CNN Report, December 9, 2012
Os nomes das companhias envolvidas não foram revelados.
Atrás de portas fechadas no US Departamento Do Estado
Robert Stephen Ford fazia parte de um pequeno time no Departamento do Estado Americano que supervisionava o recrutamento e treino de brigadas terroristas, conjuntamente com Derek Chollet e Frederic C. Hof, um ex-associado de negócios de Richard Armitage, que serviu como “coordenador especial” de Washington, em assuntos da “Síria”. Derek Chollet foi recentemente apontado para a posição de “Assistant Secretary of Defense for International Security Affairs” (ISA)- [Secretário Auxiliar da Defesa para Assuntos de Segurança Internacional]
Esse time trabalhou abaixo da direção do ex-Auxiliar Secretário de Estado para Assuntos do Próximo Oriente –Near Eastern Affairs, Jeffrey Feltman.
O time de Feltman estava em próximo contacto com os processos de recrutamento e treino dos mercenários da Turquia, Qatar, Arábia Saudita e Líbia (cortesia do pós-Kaddafi regime, que despachou -600- tropas da “Libya Islamic Fightin Group”-LIFG para a Síria, via Turquia, nos meses a seguir o colapso do governo de Kadafi, em setembro 2011.
O Auxiliar Secretário do Estado, Feltman, esteve em contacto com o Ministro do Exterior Saudita, o Príncipe Saud al Faisal , e o Ministro do Exterior de Qatar, Sheik Hamad bin Jassim. Ele também esteve encarregado do gabinete para “coordenação especial de segurança” relacionado a Síria e baseado em Doha. Esse gabinete incluia representantes das agências de inteligência do ocidente, assim como do GCC e representantes da Líbia. O Príncipe Bandar bin Sultan, a prominente e controversial membro da inteligência Saudita fazia parte desse grupo. (Veja Press TV, May 12, 2012).
Em junho 2012, Jeffrey Feltman foi apontado UN Under-Secretary-General for Political Affairs, uma posição estratégica que, na prática consiste em por a agenda da ONU (em favor de Washington) em assuntos pertencendo a “Resolução de Conflitos” em vários focus de problema ao redor do globo. Isso inclui Somália, Líbano, Líbia, Síria Iêmem e Mali. Numa amarga irônia, os países para a “resolução de conflitos” da ONU são então aqueles mesmos sendo alvos das operações, encobertas, dos Estados Unidos.
Prof. Michel Chossudovsky
Global Research, 2013-01-04
Tradução: Anna Malm - Correspondente de Pátria Latina na Europa
https://www.alainet.org/fr/node/163950?language=en
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