Amazônia: do mel ao sangue - os extremos da expansão capitalista
04/11/2012
- Opinión
Apresentação
Este livro é o primeiro de uma série de quatro volumes, resultado do estudo que concedeu-me o título de doutor em Administração e Direção de Empresas, através da Universidade de León, Espanha. A obra trata dos espaços ocupados pelas diferentes classes sociais que fazem a história da ocupação amazônica brasileira ao longo dos tempos, destacando-se, nesta trajetória, o período pós-ditadura militar iniciado em 1964. O centro das atenções são a expansão capitalista e as relações do homem e do meio ambiente. O interesse pela região começou quando miramos esta nova fronteira expansionista em 1987, passando a conviver com limitações sociais, econômicas, políticas e culturais diferentes, sem, no entanto, entendê-las na sua profundidade. Havia a necessidade de criar o espaço social, visto que este nasceu dos entrelaçamentos dos diferentes figurantes que chegaram a esta terra, ainda pouco ocupada pelos ditos “civilizados”. Ao mesmo tempo, passavam a conviver com um projeto arquitetado pelas estratégias do Estado em conjunto com o capital expansionista na região. Foi necessário adaptar-se aos novos limites geográficos da ocupação, bem como distinguir a quem interessa o movimento de ocupação.
Esse projeto nasce com as vestimentas da lógica da expansão capitalista, fruto da exploração da natureza e da força de trabalho. Aos migrantes fazia-se necessário entender o novo espaço, compreender as abrangências e os limites previamente elaborados pelo sistema capitalista. Desta maneira, as classes sociais envolvidas na nova dinâmica da ocupação do território amazônico configuram-se em duas: uma representada por grupos econômicos que ali vão expandir seus negócios para reproduzir capitais; a outra formada, por marginalizados e despossuídos no processo histórico com sucessivas migrações ao longo de suas gerações, que fazem parte do exército industrial de reserva do País.
Os despossuídos e marginalizados chegaram em busca da terra e, como não tiveram acesso, tornaram-se proletários neste novo espaço de ocupação, passando a exercer funções de suporte à lógica do sistema concentrador. Este lugar diferente nos permite questionar os movimentos destes distintos atores, assim como a interferência deste projeto de colonização capitalista e a convivência do homem com os vários ecossistemas bem definidos na região amazônica.
Ao passar a fazer parte da região geográfica sinopense e também ao participar do quadro de educadores de uma das escolas públicas ligadas ao setor de transformação de madeiras, criamos as condições necessárias para o envolvimento com a classe trabalhadora deste setor industrial. Ao mesmo tempo, passamos a questionar o papel de cada ator da nova investida capitalista regional. Assim, o professor é visto como alguém que repassa conhecimentos, mas também aprende com a comunidade escolar e com o meio no qual passa a viver. Ao formar novos conceitos e ao mesmo tempo criar mais dúvidas sobre as indagações já existentes, formamos os elementos da investigação futura.
Para descobrir esta problemática são necessários alguns questionamentos. Quem são estes atores, como vivem e qual o seu papel no novo espaço criado pelo capital e pelo Estado? Neste sentido, passamos a verificar como se efetiva a exploração da força de trabalho e a acumulação capitalista na expansão da Amazônia brasileira. Foi importante entender como estão posicionados os agentes sociais que fazem a história da última fronteira de colonização. Esta região passou a ter um papel importante para o modelo implantado pela ditadura de 1964 e recebeu os despossuídos e marginalizados do País juntamente com os grupos econômicos.
Este trabalho é dividido em partes seqüenciais. Na primeira parte discorremos sobre a expansão capitalista na Amazônia brasileira. É necessário relacionar a Amazônia do extrativismo com o mercado mundial, observando as várias fases do comércio mundial e a dependência da região a este mercado. Também utilizamos os fatos econômicos, históricos e estatísticos para explicar e exemplificar a interferência do capital nacional e internacional, impondo a ordem capitalista na região. Procuramos demonstrar que a produção brasileira e a amazônica são interligadas com as estratégias do mundo do capital e, consequentemente, às necessidades do mercado mundial.
Neste sentido, fez-se necessário nos fundamentarmos com bases teóricas para transpor os tempos, vistos através das várias intervenções realizadas no passado pelos grupos econômicos organizados e, assim, verificar os fatos a partir da coleta de produtos naturais e extrativistas, sendo estes proporcionados pelas riquezas minerais e oriundas das florestas. A interferência do homem tornou-se mais acentuada quando o mercado mundial se tornou mais efetivo na região e proporcionou a comercialização em determinado espaço. Ao longo dos tempos a Amazônia brasileira voltou-se ao mercado nacional com pouca intensidade, mas vocacionou-se ao mercado externo de forma mais agressiva.
A política de colonização promovida pelo Estado nos anos 60 fez parte da estratégia de unir os interesses da burguesia do País na Amazônia. Através da unificação dos interesses entre o capital e o Estado nasceram as estratégias de colonização sob o domínio das empresas privadas, tendo em vista a especulação imobiliária. Por outro lado, enquanto a expansão capitalista privilegiou os grandes conglomerados econômicos nacionais e internacionais, reprimiu as iniciativas da classe trabalhadora por meio da ditadura.
Nesta lógica, é preciso verificar como se processou a concentração da terra na Amazônia. A estratégia adotada na distribuição das terras devolutas beneficiou o grande capital, ignorando os proletariados. Isto se tornou possível através dos mecanismos financeiros oferecidos pelo Estado e colocados a serviço da burguesia, efetivando-se na prática a concentração da terra em mãos de poucos grupos econômicos para expansão e acumulação do capital de forma protecionista. Nesta perspectiva, foi colocada à disposição dos grandes projetos capitalistas uma vasta região e os grupos foram apoiados pelos incentivos fiscais do Estado.
Também fez-se necessário entender qual o papel exercido pela colonização espontânea, que aconteceu paralelamente à colonização do Estado e das empresas privadas, proporcionada pelas massas de marginalizados do País. Estes são os despossuídos que migraram para esta região em busca da terra e do trabalho, juntamente com os detentores do poder econômico. Foi preciso entender quem são os atores que buscaram o “mel[1]“ prometido nesta vasta região brasileira.
No processo de ocupação da região, verificamos a necessidade de o capital planejar e implantar cidades estrategicamente, sempre obedecendo aos locais de inserção dos grupos econômicos. Estas cidades serviram para o fornecimento de toda a infra-estrutura necessária aos grupos nacionais e estrangeiros, principalmente para formação e concentração do exército industrial de reserva e toda estrutura necessária para dar suporte ao projeto. É assim que dar-se a história da Amazônia que vive a contradição dos extremos entre a riqueza e a pobreza.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS .................................................................. 07
PREFÁCIO ................................................................................. 11
APRESENTAÇÃO ...................................................................... 13
A EXPANSÃO CAPITALISTA NA AMAZÔNIA
A Amazônia e o mercado mundial ........................................ 17
A política de colonização capitalista ..................................... 57
A EXPANSÃO E A COLONIZAÇÃO CAPITALISTAS
A colonização promovida pelo Estado ................................. 69
A colonização promovida por empresas capitalistas ........... 79
A cidade planejada como centro do capital ......................... 91
RESUMO .................................................................................. 103
CONCLUSÃO ........................................................................... 111
LISTA DE ABREVIATURAS ...................................................... 115
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................... 117
[1] A busca constante do “mel”, bem como o encontro com este doce dourado, é uma metáfora usada ao longo do texto para demonstrar que as pessoas se deslocaram para a Amazônia em busca de um sonho. Mesmo aos marginalizados e despossuídos no processo histórico a região apresentou-se como um novo “eldorado”, e este veio acompanhado de muito brilho e luz intensa. Assim, o “mel” representa o alimento, a riqueza e a esperança de uma nova vida a todos que chegaram com o firme propósito de ver seus sonhos realizados.
https://www.alainet.org/fr/node/162366
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