Dilma e Cabral impõem ditadura militar na Maré

06/04/2014
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“Senti uma respiração forte e ofegante com um hálito quente em meu rosto.
Meio sonolenta, abro os olhos e me deparo com um cão e homens de preto a minha volta.
Susto, medo e revolta.
Meu quarto tomado por desconhecidos da lei e perguntas que não sei responder.
Todos os dias eles vem na minha casa.
Já não durmo de camisola, porque essa visita pela manhã
virou rotina e tenho que estar preparada para recebê-los.
Hoje já entraram duas vezes. Minha casa virou o Batalhão da Polícia Militar”
 
Os valores e a defesa dos Direitos Humanos foram extensivamente lembrados nas últimas semanas em todo país, em função do aniversário de 50 anos do último golpe civil-militar. Aliás, a opção pela democracia – por mais incompleta que seja – quando na comparação a uma ditadura, parece ter alcançado o difícil status de consenso entre as mais diversas forças políticas do país. No entanto, cá entre nós, as cenas de soldados do exército empunhando armamento pesado ou montados em blindados – tão comemoradas pela grande mídia, não são de 1964!
 
Com a tomada do Complexo da Maré pelo exército brasileiro nesse sábado (05/04), o Governo Federal demonstrou mais uma vez o seu apoio às elites racistas na sua volúpia assassina. O exército nas ruas reforça a prática já criminosa das polícias militares e civis, que criminalizam a pobreza e apontam suas armas de guerra para territórios periféricos, morada de uma população pobre e negra, exatamente aquela que o Governo e o PT diz historicamente representar.
 
A atuação dos Ministros Celso Amorim, Zé Eduardo Cardoso e da Presidenta Dilma com relação a questão da segurança pública no Rio de Janeiro, é uma vergonha para todos aqueles que guardam um mínimo de coerência entre a postura necessária diante da realidade e a defesa real dos Direitos Humanos.
 
Cabral, Paes, Aécio, Alckmin, Tarso, Jaques, Campos, Sarney, todos eles chefes de grandes contingentes militares cujas práticas genocidas contra pobres e negros são conhecidas, agora alcançam o endosso do governo federal não apenas no discurso ou no apoio político, mas também na prática do exército.
 
Há diferenças entre eles para além da cor do broche ou da foto no “santinho”? Se há, com certeza as diferenças não estão na esfera da política de segurança pública.
 
E o que dizer de um governo que não só coloca o exército nas ruas, mas o faz para explicitamente oprimir pretos e pobres sob a ultrapassada justificativa do combate ao tráfico de drogas?
 
Com a palavra, moradores e movimentos sociais que vivem na pele a imposição de uma ditadura que teima se reinventar, sob todas as cores, credos, governos e partidos.
 
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Nota pública acerca da resistência popular contra a ditadura militar na Maré 
 
 As grandes mídias executaram nos últimos dias suas rotinas promocionais e divulgaram o suposto grande sucesso da invasão militar para “pacificar” a Maré. O governador Cabral veio a público constar: “Hoje foi, sem dúvida, um dia histórico.” e o secretário de segurança pública Beltrame afirmou: “Mais uma vez, fomos muito bem. Vamos entregar o terreno a quem merece e é dono, que é a população. Tudo correu tranquilamente. Para nós não foi surpresa, por que todas as ocupações têm sido assim.”
 
Contrariam radicalmente este espetáculo midiático recorrentes relatos sobre violações e abusos pelo lado dos policiais durante a invasão. Policiais entrando nas casas sem mandado; com “toca ninja” ameaçando moradores de morte; depredando bens e roubando eletrodomésticos sem nota fiscal; tratando moradores com violência verbal e apontando armas de fuzil para os seus rostos; constrangendo e agredindo crianças como no caso de policiais mandarem-nas deitar e em seguida pisarem em suas cabeças; prisão coletiva de menores que protestaram por causa de morte de um adolescente, que foram levadas à delegacia em caminhão da Polícia Militar; constrangimento e prisão de idosos; invasão de casa com moradora que estava sozinha e diante da presença ameaçadora da polícia se viu forçada de correr para a rua vestida apenas com roupa íntima.
 
A grande imprensa divulgou imagens de moradores presos acusando-os de serem traficantes que em seguida foram liberados por não terem nenhum envolvimento e serem inocentes (sem que houvesse uma retratação). Nos casos de mortos e feridos, tem sido difícil apurar ao certo, pois há dificuldade de checar informações, mas temos a confirmação de um jovem de 15 anos morto sem divulgação da causa de sua morte, um jovem de 18 anos baleado e que veio a falecer, e de mais dois adolescentes baleados.
 
Nós, moradores que estamos envolvidos com a luta pelos direitos humanos fundamentais dos cidadãos que vivem em favelas, estamos colocando esforços para denunciar estes muitos casos de abuso que estão acontecendo com nossos familiares e vizinhos. A presença de diversos grupos de defensores de direitos humanos no domingo, coletivos de advogados, a Comissão de Direitos Humanos da OAB, o NIAC (UFRJ), o Coletivo Tempo de Resistência, a Comissão de Direitos Humanos da ALERJ, foi uma contribuição importante para a luta e resistência dos moradores. Não apenas por atuar em campo fiscalizando o trabalho da polícia e registrando ocorrência de abusos, mas também para testemunhar as dificuldades que a organização popular sofre diante da opressão militar, que não se inibiu em manifestar intimidação contra nós nem diante da presença dos advogados.
 
Nós, que estamos articulados em organizações populares e empenhados a lutar contra o Estado opressor, estamos sofrendo perseguição e intimidação. Entre outros, uma blazer branca com dois policiais seguiu e filmou de forma intimidadora a Comissão de Direitos Humanos da OAB que estava fiscalizando a atuação ilegal da polícia, e um helicóptero ficou dando várias voltas onde estavam os membros da Comissão. Entendemos que essa opressão é para coibir nossa atuação de resistência e impedir que façamos mobilizações e denúncia dos casos de abuso e violência praticados pela polícia.
 
Esta invasão foi tão pouco tranquila como as outras invasões em favelas do Rio de Janeiro. Sabemos que este é só o começo de toda uma onda de opressão através da política de extermínio e militarização nas favelas. É imperativo o fortalecimento da resistência. Moradores de favelas, movimentos sociais, defensores de direitos humanos e todas e todos que lutam por uma sociedade justa e igualitária, juntem-se a luta de resistência na Maré e em todas as favelas! Os opressores não calarão as nossas vozes.
 
 
 Assinam esta nota:
 
Advogados Ativistas (SP)
 
Coletivo de Educação Popular
 
Central de Movimentos Populares
 
Centro de Assessoria Jurídica Popular Mariana Criola
 
Centro de Etnoconhecimento Socioambiental Cayuré – CESAC (Nova Maraká, Complexo do Alemão)
 
Cidadela – Arte, Cultura e Cidadania
 
Cineclube Beco do Rato
 
Cineclube Glauber Rocha
 
Cineclube Mate Com Angu
 
Círculo Palmarino
 
Coletivo Tempo de Resistência
 
Coletivo Laboratório de Direitos Humanos de Manguinhos
 
Comissão de Direitos Humanos da OAB
 
Fórum Popular de Apoio Mútuo
 
Federação Anarquista do Rio de Janeiro
 
Instituto de Defensores de Direitos Humanos – DDH
 
Justiça Global
 
Marcha Mundial das Mulheres
 
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB
 
Movimento de Mulheres Olga Benário
 
Movimento de Organização de Base
 
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
 
Movimento Nacional de Luta pela Moradia – MNLM/Brasil
 
Núcleo de Assessoria Jurídica Popular Luiza Nahin
 
Núcleo Interdisciplinar de Ações para a Cidadania – Niac/UFRJ
 
Ocupa Alemão
 
Ocupa Lapa
 
Organização Anarquista Terra e Liberdade
 
Organização Popular
 
Quilombo Xis Ação Cultural Comunitária
 
Reaja ou Sera Morto, Reaja ou Sera Morta
 
Rede de Comunidades e Movimentos contra Violência
 
Rede Nacional de Advogados Populares – Renap-RJ
 
Resistência da Aldeia Maracanã
 
Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro
 
Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro II – Sindiscop
 
https://www.alainet.org/es/node/84612
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