América Latina e as lutas sociais
Todas as mobilizações, à esquerda e à direita, mostram que o quadro de crise imposto pelo capital não parece apresentar saídas que não sejam as mesmas de sempre: mais exploração dos trabalhadores, mais arrocho, menos investimento no público.
- Opinión
Protestos no Equador
A luta de classes é definitivamente o motor da história. E nesses dias tumultuados da nossa América Latina temos visto essa batalha bem acirrada. Seja na luta dos trabalhadores contra as velhas e repetidas práticas neoliberais, seja na mobilização contra os retrocessos. No Equador, por exemplo, agora sob o comando do empresário Guillermo Lasso, as políticas de ajustes neoliberais colocaram os trabalhadores do campo em luta. No último dia 18, uma jornada nacional de luta unificou os agricultores – que a convocaram a partir de um encontro realizado no dia primeiro de outubro – com estudantes, professores e outros militantes do movimento social para protestar contra as políticas de preço do produto agrícola, bem como contra os aumentos sucessivos da gasolina que acaba impactando todos os trabalhadores.
Também estiveram na pauta as lutas pela água e contra a mineração, que segue a passos largos no Equador, apesar das promessas eleitorais de Lasso. E diante das mobilizações dos trabalhadores, ele, em vez de conversar, decidiu instituir “estado de exceção” no país por 60 dias, alegando inseguridade e combate ao narcotráfico, um discurso velho conhecido que dá total liberdade para as forças policiais agirem com liberdade diante de qualquer coisa que considerem ilegais. Ou seja, as liberdades individuais estão praticamente suspensas. Não por acaso, Lasso receberá essa semana o secretário de estado estadunidense, Antony J. Blinken. Ou seja, diante das lutas sociais, a receita é sempre a repressão.
Na Colômbia o governo militarizado de Ivan Duque também continua levantando os trabalhadores e militantes sociais em protestos seguidos. Isto porque a matança não para. Assassinatos cirúrgicos de ex-guerrilheiros, de sindicalistas, indígenas e militantes sociais são uma constante. No último dia 17 foi registrado mais um massacre, com sete pessoas assassinadas de uma só vez. O chamado processo de paz que culminou com o acordo de Havana ficou só no papel, porque o terrorismo de estado segue a todo vapor. O secretário estadunidense também vai passar por lá.
Na Argentina, os peronistas foram às ruas neste dia 18 de outubro para celebrar o “Dia da Lealdade”, que marca um momento emblemático de vitória dos trabalhadores argentinos quando, liderados por Eva Perón, exigiram e conseguiram a libertação e o retorno de Juan Domingos Perón que havia sido exilado em 1945. Ele ocupava o posto de vice-presidente e ganhara o rechaço da oligarquia argentina, sendo por fim banido. Mas, por conta da mobilização popular, no dia 17 de outubro daquele ano que ele entrou triunfante em Buenos Aires, nos braços dos trabalhadores, para ser eleito presidente no ano seguinte, dando início a um importante momento na vida da Argentina. Agora, em 2021, ainda esperando que o governo de Alberto Fernandez possa mostrar a que veio. A pandemia pegou uma Argentina fragilizada economicamente pelo governo de Maurício Macri e o atual governo não está conseguindo dar repostas para a crise. Um possível acordo com o FMI serve de combustível para protestos e apreensão, mas os trabalhadores que saíram às ruas nesse dia 18 ainda emprestam solidariedade e confiança a Fernandez, embora esperem respostas mais efetivas para os problemas.
Na Bolívia as avançadas da direita cruceña, com suas mobilizações e com as ações dos líderes que voltam a ofender a bandeira dos povos originários também levaram os trabalhadores a grandes mobilizações em todo o país. Marchas foram realizadas, concentrações e atos de luta reforçaram a necessidade do respeito à wiphala – bandeira dos povos originários – bem como o apoio ao trabalho do presidente Luis Arce. O próprio mandatário liderou algumas das manifestações e vem denunciando sistematicamente as ações da direita que visam desestabilizar o governo. Ele também denunciou que houve uma tentativa de assassinato contra ele em outubro do ano passado quando estiveram na Bolívia os mesmos integrantes do grupo que matou o presidente haitiano Jovenel Moïse. Ou seja, as forças do atraso já agiram e seguem agindo no sentido de tirá-lo do poder. Por isso mesmo as entidades de luta da Bolívia se declararam em estado de emergência, vigilantes e mobilizadas.
Todas essas mobilizações, à esquerda e à direita, mostram que o quadro de crise imposto pelo capital não parece apresentar saídas que não sejam as mesmas de sempre: mais exploração dos trabalhadores, mais arrocho, menos investimento no público. Logo, pouco resta ao progressismo, pois boas intenções não são suficientes. Mudança mesmo, só poder vir com revolução. Outra velha verdade sempre atual.
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