Coronavírus: a culpa não é da China!
- Análisis
Circulam nas redes sociais e WhatsApp vários vídeos e textos sobre o coronavírus.
Sabe-se que é um vírus descoberto desde os anos de 1960, e que como todo vírus, sofreu e continuará a sofrer mutações, tornando-o mais virulento – devido à adaptação e sua capacidade de sobrevivência, com o objetivo de se perpetuar no ambiente.
Vírus, sendo parasitas celulares obrigatórios – não são considerados seres vivos propriamente, justamente por não possuírem uma célula – dependem de organismos para sua proliferação. Dotados de uma capa de proteína (capsídeo) e um material genético (DNA ou RNA – com exceção dos Citomegalovírus, que possuem os dois materiais genéticos), penetram a célula hospedeira, que pode ser desde uma bactéria, até uma planta ou animal, e usam toda sua maquinaria (organelas, como os ribossomos) para se multiplicarem.
A respeito do coronavírus atual (2019-nCoV), estudos têm confirmado que seu hospedeiro são as serpentes. Outro estudo desenvolvido pelo Instituto indiano Tata for Genetics and Society junto à Universidade da Califórnia, encontrou vestígios do vírus no DNA de peixes (Myripristis murdjan), indicando que essa espécie também pode ter sido o hospedeiro da doença. Em outra pesquisa patrocinada pela Academia Chinesa de Ciências de Pequim, e publicado na revista "Science China Life Sciences", associou o coronavírus aos morcegos.
Chama a atenção a pluralidade de hospedeiros desse vírus, uma vez que, de forma geral, vírus são específicos para um tipo de hospedeiro – por exemplo, o vírus da gripe humana, não infecta um cachorro.
Em tempos de internet globalizada, muita informação – e desinformação! – chega até as pessoas. E é preciso muito cuidado antes de sairmos divulgado e compartilhando tudo isso.
Além disso, as generalizações são preocupantes. Na China, há sim o hábito do consumo de carnes de animais que para nós são exóticos: cachorros, morcegos, cobras e ratos, por exemplo. No entanto, são províncias isoladas, pequenos mercados, e não é o retrato do que ocorre em todo o país. Tais generalizações visam exclusivamente difamar esse país que hoje é o principal inimigo do sistema capitalista dos Estados Unidos – sem falar que muitos dos vídeos compartilhados nem são da China, mas da Indonésia, por exemplo. Na guerra comercial e econômica que surgiu nos últimos anos com a ascensão do BRICS em 2006, os Estados Unidos viram-se ameaçados em sua hegemonia global, ficando ainda mais temerosos com a fundação do Banco do BRICS, que surge como uma alternativa ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Não é mais uma teoria conspiratória – com aquelas que dizem que o coronavírus foi criado propositadamente em laboratório – mas um fato que deve sim ser levado em consideração. Lembremos a desestabilização causada no BRICS quando os próprios estadunidenses apoiaram o golpe de 2016 aqui no Brasil, sob a farsa de um impeachment baseado em mentiras, como se provou posteriormente.
Todo esse alarde que fazem hoje, disseminando alertas e preocupações que aterrorizam a população, é uma tática de guerra. Não nego também a real preocupação dessa nova epidemia (pandemia, talvez), mas o fato é que as principais vítimas desse vírus são pessoas com o sistema imunológico debilitado, como bebês, idosos, gestantes e transplantados. Ou seja, uma pessoa normal que esteja com a saúde em dia, poderá sim ser infectada, mas tem plenas condições de se recuperar. Enquanto a atenção está no coronavírus e sua relação tendenciosa e generalista com a China anti-imperialista, poucos se atentam que a “gripe comum”, causadas pelo vírus Influenza também são letais. Só no Brasil, em 2018 foram 839 mortes!
Não se deixe enganar. Há muito mais coisa por trás daquilo que é divulgado para atingir e manipular a grande massa.
Em tempo: a crítica aos hábitos para nós exóticos, deve ser repensada. O que indianos, seguidores do hinduísmo e que idolatram as vacas, pensam a respeito do Brasil que é o maior produtor de carne bovina? Talvez a crítica ocidental não deva ser sobre o consumo dessas carnes, mas sim, rever os próprios hábitos e criticar o consumo de todos os tipos de carnes, cuja produção, além de ser degradante ao ambiente, é fruto do sofrimento de animais sencientes.
- Luiz Fernando Leal Padulla é Biólogo, Professor, Doutor em Etologia, Mestre em Ciências, Especialista em Bioecologia e Conservação.
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