O “desajuste” no mercado de trabalho
- Opinión
Os ventos de 2015 vieram soprando ares nefastos para a classe trabalhadora. A acirrada vitória eleitoral da presidenta Dilma, a queda na atividade econômica, a guerra midiática e a desproporcional avaliação da crise econômica parecem ter sido os ingredientes necessários para uma inflexão na trajetória dos governos petistas.
Mal iniciava o mandado da presidenta e o fantasma do ajuste fiscal já sinalizava sob quem recairia o seu peso. Na correlação de forças entre capital e trabalho, o último tem sido constantemente subordinado ao primeiro.
Economistas conservadores e a grande mídia apressaram-se a anunciar uma crise social e econômica que não tinha lastro até então na realidade. O problema do desequilíbrio nas contas públicas federais não é análogo ao endividamento doméstico, por exemplo, sendo sua superação resultado de um projeto de crescimento, e não de economia de gastos. Bastam parcos conhecimentos de Keynes para saber que ajuste fiscal só tem eficácia no ciclo de crescimento da economia.
O “ajuste fiscal” prometeu retomar o crescimento econômico mediante o controle da inflação e a retomada da confiança dos empresários. O resultado do ajuste fiscal foi desajuste social. Como apresentou o professor Marcio Pochmann, a estratégia de combater a inflação como um problema de demanda, mediante o constante aumento das taxas de juros, mostrou-se um fracasso. Já estamos há 30 meses com uma política autistas dos juros combinando com alta sistemática da inflação.
O verdadeiro problema fiscal brasileiro são os gastos com altos juros, que remuneram poucos detentores dos títulos públicos sob o sacrifício da nação brasileira. Ainda segundo o professor Pochmann, em 2015 os chamados “rentistas” apropriaram-se de quase metade de todo o orçamento federal.
Enquanto 99% da população brasileira vão amargar sob uma redução nominal de 745,3 bilhões de reais em 2015, os 1% mais ricos deverão receber 548 bilhões de transferência financeira devido aos altos juros. Essas evidências corroboram que os gastos com os juros da dívida pública é que são os verdadeiros causadores do déficit nas contas nacionais.
A tão proclamada retomada da confiança dos empresários também se mostrou fracassada, fruto de uma opção errônea ao supor que haverá investimento em uma conjuntura de queda no poder de compra dos trabalhadores e da atividade econômica. Nos últimos 12 meses, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, foram cortadas 986 mil vagas com registro em carteira no Brasil.
A informalidade já dá sinais de inflexão na trajetória de queda, comprometendo uma das principais conquistas dos anos 2000.
Em movimento de inflexão também aparece nas taxas de desocupação. O desemprego dá sinais de que poderá voltar ao quadro desalentador dos anos 1990, e os indicadores do 2º semestre de 2015 já apontam um forte retrocesso na trajetória de queda dos níveis de ocupação.
O movimento sindical também já sente o “desajuste”. Se no ano de 2012 cerca de 95% das negociações salariais acarretaram em ganho real aos trabalhadores, os dados do presente momento do DIEESE mostram uma deterioração desse quadros.
Segundo a pesquisa do balanço das negociações salariais, menos de 70% conquistaram ganhos reais, e cerca de 15% não conseguiram nem ao menos repor as perdas salariais. Os reajustes acima da inflação, no entanto, estão estipulados em nada mais que 1% do ganho real. Segundo o DIEESE, esse é o pior desempenho da série histórica desde 2004.
Alta do desemprego, queda da renda, indicadores de persistência da recessão, aumento da informalidade e queda no poder de compra pela alta da inflação. Esse é o verdadeiro “desajuste” social e trabalhista. O “ajuste” parece ter sido unicamente para os rentistas e os bancos, que declararam um lucro líquido de 24%.
- Juliane Furno é graduada em ciências sociais pela UFRGS, mestranda em desenvolvimento econômico na Unicamp e militante do plebiscito constituinte do comitê Unicamp
Crédito da foto: EBC
10/12/2015
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