Franco, o novo Stroessner

08/07/2012
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Assunção - Alfredo Stroessner foi recebido no dia 4 de maio de 1954 – a até alguns meses depois – com júbilo por pessoas de trajetória democrática de toda uma vida. O próprio Augusto Roa Bastos, nosso principal escritor nacional e barbaramente perseguido pela ditadura stronista, dedicou-lhe um poema que aplaudia o novo governo – ditadura – em seus primórdios. Indubitavelmente, Roa Bastos se equivocou. Seu apoio à incipiente ditadura foi uma carga mortal que lhe pesou por toda a vida e era algo sobre o que não queria falar, pela profunda dor que lhe causava.

Outros que posam hoje de democratas, apoiaram publicamente o ditador Alfredo Stroessner por anos e mesmo décadas, e quando já era evidente que o seu período terminava, se tornaram furibundos “democratas”.

A atual maioria parlamentar, produto das “listas sábana”, perpetrou um autêntico golpe de Estado parlamentar. A época das quarteladas já passou de moda definitivamente, Há países com democracia consolidada onde nunca ocorrerá um golpe de Estado, inclusive na maioria dos países da nossa anteriormente instável América Latina.

Mas, no Paraguai, como constatamos lamentavelmente, é possível dar golpes muito similares ao que Hitler deu na culta Alemanha há cerca de 80 anos, que também teve a forma de um golpe parlamentar. Contra o governo de Fernando Lugo não foi apresentada prova alguma, como confessam sem ficar vermelhos os deputados que apresentaram e aprovaram um arremedo de acusação no prazo de tão somente duas horas. O Senado deu menos um dia a ninguém menos que o presidente da República para exercer seu direito à defesa, quando em julgamentos sumários abreviados, como o de multas no trânsito, todo cidadão tem cinco dias para apresentar sua defesa. O ex-presidente Cubas também recebeu cinco dias para defender-se quando foi acusado.

É provável que os insignes parlamentares, aprendizes de ditadores, considerem que uma multa de trânsito mereça mais garantias constitucionais do que quem exerceu a presidência da República durante quatro anos com alta aceitação popular. Foram violadas todas as normas do devido processo legal e o princípio da legítima defesa, porque os golpistas sabiam que sua única oportunidade de chegar ao poder era fazer o julgamento político meteoricamente, mesmo que a custo da violação da Constituição. De outra forma, a reação democrática de nosso povo e do mundo não o teria permitido.

Stroessner classificava seu regime como uma “democracia sem comunismo”. Da primeira coisa não tinha nada e a segunda – a eliminação do comunismo – era apenas uma desculpa para eliminar, inclusive fisicamente, a todo democrata e não só aos valentes membros do Partido Comunista que foram os que com mais convicção e empenho se opuseram à ditadura stronista. O então Partido Liberal abrigou os traidores da democracia que, desde o início, se prestaram ao jogo do ditador. Os liberais mais dignos – como Domingo Laino – lutaram desde o início com todos os meios ao seu alcance contra a ditadura, o que custou centenas de vidas, torturas, prisão e exílio não só para membros deste libertário partido tradicional do Paraguai, como para militantes de todos os demais partidos políticos e de organizações sociais do país, como as Ligas Agrárias.

Hoje, o ditador Federico Franco – e o bando que o apoiou na cúpula de seu partido – trai os princípios libertários de seu partido e o mancha para sempre com a ditadura, uma infâmia que provocou uma marca profunda no partido Colorado. Apenas algumas horas de depois do golpe ser perpetrado, já existiam ameaças de morte a pessoas íntegras que se opõem à ditadura. Não sabemos até quando teremos segurança para nossas famílias e para nós mesmos. Ainda assim, como fizemos durante a ditadura de Alfredo Stroessner, reiteramos nosso chamado a nos manifestarmos pacificamente em toda a República para exigir que o único presidente constitucional da República do Paraguai, Fernando Lugo, assuma novamente suas funções e que se restitua o estado de direito no Paraguai, quebrado lamentavelmente pelo ditador Franco e sua quadrilha.

- Ricardo Canese é militante social e político, dirigente da Frente Guasú.

Tradução: Katarina Peixoto
 
 
https://www.alainet.org/es/node/159408
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