Em apoio à autonomia, uma multidão em verde e branco
- Opinión
Santa Cruz de
Idosos
Milhares de pessoas em verde e branco compareceram, na quarta-feira (30), ao encerramento oficial da campanha pelo “sim” no referendo marcado para o domingo (4). Convocada pelo governador crucenho, Rubén Costas, e pelo presidente do Comitê Cívico local, a consulta –considerada ilegal pelo governo do presidente Evo Morales – busca ratificar e pôr em vigência o estatuto autonômico do departamento, elaborado em dezembro de 2007.
No caminho para a praça El Cristo, local da concentração, carros passam, bozinando, com bandeiras de Santa Cruz e com incrições pró-autonomia. Nas imediações do ato, um cenário de estádio de futebol em dia de jogo. Uma grande quantidade de gente vestindo as mesmas cores se dirigem a um só lugar.
Nas esquinas, em varais improvisados, vendedores penduram diversos tipos de camisetas pelo “sim”. Outros oferecem bandeiras verdes e brancas nos semáforos. Nas ruas que vão em direção ao palco montado embaixo de uma estátua de Jesus Cristo com os braços para o alto, ambulantes se embrenham na multidão na tentativa de garantir a renda para o feriado.
“Nação camba”
Antes do início do ato, diversos músicos locais se revezam para entreter os participantes. Cantam canções que reforçam a identidade crucenha e a luta por autonomia. Entoam gritos de guerra pelo “sim” no referendo, seguidos pelo público. Os manifestantes, por sua vez, empunham bandeiras de Santa Cruz com a inscrição “Democracia, autonomia, liberdade”. Em algumas camisetas, o lema “Que nada nem ninguém nos detenha”. Em outras, o mapa da “nação camba” (os oriundos do leste do país são conhecidos como cambas), com um traçado de um país imaginário formado pelo oriente e o norte boliviano.
Folhetos convocando o voto no “sim” são distribuídos. Neles, os motivos para fazê-lo são elencados: “Integraremos a todos, sem exclusões”, “Melhorará a saúde e a educação”, “Não será preciso ir a
Após o hino boliviano, o ato oficial tem início. O presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, o produtor de soja Branko Marinkovic, toma a palavra. “Faltam quatro dias para o sonho da autonomia, para um novo amanhecer para toda a Bolívia”, exclama. Em seguida, ataca os governos Evo e Hugo Chávez, da Venezuela, a quem acusa de ingerência.
“O povo tem agüentado, por todo esse tempo, os ataques do centralismo e das forças estrangeiras. Ao senhor Chávez, quero dizer que a autonomia pertence ao povo, não à Venezuela, só a este povo. Demonstraremos que somos um povo unido, próspero e pacífico, que vota e decide por sua autonomia”, alerta Marinkovic, que contina seu discurso afirmando que o processo autonômico significa uma sociedade solidária, uma economia forte e um país sem pobreza.
“Não temos medo”
Em seguida, é a vez do criador de gado e governador de Santa Cruz, Rubén Costas. “No dia 4 de maio, diremos um ´sim` à democracia, à liberdade, a nossa forma de ser. A autonomia tem razão histórica e é direito fundamental de sermos donos de nosso destino. É parte essencial de nossa liberdade”, diz, para depois ser ovacionado pelos presentes.
Logo depois, Costas ressalta que o processo autonômico não será usado em favorecimento da elite crucenha, como acusam o governo e movimentos sociais do país. “A autonomia não poderá ser jamais um instrumento de interesses mesquinhos. Nem ferramenta para concentrar riqueza e aumentar a desigualdade e o sofrimento do povo”.
Para finalizar, ataca o governo de Evo Morales. Lembrando o congelamento, no dia 24 de abril, das contas do governo departamental, por este ter se desconectado do sistema integrado de gestão, Costas qualificou o ato de terrorismo de Estado. “[Confiscaram] recursos que pertencem às crianças, aos idosos, aos jovens, aos homens e mulheres. Recursos que são produtos do trabalho e esforço de nosso povo”.
E conclui: “O projeto hegemônico e totalitário do governo do MAS [Movimiento al Socialismo, partido de Evo] destila todo seu ódio contra Santa Cruz. Querem nos destruir. Nos ameaçaram com uma guerra civil. Não temos medo!”. A multidão segue o exemplo e grita, várias vezes: “Não temos medo!”.
Frases do ato de encerramento da campanha pela autonomia
Rubén Costas, governador de Santa Cruz
“No dia 4 de maio, diremos um ´sim` à democracia, à liberdade, a nossa forma de ser. A autonomia tem razão histórica e é direito fundamental de sermos donos de nosso destino. É parte essencial de nossa liberdade”.
“Nossa luta é justa. O caminho correto para nosso povo e nosso país é esse. Para que o poder seja do povo e para que se construa um país forte e unido”.
“A autonomia não tem dono, não tem partido, não é propriedade de uma classe social. É de todos os bolivianos”.
“O sentimento autonomista aprendemos do homem e da mulher que trabalharam nessa terra, que deram sua vida por esse ideal”.
“A autonomia departamental não é um fim em si mesmo. É um sistema que permitirá melhorar a vida de nossa gente. Que permitirá um melhor controle social”.
“A autonomia não poderá ser jamais um instrumento de interesses mesquinhos. Nem ferramenta para concentrar riqueza e aumentar a desigualdade e o sofrimento do povo”.
“O projeto hegemônico e totalitário do governo do MAS destila todo seu ódio contra Santa Cruz. Querem nos destruir. Nos ameaçaram com uma guerra civil. Não temos medo!”
“Prentenderam usar contra nós a Igreja e os chamados movimentos sociais. Tiveram o cinismo de afirmarem à comunidade internacional que nosso movimento é separatista e violento. Não aceitaremos provocações. A razão e o direito estão do nosso lado”.
“Eles praticam o terrorismo de Estado, com o confisco de nossos recursos. Recursos que pertencem às crianças, aos idosos, aos jovens, aos homens e mulheres. Recursos que são produtos do trabalho e esforço de nosso povo”.
“Não se dão conta de que o poder é do povo, e não do Estado central. Em sua miopia totalitária, querem convencer as pessoas que o centralismo beneficia os departamentos. Mas o centralismos só serve para que, antes os neoliberais, e hoje os pintados de azul, apropriem-se dos recursos de todos”.
Branko Marinkovic, presidente do Comitê Cìvico de Santa Cruz
“Faltam quatro dias para o sonho da autonomia, para um novo amanhecer para toda a Bolívia”.
“O povo tem agüentado todo esse tempo, os ataques do centralismo e das forças estrangeiras”.
“O futuro chegou, está aqui e se chama autonomia”.
“Ao senhor Chávez, quero dizer que a autonomia pertence ao povo, não à Venezuela, só a este povo. Demonstraremos que somos um povo unido, próspero e pacífico, que vota e decide por sua autonomia”.
“Que votemos por um futuro melhor. Um voto pela unidade da pátria, por uma sociedade solidária, uma economia forte e um país melhor. Sonhamos com uma Bolívia sem pobreza. A autonomia éo sonho dos mais necessitados”.
“A democracia é a voz do povo. Dizemos isso ao governo do MAS e ao mundo inteiro. Mostraremos ao mundo que
“Queremos autonomia para derrotarmos o único inimigo da Bolívia: a pobreza”.
- Igor Ojeda é correspondente do Brasil de Fato
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