“Pátria: socialismo ou morte. Eu juro”

11/01/2007
  • Español
  • English
  • Français
  • Deutsch
  • Português
  • Opinión
-A +A
Em alto e bom tom, Hugo Chávez pronunciou a frase acima durante seu discurso de posse para um novo mandato na presidência da Venezuela, no dia 10 de janeiro de 2007. Muitos brasileiros devem achar que se trata de mais uma bravata ou mais uma jogada retórica numa América Latina repleta de políticos demagogos, mentirosos, enganadores, corruptos e traidores. Outros vão continuar repetindo que ele é apenas mais um caudilho populista com vocação autocrática a iludir os povos do continente.

O discurso de Hugo Chávez e, cada vez mais, os seus passos concretos no governo e no rumo proposto ao seu país, merecem a atenção de todos – especialmente daqueles que ainda almejam dias melhores para a América Latina e o Mundo. Antes de qualquer coisa é preciso analisar o atual processo venezuelano sem a contaminação das posições neoliberais e elitistas insistentemente difundidas pela grande imprensa empresarial do Brasil, que reproduz fielmente os interesses do capital e do imperialismo.

Em primeiro lugar, é preciso que se diga que a América Latina não tem conseguido superar seus problemas estruturais relacionados com a miséria e a má distribuição da riqueza nos modelos capitalistas adotados ao longo de séculos. O neoliberalismo aprofundou a exclusão e a desigualdade econômica, destruiu valores morais e culturais, rebaixou conquistas históricas e generalizou a violência social. Está provado que o modelo neoliberal não atende as demandas dos povos e precisa ser combatido e superado rapidamente.

Em segundo lugar, está claro que as elites nacionais da América Latina abriram mão de seus projetos específicos de construção de nações mais justas e democráticas para se subordinarem aos interesses do capital internacional, das grandes corporações dos países ricos e, enfim, da globalização neoliberal e do imperialismo. Da mesma forma, os governos dos estados nacionais foram transformados em apêndices desse modelo econômico, perderam a iniciativa e a capacidade de impulsionar projetos soberanos de desenvolvimento, com distribuição de renda e de melhoria geral das condições de vida do povo. Tornaram-se apenas gestores dos interesses mesquinhos das empresas transnacionais.

Em terceiro lugar, existe uma carência profunda de novos projetos nacionais que empolguem os pobres e oprimidos, os trabalhadores e as classes médias; ainda mais que a experiência histórica não admite que se recorra a modelos anacrônicos ou projetos fracassados no passado, tanto no campo do nacionalismo quanto no campo do socialismo. Não se trata portanto de defender que a América Latina tenha de voltar ao passado, mas de retomar os caminhos interrompidos na busca de sociedades mais justas, igualitárias e democráticas, e principalmente livres da submissão ao imperialismo.

Nesse sentido, o discurso, a trajetória e as medidas adotadas pelo presidente Hugo Chávez representam o que há de mais significativo e concreto para enfrentar e superar o estado de degradação proporcionado pelas políticas neoliberais em todo o continente. Tanto é que as manifestações populares e as eleições gerais na maioria dos países latino-americanos, nos últimos anos, indicaram o esgotamento do modelo neoliberal e o apoio aos processos de transformação. Os povos da América Latina estão clamando por mudanças radicais, já, imediatamente, e isso só não tem acontecido porque faltam instrumentos adequados para a organização das lutas e porque muitas lideranças oriundas dos movimentos populares se renderam ao modelo dominante.

No caso do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, ele jurou trilhar na busca de um novo socialismo do século 21 e está empenhado na organização popular e na construção de um partido ideologicamente comprometido com o socialismo. Ao mesmo tempo, ele tem, de um lado, dado mostra de uma ação de solidariedade firme e inquestionável junto aos povos latino-americanos e, de outro, uma posição clara no enfrentamento das oligarquias e do imperialismo – as grandes forças responsáveis pela escravidão latino-americana.
Neste quadro político atual, no qual todos estamos sendo chamados a um posicionamento, a pergunta que mais faz sentido é uma só: O que se deve exigir mais de Hugo Chávez para que ele possa ser apoiado pelos povos da América Latina?

- Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor universitário.
https://www.alainet.org/es/node/119532?language=en
Suscribirse a America Latina en Movimiento - RSS