Precisamos transformar o Brasil
25/10/2005
- Opinión
Com muitos desafios, mas com muita garra para superá-los, iniciou-se nesta manhã de quarta-feira (26) no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília, a abertura dos trabalhos da Assembléia Popular: Mutirão por um novo Brasil. Participaram da primeira mesa de debates, Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales/SP e coordenador da 4ª Semana Social Brasileira, Sandra Quintela, economista da Rede Jubileu Sul/Brasil; e João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Dom Demétrio Valentini fez um resgate histórico do processo das Semanas Sociais Brasileiras, lembrando os temas e alguns eixos de cada uma: A 1ª SSB teve como tema O Mundo do Trabalho, Desafios e Perspectivas no Brasil de Hoje. Uma das preocupações de fundo dessa primeira iniciativa foi o impacto das novas tecnologias no mundo do trabalho e na vida de todos os brasileiros e brasileiras. A 2ª SSB aconteceu em 1993/94. Teve como tema central Brasil: Alternativas e Protagonistas, que debatia a busca de alternativas, mas ao mesmo tempo sugeria que precisava de protagonistas dispostos a enfrentar o desafio. A 3ª SSB durou três anos: 1997/99. Teve como tema Resgate das Dívidas Sociais
Justiça e Solidariedade na construção de uma sociedade democrática. Nesta 4ª SSB , que tem por lema Mutirão por um novo Brasil, Dom Demétrio Valentini lembra que é preciso fazer uma leitura crítica da realidade atual e fortalecer a articulação dos movimentos sociais.
Sandra Quintela animou os mais de 8 mil participantes vindos de todos os estados, quando lembrou alguns dos motivos que motivaram a realização da Assembléia Popular. “Queremos avançar no processo de formação política do povo brasileiro, porque queremos julgar, opinar e decidir sobre as questões que afetam o nosso dia-a-dia, a nossa soberania”. – disse Sandra. Reforçou a importância dos plebiscitos, consultas e tribunais no processo de educação popular, lembrando o trabalho de formação realizado por milhares de militantes nos Plebiscitos da Dívida, da Alca e nos Tribunais da Dívida. “A Assembléia Popular faz parte desta história. É um processo político pedagógico para discutir nossos problemas e buscar soluções”. Falou que o momento político que se vive é de crise e requer uma resposta da população. Lembrou que a cada dois anos somos convocados a eleger os representantes que vão, em sua maioria, nos trair logo em seguida.
Para Sandra a Assembléia Popular quer consolidar a autonomia dos movimentos populares. “Não queremos mais ser massa de manobra. Não aceitamos mais ser público de políticas assistencialistas” – disse a economista. “A História está em nossas mãos e precisamos definir quais as lutas que travaremos juntos”. Questionamos a legitimidade do estado republicano que usa o poder contra o povo. Queremos discutir de fato onde está o poder, porque acreditamos que ele está na luta das organizações. Queremos um poder, não para exercê-lo sobre o outro, mas o poder para fazer a reforma agrária, a reforma urbana, para suspender a dívida externa. Queremos o poder para distribuir renda, acabar com a fome, a violência contra as mulheres, os migrantes, os índios etc É esse o exercício que a Assembléia Popular tem que fazer. Concluiu convocando todos e todas para a construção de um poder popular.
João Pedro Stédile fez um resgate histórico dos modelos econômicos adotados até os dias atuais no país. Lembrou que desde a década de 90 até hoje quem governa e define os rumos do país é o capital estrangeiro.” A nossa sociedade foi subordinada ao império do capital financeiro” Quem domina o mundo hoje e também o Brasil, é o G7 (grupo dos países mais ricos do mundo) seguidos por George Bush; o Fundo Monetário Internacional; o presidente do Banco Central e por último o presidente Lula”, disse o líder do MST.
O governo Lula também não foi poupado por João Pedro. “Em 2002 o povo votou contra o neoliberalismo. Votou no Lula porque acreditava na sua história de luta. No entanto o governo se instalou e nada mudou. O modelo econômico continua intacto e sob a administração do capital financeiro. Lula sequer mudou o segundo escalão do Ministério da Fazenda e do Banco Central”, disse. Ressaltou ainda alguns dos principais erros do governo Lula que foi o de manter a política neoliberal, priorizar a aliança com os partidos conservadores e não com o povo e seguir a risca as orientações e exigências do capital financeiro. “Lula não podia deixar de reconhecer que a verdadeira mudança vem do povo e não do parlamento. O parlamento é um espaço privilegiado das forças conservadoras e o governo não se deu conta disso.”
João Pedro também apontou alguns erros da esquerda brasileira que trocou o trabalho militante e voluntário pelo trabalho pago. Trocou o debate político e ideológico pelo trabalho fácil dos “marqueteiros”.
Para ele, os desafios da Assembléia Popular serão estimular e retomar as lutas sociais, formar novos quadros de militantes, elevar o nível de consciência política do povo, e, acima de tudo, construir um movimento social a partir dos jovens das grandes periferias do país. “O povo aprende lutando, defendendo e conquistando seus direitos e será esse acumulo que poderá contribuir com o reacenso das massas”, concluiu João Pedro.
Pela tarde grupos temáticos se reúnem para dar continuidade às discussões. Às 17h, na Tribuna de Honra do Ginásio Nilson Nelson, D. Luiz Cappio fala sobre transposição do Rio São Francisco .As 18h está prevista manifestação até a Esplanada dos Ministérios.
- *Luciane Udovic e Luiz Bassegio. Grito dos Excluídos, Minga Informativa
https://www.alainet.org/es/node/113333
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