PL vai promover devastação das florestas
25/08/2005
- Opinión
Governo Federal pode ser responsável pela maior onda de devastação já ocorrida
na Amazônia
O Governo Lula, além da grave crise política, pode ser responsável também pela
instalação de uma imensurável crise ambiental, por ter conduzido e encaminhado
ao Congresso Nacional, em regime de urgência urgentíssima, Projeto de Lei que
prevê a concessão do uso das Florestas Públicas. Com este documento já aprovado,
no afã de "limpar a pauta" da Câmara dos Deputados no início de julho, o
governo pode estar dando o primeiro passo rumo a irreversível e tão temida
privatização da Amazônia. Sob tênue cortina de fumaça, utilizando argumentos
frágeis como o combate aos conflitos fundiários ocorridos no Norte do país, o
Governo cedeu à pressão de empresas travestidas de ONGs em defesa do meio
ambiente e elaborou o Projeto de Lei nº 4.776/05, agora no Senado Federal (PLC
062/05), o qual prevê a transformação de aproximadamente 47% da superfície
amazônica - cerca de 235 milhões de hectares ocupados por terras públicas ou
devolutas, correspondentes a 15 estados do Acre - em "florestas públicas"
passíveis de exploração madeireira, sob o proposto regime de concessões
florestais.
Teoricamente, a madeira comercializável será retirada por empresas
concessionárias de forma seletiva. Ambientalistas, cientistas e servidores do
Ibama temem o efeito inverso. "Ao contrário do que o governo imagina o PLC
062/05 pode acirrar ainda mais o comércio de terras ilegais, promover a
destruição da vegetação circundante à árvore derrubada e incentivar ações das
madeireiras muito além das áreas demarcadas", alerta Jonas Corrêa, presidente
da Associação dos Servidores do Ibama - ASIBAMA.
Segundo o texto do PL, o período de concessão para a exploração da floresta
será de 40 anos, tempo suficiente, de acordo com especialistas, para promover
uma devastação irreversível de flora e fauna. "Eles vão destruir árvores de 500,
600 e 800 anos e estão dizendo que outras vão se recompor em 30 ou 40 anos.
Isso não é verdade, porque em nenhum lugar do mundo esse tipo de manejo
funcionou", comenta o seringueiro Osmarino Amâncio, em entrevista a um jornal
do Acre. "Estamos numa situação desesperadora. A conjuntura internacional está
de olho numa região de um país imenso como é o Brasil e parece que os
governantes não têm idéia disso. Se não existir uma política estratégica para
gerenciar a Amazônia e impedir qualquer embrião de Estado paralelo, estaremos
com a nossa soberania ameaçada permanentemente", alertou o geógrafo Aziz
Ab'Sáber, em recente entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.
Doutor em Engenharia Florestal, Divino Teixeira, que também é professor da
Universidade de Brasília e pesquisador do Laboratório de Produtos Florestais do
Ibama, alerta para outro risco. "Ainda não conhecemos todos os potenciais da
floresta Amazônica. Se alguma coisa der errada e as empresas concessionárias
abandonarem o projeto, a floresta é que ficará com o prejuízo do desmatamento",
lamenta Divino Teixeira, indignado pelo fato do governo não ter ouvido a
comunidade científica para elaborar tal projeto de Lei. Na visão dos que
protestam contra a postura do governo, o sistema de concessão das florestas
públicas poderia ser implantado em caráter experimental, por um período
variável entre cinco e dez anos. Os servidores do IBAMA acreditam que seria
prudente a adoção de modelo em área reduzida, por período de observação, uma
espécie de projeto-piloto. "Transformar este gigantismo territorial designado
pelo governo em enorme laboratório é colocar em risco a qualidade de vida das
futuras gerações", afirma Jonas Corrêa, Presidente da ASIBAMA, lembrando que o
referido projeto não se restringe às florestas amazônicas, engloba todos os
tipos de biomas, incluindo a Mata Atlântica e o Cerrado.
Em nota distribuída no Senado Federal, a Associação apresenta um apelo aos
parlamentares que rejeitem o Projeto de Lei até que, pelo no mínimo, três
medidas preliminares sejam adotadas:
* A realização de Zoneamento Ecológico Econômico definindo as formas de uso do
espaço territorial brasileiro e dos recursos ambientais nele existentes;
* A regularização da situação fundiária das terras públicas passíveis de
processo de concessão florestal e;
* A implementação de medidas efetivas de FORTALECIMENTO DAS INSTITUIÇÕES
PÚBLICAS que integram o Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama.
"Ao invés de ampla discussão pública, que tanto prega o PT, o governo
restringiu-se aos interessados no assunto, em especial ao Ministério do Meio
Ambiente", desabafa Maria Tereza Jorge Pádua, Fundadora da Funatura e membro da
comissão mundial de Parques Nacionais. Tereza de Pádua afirma que o projeto
parece ter sido "inspirado na moda de criar uma entidade do governo para
manejar de forma empresarial o processo de licitações, concessões e contratos
com o setor privado que aproveita recursos florestais, que são do Estado".
Some-se a isso, o fato de que a experiência internacional de concessões, em sua
grande maioria, não foi bem sucedida. Esses sistemas não serviram para o
governo capturar a renda desejada e também falharam no controle de uma
exploração sustentável da floresta. Nas Filipinas e na Indonésia, por exemplo,
o governo coletou apenas 16,5% e 38,0% respectivamente, das rendas associadas à
extração madeireira. Essa forma de exploração gerou o desaparecimento de grande
parte das florestas tropicais de países asiáticos, como no caso da Malásia e
Indonésia, principais produtores mundiais de madeira tropical.
O Projeto cria também, o Serviço Florestal Brasileiro, uma agência reguladora
disfarçada de autarquia, com a função básica de gerir as concessões florestais
e desempenhar outras funções, hoje da competência do IBAMA. Dessa forma, a
proposta de governo enfraquece, pulveriza e burocratiza ainda mais, a combalida
estrutura institucional responsável pela execução da política ambiental
brasileira. Ao invés de fortalecer e capacitar suas instituições, o governo
dissipa os já escassos recursos financeiros e de pessoal da área ambiental e em
particular, da área florestal, quando a função do Ibama de avaliar, monitorar e
fiscalizar extensas áreas de florestas será arbitrariamente maior, mais
complexa e vai requerer, além de apoio político, uma estrutura institucional
forte e tecnologicamente capacitada. Apesar disso, o projeto destina a quase
totalidade dos recursos para a agência reguladora, ou seja, para o Serviço
Florestal, instituição que de fato não irá realizar esses trabalhos.
Nesse sentido, o analista ambiental e também pesquisador do Laboratório de
Produtos Florestais do IBAMA, Paulo Fontes, alerta para o fato de que as
análises e os estudos solicitados para a concessão, tais como a anuência prévia
do órgão ambiental, inventário florestal das áreas passíveis de concessão,
estudos de viabilidade socioambiental, análise dos planos de manejo e mesmo a
formulação do Plano Anual de Outorga Florestal - PAOF, são trabalhos técnico-
científicos complexos, de longa duração e de custos elevados que requerem
técnicos altamente qualificados, equipes multidisciplinares e que precisam
transpor as dificuldades logísticas da região, no caso da Amazônia, para a
realização dos referidos trabalhos de campo. A não ser que sejam estudos e
análises superficiais ou apenas para cumprirem mera formalidade burocrática.
Na visão da Associação dos Servidores do IBAMA - ASIBAMA, juntamente com mais
de uma centena de ambientalistas reconhecidos em âmbito nacional e
internacional, o Projeto de Lei que cria o Serviço Florestal Brasileiro para
gerir as concessões florestais, na realidade cria um "balcão de negócios" de
terras, de um patrimônio que não pertence a este ou àquele governo: pertence à
nação, ao país, ao povo brasileiro.
https://www.alainet.org/es/node/112829?language=en
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