MAB reage à movimentação do exército em Tucuruí
27/02/2005
- Opinión
O Movimento dos Atingidos por Barragens reagiu à informação de que esquadrões do exército brasileiro com mais de 200 soldados se deslocaram para a região da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, para evitar uma possível ocupação da barragem por parte da população atingida. Segundo Gilberto Cervinski, da coordenação nacional do MAB, o governo federal deveria se preocupar em providenciar solução para os problemas sociais causados pela barragem de Tucuruí, ao invés de posicionar forças do exército para agir contra seu próprio povo. "Nossos companheiros agricultores, sindicalistas e ambientalistas vivem um momento de enorme tensão e medo. Cabe ao exército atuar para conter os fazendeiros, grileiros e madeireiros que ameaçam os trabalhadores", defende o dirigente.
Para Cervinski o tratamento que a população atingida pela Barragem de Tucuruí vem recebendo ao longo dos anos é uma vergonha nacional. "Não é com o exército que o governo irá resolver os problemas em Tucuruí. A população local é vítima de anos de desmando do setor elétrico e merece respeito", conclui.
Construída durante a ditadura militar, Tucuruí está localizada sobre no Rio Tocantins. A Barragem expulsou mais de 32 mil pessoas, além de afetar três áreas indígenas e o sustento de milhares de famílias que viviam da pesca acima e abaixo do lago. As poucas indenizações distribuídas foram insuficientes e mal conduzidas. Segundo relatos da época, agentes químicos chegaram a ser lançados sobre a mata para forçar a saída da população. Vinte mil pessoas acabaram se refugiando na beira do lago e nas ilhas formadas com o enchimento do reservatório, concluído em 1984. Até hoje, os atingidos lutam pela solução dos problemas trazidos por Tucuruí. A crise social agravou-se na região quando as obras da barragem foram concluídas e os trabalhadores demitidos. Cerca de 40 mil pessoas estiveram envolvidas na construção de Tucuruí e hoje estão sem perspectivas.
Além disso, dois terços da energia gerada em Tucuruí destina-se ao abastecimento de quatro indústrias de alumínio, pertencentes a multinacionais norte-americanas e canadenses, instaladas no Pará e no Maranhão. As vinte mil pessoas atingidas que moram nas ilhas e na beira do lago, além de não receberem nada, também não possuem energia elétrica, apesar dos "linhões" de transmissão passarem próximos as suas casas.
A energia que falta na casa das famílias atingidas e de boa parte da população brasileira é distribuída para as multinacionais do alumínio a preços subsidiados pelo Governo Federal. Nos últimos 20 anos, os subsídios na conta de luz das indústrias alcançaram a soma média de 200 milhões de dólares por ano. Se esses recursos públicos fossem destinados à reforma agrária, seria possível assentar 514 mil famílias de trabalhadores rurais.
Segundo Roquevam Alves da Silva, um dos coordenadores do MAB em Tucuruí, o clima é de revolta na região e a presença do exército não deve intimidar a luta por justiça. "Muitos de nós estamos ameaçados de morte pelos madeireiros devido a denúncias de corte ilegal da floresta. Já estivemos em Brasília comunicando ao governo federal essa situação. Queremos a presença do Estado aqui, mas não para reprimir os trabalhadores. Daremos nossa resposta nas ruas", conclui.
O dirigente informa ainda que nos últimos meses a organização dos atingidos tem se fortalecido na região. Isso ocorre especialmente com as proximidades da semana do 14 de março, dia internacional de luta contra as barragens, quando tradicionalmente ocorrem manifestações contra a construção de hidrelétricas no país.
https://www.alainet.org/es/node/111447?language=en
Del mismo autor
Clasificado en
Clasificado en:
![Suscribirse a America Latina en Movimiento - RSS](https://www.alainet.org/misc/feed.png)