Crianças sem terra mantém audiência com Secretário de Educação
12/10/2004
- Opinión
Nesta manhã, o secretario estadual de Educação, José Fortunati
recebeu em seu gabinete, representantes de 650 crianças que
participam do VIII Encontro Estadual dos Sem Terrinha do RS, que
ocorre de 11 a 13 de outubro em Porto alegre. Na reunião, as
crianças divulgaram uma carta à sociedade defendendo a educação
pública no campo.
No encontro, o secretario Fortunati garantiu que as 45 escolas
estaduais existentes nos assentamentos da reforma agrária no
Estado serão fortalecidas. Se dirigindo às crianças, saudou-as
como cidadãs e disse que nunca devem se envergonhar de sua luta.
O deputado Frei Sérgio, que acompanhou a audiência disse
acreditar que a educação no campo possui especificidades que
devem e precisam ser respeitadas, garantindo o direito dos
filhos de agricultores estudarem no meio rural. Além da
secretaria da educação, os sem terrinha também estiveram no
Incra, onde pediram agilidade na reforma agrária no Estado.
Abaixo, segue a íntegra da carta distribuída pelas crianças sem
terra.
Carta das Crianças Sem Terrinha à Sociedade
Nós, crianças de acampamentos e assentamentos do MST
participantes do VIII Encontro Estadual dos Sem Terrinha do RS,
realizado de 11 a 13 de outubro/2004, vimos por meio desta carta
comunicar a sociedade que estamos fazendo uma jornada nacional
de lutas, que tem como lema: \"Educação do Campo: Direito Nosso,
Dever do Estado!\".
Temos nas áreas de acampamento e assentamento escolas que são
fruto de muita luta, que além de ensinar a ler e escrever nos
educa para a vida, valoriza nossos conhecimentos e nossa
realidade. Nossas escolas tem uma proposta pedagógica construída
com a comunidade escolar do campo, tendo uma organização
diferenciada da qual participam pais, mães, educadores e
educandos no desenvolvimento de projetos de preservação do meio
ambiente, de um novo modelo de agricultura camponesa e de
incentivo a atividades culturais como música, dança, teatro,
artesanato.
Queremos continuar a viver e estudar no campo pois lá temos ar
puro, água limpa, nossas famílias produzem nosso alimento
saudável, criamos animais, temos liberdade e espaço para
brincar, desenvolver atividades de lazer e esporte.
Aprendemos com nossas famílias e nas nossas escolas a amar e
respeitar vida, a cuidar da terra e de tudo que há na natureza.
Também aprendemos que para viver bem precisamos cooperar uns com
os outros, ouvir e ser ouvido. Por isso trabalhamos organizados
em núcleos e temos orgulho de participar de um Movimento que
luta por uma sociedade justa e solidária.
Por tudo isso que vivenciamos diariamente em nossos acampamentos
e assentamentos é que repudiamos a reportagem publicada na
Revista Veja (setembro/2004), que passou para a sociedade uma
imagem mentirosa de nossa vida e das nossas escolas.
Infelizmente os grandes meios de comunicação do Brasil, assim
como a terra, estão concentrados nas mãos de pouca gente muito
rica que tenta nos impedir de lutar pelos nossos direitos.
Mas vamos continuar organizados e lutando para que nossas
reivindicações sejam atendidas. Neste VIII Encontro de Sem
Terrinha reivindicamos:
* Terra para todas as famílias acampadas, para que todas as
crianças possam viver e estudar dignamente;
* Infra-estrutura adequada em nossas escolas;
* Educadores habilitados em todas as áreas, comprometidos com
nossos valores e conhecedores da nossa realidade;
* Condições para que a escola itinerante dos acampamentos
possa ter funcionamento regular de qualidade;
* Criação e ampliação de bibliotecas em todas as escolas;
* Ampliação dos prédios escolares para garantir ensino de
qualidade as crianças.
* Aumento das verbas públicas para a manutenção das escolas,
a fim de garantir a efetivação do Projeto Político Pedagógico.
E reivindicamos porque sabemos que a EDUCAÇÃO DO CAMPO É
DIREITO NOSSO E DEVER DO ESTADO.
Acreditamos que todas as crianças devem conhecer seus direitos e
se organizarem para reivindicá-los, pois só assim seremos
sujeitos de nossa própria história e teremos condições de
construir um futuro digno para nosso país.
(12 de outubro)
https://www.alainet.org/es/node/110730?language=es